Às vésperas do Natal, campo-grandenses relatam longa espera em aplicativos de transporte

Enquanto associação defende que serviço será mais rápido e eficiente no fim do ano, usuários reclamam de demora e preços altos

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Transporte por aplicativo
Transporte por aplicativo (Foto: ilustrativa/ Reprodução/Arquivo)

Imagine a seguinte situação: você tem um compromisso com horário marcado e decide usar o transporte por aplicativo pela agilidade que promete. No entanto, você acaba se deparando com longas esperas para achar carro, preços bem acima do esperado e frustrações constantes pela ineficiência do serviço.

Esta é a realidade que muitos campo-grandenses vivem ao usar a modalidade na Capital desde a última semana. Às vésperas do Natal, quando a cidade está cheia e a demanda alta, usuários relatam serem deixados de lado. A espera por um veículo pode ultrapassar 30 minutos e, às vezes, nem sequer localiza um motorista.

A vendedora Maria Vitória Freire é usuária assídua dos aplicativos de transporte, mas afirma que recentemente abriu mão do conforto para usar os ônibus da cidade. O motivo seria o valor cobrado pelas plataformas. 

“O horário que a gente mais precisa geralmente é quando está mais caro. O trabalhador brasileiro sai às 18h da tarde e tem que pagar R$ 30 reais no app pra ir embora para casa, que é praticamente o preço da diária dele”, ressalta. 

Questionada se pretende usar o serviço por aplicativo no fim de ano, ela explica que está com medo de ser deixada na mão por falta de frota ou acabar pagando um valor muito alto.

“Já teve uma viagem do Tiradentes para o Carandá Bosque, que não é longe, foi R$ 50 reais para ir embora numa virada de ano. Então, com certeza vai ser um desafio usar esse serviço agora. Já não tem muito carro né, então vai ser um desafio, sim. Quando a viagem estiver barata no app, pode esperar sentado”, reflete.

“Prefiro ir de ônibus”

O mesmo é apontado pela estudante Bárbara Silva, de 24 anos, que afirma ter parado de usar transporte por aplicativo devido às dificuldades encontradas.

“Toda vez que eu preciso, o serviço é ruim porque fica um tempão tentando achar um motorista, quando acha ele não aceita viagem e, quando aceita viagem, é super caro. É bem complicado pra quem depende disso todo dia”, explica.

Por isso, neste fim de ano, ela vai deixar os aplicativos de lado para pegar carona.

Ta faltando carro?

Na avaliação dos entrevistados, essas dificuldades são motivadas por vários fatores. Enquanto, por um lado, tem muito motorista trabalhando neste período, há também elevada taxa de cancelamento, o que resulta na demora para encontrar uma viagem.

Outros acreditam que a alta demanda e a preferência dos motoristas por corridas curtas – supostamente mais viáveis para os parceiros das plataformas – resultam na longa espera por um veículo nos dias que antecedem o natal.

Para o publicitário Felipe Jorge, a maior dificuldade nas plataformas de transportes são os preços elevados neste período. Ele afirma que também percebeu aumento de motoristas iniciantes que entraram para o segmento nos últimos três meses, motivados pela renda extra de fim de ano.

“No começo e meio do ano eu senti bem a demora e os cancelamentos. Demorava às vezes de 15 a 30 minutos para achar uma corrida, mas creio que por ser fim do ano e ter mais gente pedindo devido às datas festivas, eu não senti dificuldade em achar, mas os preços estão um pouco mais caro do que antes”.

O jovem inda ressalta ter encontrado muitos motoristas iniciantes nos últimos meses.

“O que eu senti foi cada vez mais motoristas iniciantes, principalmente nesses últimos três meses, o que não é ruim por si só, mas mostra que provavelmente cada vez mais pessoas tem entrado no aplicativo como uma busca de fazer uma renda extra ou até mesmo como a renda principal delas”, continua o publicitário.

Só em 2022, ele já fez 136 viagens por aplicativo, como passageiro, e afirma ter passado por problemas em apenas 20% delas.

No caso da campo-grandense Ana Beatriz Vicentini, de 24 anos, que veio de São Paulo para passar o Natal com a família na Capital, a opinião é positiva quanto ao serviço prestado.

“Eu não estou achando nada demorado. Aqui em Campo Grande o transporte por aplicativo está melhor do que em São Paulo em relação a tempo de espera. Todos os que eu pedi vieram em menos de cinco minutos, mas tem a questão de tudo aqui ser mais perto. Já o preço acho normal”, diz.

O que se sabe é que falta de veículos, sobretudo em períodos de alta demanda e nos horários de pico, sofre interferência de diversos fatores, como valor da corrida, origem e destino. Assim, a alta de novos motoristas nas plataformas é percebida também pela categoria.

‘Mixaria’ para ficar longe da família

Um dos aspectos que pode ter influência na longa espera por veículos é que transportar passageiros em alguns horários ou circunstâncias basicamente não é atraente para os parceiro. Como o motorista de aplicativo Michael Chamorro, de 37 anos, para quem as expectativas de ganho para o Natal e Ano Novo não são boas justamente porque está ganhando pouco com as corridas. 

“Há quatro anos como motorista, esse foi o pior ano de todos, nem na pandemia foi ruim assim. Com a baixa da gasolina, muitos motoristas novos entraram. Com isso a demanda diminuiu e consequentemente os preços caíram muito também. Hoje me sinto humilhado! Meu carro é 2022, mas se eu pego uma pessoa no bairro pro centro, ganho 16 reais”, pontua o motorista. 

Michael ainda explica que os aplicativos mudaram o preço dinâmico, o que resultou na queda da renda da categoria. Por isso, ele é criterioso ao afirmar que não vai trabalhar no Natal deste ano porque tem muito motorista a preços baixos. 

“Teve um Natal que corridas de 10km você ganhava 100 reais. Hoje 10km é R$ 20. Não compensa largar a família pra ficar ganhando mixaria. Trabalhei 3 finais de ano seguidos, esse não vou sair de casa, não”, afirma. 

Ajuda, mas não dá muito dinheiro

Há três anos trabalhando como motorista de forma efetiva, Sandra afirma ao Jornal Midiamax que agora só liga o aplicativo aos fins de semana para conseguir uma renda extra. Para ela, muita coisa mudou desde quando iniciou nas plataformas. 

Apesar de aproveitar a véspera e o dia de Natal para fazer algumas corridas em Campo Grande, ela afirma que a demanda caiu muito. Além disso, quem vive só dessa renda precisa ‘ralar muito’.

“Não está tendo demanda porque está tendo muito motorista, então pra gente acaba diminuindo. Além disso, muitos cancelamentos acontecem por causa do valor”.

Isso gera sentimentos de incertezas para os usuários que pretendem usar o serviço no fim de ano. No entanto, conforme a associação que defende a categoria, campo-grandense podem esperar por atividades mais eficientes nos próximos dias.

Como ficam os consumidores?

Paulo Pinheiro, presidente da APLIC (Associação dos Parceiros de Aplicativos de Transporte de Passageiros e Motoristas Autônomos de Mato Grosso do Sul),  pontua que, neste fim de ano, os usuários de transporte por aplicativo podem esperar um atendimento mais rápido e eficiente.

“Com o valor do combustível um pouco mais barato devido a diminuição dos valores cobrados por parte do governo federal, valerá a pena atender a população”, comenta. 

Ele ainda ressalta a possibilidade no aumento do ganho do motorista tendo em vista que os aplicativos vão funcionar com a tarifa dinâmica. “Com o valor do combustível um pouco mais barato devido a diminuição dos valores cobrados por parte do governo federal, valerá a pena atender a população”, comenta. 

Transporte público no fim de ano

Se você pretende se deslocar por meio de ônibus nos próximos dias, precisa ficar atento(a). A Agetran (Agência Municipal de Trânsito) ressalta que o transporte público de Campo Grande funciona com operação especial de fim de ano. Ou seja, novos ajustes nos horários das frotas podem surgir a qualquer momento.

O Consórcio Guaicurus também informou ao Midiamax que, neste período de fim de ano, é comum dos ônibus terem alterações, por isso os usuários do transporte público devem acompanhar o site, que atualiza automaticamente em caso de mudanças, antes de sair de casa.

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