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Cotidiano

Revolta e pesar marcam velório de jornalista assassinada por ex-parceiro em Campo Grande

Velório é realizado na Câmara de Campo Grande. Após a despedida, corpo de Vanessa Ricarte será trasladado a Três Lagoas
Guilherme Cavalcante, Jennifer Ribeiro -
Velório Vanessa Ricarte
Velório de Vanessa foi realizado na Câmara de Campo Grande; corpo foi sepultado em Três Lagoas. (Madu Livramento, Midiamax)

Independente, excelente profissional, bem-sucedida, uma boa amiga, dona de um sorriso largo e acolhedor, impossível de ser descrito. Durante velório, na tarde desta quinta-feira (13), relatos que ecoavam na Câmara de Vereadores de descreviam Vanessa Ricarte como um ser raro, o que faz de sua partida uma perda inestimável.

Jornalista e servidora pública, Vanessa faria 43 anos nos próximos dias, mas morreu pelas mãos do ex-parceiro Caio Cesar do Nascimento Pereira, na última quarta-feira (12). Ele foi preso em flagrante pelo crime de feminicídio, cometido após a vítima solicitar medida protetiva e ter deixado a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) para resgatar pertences em casa.

Contudo, os relatos também foram marcados por sentimento de revolta e impotência. A cada depoimento, a descrição da admiração pela jornalista ganhou contraste com sentimentos de injustiça e profundo pesar. Como o jornalista Renan Nucci, com quem Vanessa manteve relacionamento por muitos anos, que descreveu a morte da servidora pública como um “soco no estômago”.

“Não consigo imaginar minha história em Campo Grande sem ela. Nós nos conhecemos em 2015, logo que cheguei aqui. Parte desse período vivemos um relacionamento, que foi muito feliz, mas que culminou em cada um seguindo seu caminho, sem perder o carinho e a admiração mútua. Ela era muito competente no aspecto profissional, me ajudou muito a subir meu nível, me inspirou, era sensacional… Era alguém que estava sempre um passo a frente. Difícil achar palavras para descrever como me senti amado por ela. Ela conseguia tocar nosso coração de uma forma diferente. Mesmo após terminarmos, sempre houve muito carinho entre nós. É um soco no estômago, ninguém se preparou para enterrar a Vanessa, é algo que dói demais”, relatou.

Velório Vanessa Ricarte
Renan Nucci, ex-namorado e amigo de Vanessa (Madu Livramento, Midiamax)

“Lembro da Vanessa como uma pessoa totalmente espirituosa, que abraçava as causas que acreditava, que inspirava as mulheres que iam aos nossos encontros sobre empreendedorismo feminino. Para nós, foi um choque, principalmente por ser uma pessoa que falava abertamente sobre a proteção e protagonismo das mulheres. Uma surpresa muito triste saber que uma mulher que defendia tudo isso foi vítima da covardia de uma forma tão terrível”, falou Jô Castro, parceira profissional da jornalista.

Assim como Nucci, a amiga Alessandra Izaac também externou revolta durante o velório. “Sonhos cortados por um covarde que precisa ir a júri popular. Uma menina boa, não há justificativa, ela não merecia isso. Ele precisa ir a júri popular e a Vanessa não pode ser apenas um dado estatístico. Ela foi negligenciada e provar. Vanessa não teve culpa de nada, foi uma vítima de um covarde”, disse.

Velório Vanessa Ricarte
Alessandra Izaac, amiga de Vanessa (Madu Livramento, Midiamax)

“Hoje a vítima foi a nossa amiga, quem será amanhã?”

Depoimento da também jornalista Marcia Scherer destacou sonhos interrompidos pela tragédia e a importância de políticas públicas que efetivamente protejam mulheres da violência de gênero.

“Saber que todos os dias isso acontece com uma família, um grupo, uma cidade… Filhos que perdem as mães, amigos que perdem as amigas, pais que perdem as filhas… Hoje foi a Vanessa, a nossa amiga. Amanhã pode ser a nossa outra amiga. Pode ser qualquer uma de nós. Entendo que nós, mulheres, já fizemos praticamente tudo o que a gente podia fazer. Tem que partir dos homens. Está na hora dos homens fazerem alguma coisa e de cobraram os seus colegas e seus amigos”, pontua.

A cantora Marta Cel, que já trabalhou com Vanessa, revelou que já conhecia a reputação do assassino e pediu rigidez no cumprimento das leis. “Receber essa notícia foi muito triste, revoltante. Convivi com o assassino, ele gravou até músicas comigo em 2015, e havia percepção do comportamento dele. Tentamos alertar a Vanessa antes do início do relacionamento, mas cheguei a ser intimidada por ele por isso, fiquei em choque pelo tom ameaçador. Espero que haja mais rigidez no cumprimento das leis, havia histórico do passado do assassino”, pontuou.

Realizado nesta tarde, o velório de Vanessa Ricarte antecede o traslado até Três Lagoas, onde o corpo será sepultado em jazigo familiar. O corpo da jornalista ainda é aguardado na Planária Oliva Enciso, na Câmara de Campo Grande.

11 registros de violência doméstica e ex-espancada

Caio do Nascimento Pereira, feminicida no caso da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, morta a facadas em sua casa nesta quarta-feira (12), em Campo Grande, acumulava 11 registros por . Ele foi preso e levado para a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Vanessa é a primeira vítima de feminicídio em Campo Grande, e a segunda no Estado em 2025.

Os boletins de ocorrência de violência doméstica começaram a ser registrados em 2020. Em um dos casos, uma ex-namorada foi parar na Santa Casa depois de ser agredida pelo músico. A ex-namorada agredida teve queimaduras no rosto e braços, do que parecia ser fricção no asfalto.

Caio havia ameaçado Vanessa de morte um dia antes (Redes Sociais)

Outra ex-companheira de Caio registrou vários boletins de ocorrência contra ele. Em um deles, de 2024, a vítima disse que conviveu maritalmente com Caio por 1 ano, e que sofria violência psicológica. A mulher havia solicitado medidas protetivas contra o músico.

Em 2023, ele teve outro registro na Deam por violência psicológica contra mulher. Em fevereiro de 2023, a ex-mulher de Caio procurou a Deam depois de ser sistematicamente perseguida por ele. Na época, ele contou na delegacia que conviveu com o autor por aproximadamente 11 anos, sendo que terminaram o relacionamento há cerca de 2 anos e meio.

Feminicídio de Vanessa

A jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, servidora pública que trabalhava no MPT-MS (Ministério Público do Trabalho em ), morreu na Santa Casa de Campo Grande na noite desta quarta-feira (12), vítima de feminicídio.

Ela foi esfaqueada em casa, no Bairro São Francisco, pelo companheiro, o músico Caio Nascimento, preso em flagrante logo após o crime. Vanessa foi esfaqueada três vezes na região do tórax e depois levada em estado gravíssimo à Santa Casa, mas não resistiu aos ferimentos.

Na madrugada de quarta-feira (12), Vanessa chegou a ir até a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), acompanhada de um amigo, para registrar um boletim de ocorrência por agressão contra Caio.

No período da tarde, ela foi até sua casa, acompanhada do mesmo amigo, para pegar seus pertences. Chegando à residência, ela foi esfaqueada no peito por Caio.

O Corpo de Bombeiros foi acionado, realizou os atendimentos e a encaminhou para a Santa Casa, onde faleceu na noite desta quarta. A Polícia Militar foi acionada e prendeu Caio em flagrante na residência.

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