Comprar televisão, computador e telefone celular – os chamados bens duráveis – está mais barato no Brasil graças à queda do dólar.

Entre janeiro e setembro deste ano, o dólar acumula queda de 2,93%. Neste período, os aparelhos de videogame, por exemplo, ficaram 9,67% mais baratos, segundo uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), feita com base no Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

Ainda de acordo com a pesquisa da FGV, tiveram reduções maiores que a desvalorização do dólar no período os televisores (-8,23%), os celulares (-5,19%) e os aparelhos de som (-3,97%). No mesmo período analisado, a inflação pelo IPC acumula alta de 3,82%.

“Isso (a queda de preços) é visível em produtos que têm importação maior, como celulares, laptops, tevês de alta tecnologia, videogames. Estes itens de fato estão ficando mais baratos”, explica André Braz, economista da FGV.

Ele destaca, porém, que não é só o câmbio que influencia o preço de um produto. O mercado é regido pela lei da oferta e da procura. É isso que justifica, por exemplo, o fato de o pãozinho francês, o macarrão e bolachas estarem mais caros – ainda que sejam produtos que levam em sua composição o trigo, que é, em grande parte, importado.

A seca em importantes regiões agrícolas, no entanto, reduziu a oferta do cereal no mercado, pressionando para cima o valor desses produtos. “Parte deste aumento poderia ter sido ainda maior se não fosse a valorização do real”, lembra o economista da FGV.

“A apreciação do real está contribuindo para evitar um avanço da inflação”, diz a economista Ariadne Vitoriano. Braz, da FGV, diz que o câmbio não representa um problema para a inflação em 2010, nem em 2011. “No caso da inflação, não há possibilidade de haver pressão por conta de câmbio.”

Influências
Quando o dólar se desvaloriza, a queda nos preços nem sempre é sentida de maneira tão automática também por outro motivo: o estoque. “Demora para acontecer o repasse porque tem estoques que foram feitos com o preço antigo”, diz Braz.

Embora o governo venha tomando medidas para evitar a valorização do real frente o dólar, o economista acredita que a tendência seja a moeda americana manter-se no patamar de R$ 1,70 ou até um pouco abaixo. “O país está crescendo, a taxa de juros é interessante, passou a ser credor do Fundo Monetário, tem toda uma condição que favorece a valorização do real.”

Se esta cotação se confirmar num período mais longo, a tendência, na opinião de Braz, é o consumidor assistir a preços cada vez mais baixos.

A economista Ariadne lembra que a queda do dólar é sentida primeiramente nos preços ao atacado. “O varejista pode escolher se ele vai repassar isso para o consumidor ou não. Em caso de incerteza se a queda vai se manter, ele pode escolher não repassar”, diz.

Viagens
Outro segmento também favorecido pela queda do dólar é o de viagens internacionais, lembra o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti. “Quem quiser hoje viajar para os Estados Unidos tem dificuldade [em encontrar passagens, devido à alta demanda]. O preço está altamente atraente”, diz. “É mais barato que viajar para o Nordeste, por exemplo.”

O lado negativo da queda do dólar é o fato de tornar os produtos brasileiros menos competitivos no exterior. Cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do país vêm das exportações, segundo André Braz.

No caso de máquinas e equipamentos, está mais fácil importar do que produzir aqui dentro. Vertamatti teme que isso possa provocar a substituição da produção local pela importação. “O Brasil está transferindo a mão de obra lá para fora.”

O economista explica que além do cenário interno neste momento favorecer a depreciação do dólar, há ainda uma componente internacional. A moeda americana está desvalorizada no mundo, em comparação com várias outras moedas. “Isso preocupa porque este desequilíbrio pode prejudicar os paí em desenvolvimento, em especial o Brasil. A China não deixa sua moeda flutuar e isso desequilibra o sistema no mundo inteiro.”

Intervenções
Para tentar diminuir a entrada de dólares no Brasil e, assim, frear a valorização do real, o governo tem anunciado uma série de medidas. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), por exemplo, subiu de 2% para 4% para investimentos estrangeiros em renda fixa. Na quarta-feira (6), o Tesouro ganhou permissão para comprar mais dólares no mercado. Na quinta-feira (7), uma nova resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) criou um mecanismo para impedir que os estrangeiros migrem da renda variável para a renda fixa, como forma de fugir da nova taxação do IOF.

Para Vertamatti, todas essas medidas funcionam como “paliativos”. O Brasil, na análise do executivo, precisa lidar com questões mais estruturais. “O que o Brasil precisa fazer – e isso é a médio e longo prazo – é baixar os juros, que são um dos mais altos do mundo. Tem que mexer no gasto público que está muito alto, precisa fazer as reformas Fiscal e Previdenciária”, avalia.
“Não recomendo nenhuma intervenção heterodoxa no dólar. Nossa economia vem estruturada. (…) Mexer na moeda vai desequilibrar nossa economia”, conclui Vertamatti.