Um dos primeiros impactos da forte cheia no Pantanal vai ser sentido nos próximos dias no bolso dos corumbaenses. O preço da carne pode ficar mais caro com o produto sendo reajustado ainda em março. “Acredito que até o final do mês vamos ter algum aumento no preço da carne nos açougues e mercados”, disse o presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Raphael Domingos Kassar, a este Diário. Os percentuais de aumento ainda não são possíveis precisar.

De acordo com o dirigente sindical, em função da chegada rápida da cheia na planície pantaneira que impediu a transferência do rebanho para áreas mais altas, deixando uma imensa maioria de cabeças de gado ilhada, é praticamente certo que os prejuízos da pecuária refletirão no orçamento doméstico.

“Com certeza, o impacto é muito grande. A planície pantaneira de Mato Grosso do Sul é a grande fornecedora da matéria-prima, que são bezerros e boi magro. Vamos ter uma queda muito grande na produção e isso vai refletir durante esses quatro, cinco anos até recuperarmos. A pecuária é um ciclo longo, diferente da agricultura”, complementou Kassar.

O parecer técnico da Embrapa Pantanal sobre a evolução da cheia de 2011 no Pantanal Sul e os impactos para a pecuária nos seis principais municípios da região da planície pantaneira sul-mato-grossense – Corumbá; Coxim; Rio Verde; Aquidauana; Miranda e Porto Murtinho – estima prejuízos de quase R$ 200 milhões com a cheia dos rios. Juntas, essas cidades têm rebanho com 2.420.702 reses [sendo 1,9 milhão de cabeças só em Corumbá].

De acordo com relatório, as perdas são divididas em vários setores do processo produtivo. Só com a quebra na produção o prejuízo financeiro é calculado em R$ 13.934.200. Há ainda perda com diminuição na taxa de natalidade, avaliada em torno de 10% do rebanho, com isso são mais R$ 24,5 milhões perdidos. Também entrou no cálculo a morte de bezerros nascidos, em que se estima perder R$ 13,7 milhões levando-se em consideração a taxa de 10%. O montante chega aos R$ 190 milhões quando entram na balança as perdas médias de peso das matrizes de cria. São estimados, nesse quesito, um total de R$ 139.782.720 em prejuízos.

Todo esse conjunto de fatores contribui para que a carne chegue mais cara na mesa do consumidor. “A tendência é aquela famosa lei da economia, da oferta e procura. Como vai cair a oferta e aumentar a demanda, consequentemente o preço vai subir”, complementou o presidente do Sindicato Rural de Corumbá.

Estiagem elevou preços ano passado; pesquisa acompanhou variações

Com o possível aumento no preço, a carne vai interromper uma sequência de três meses sem grandes sobressaltos nos açougues e supermercados da cidade. Pesquisa do curso de Ciências Econômicas da Faculdade Salesiana de Santa Teresa sobre o valor mensal da cesta básica em Corumbá acompanhou a evolução nos últimos cinco meses.

Em outubro do ano passado o preço da carne disparou e registrou alta de 29,55% na cidade, segundo o levantamento acadêmico. Entre os motivos apontados para a alta estavam o período de estiagem mais prolongado; pastos secos e sem condições para o gado se alimentar e redução na criação por conta desses dois fatores. A adversidade climática e a diminuição de animais no mercado, então, fizeram com que o preço automaticamente se elevasse.

Já nos meses seguintes houve recuo. Em novembro de 2010, o aumento foi bem menor, de 1,71%. Dezembro registrou a maior queda no valor, com o preço da carne caindo 11,71%. Já em 2011, a pesquisa do curso de Ciências Econômicas constatou redução de 3,58% em janeiro e um discreto aumento de 0,86% no valor da carne em fevereiro.