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Cotidiano

Consórcio Guaicurus ‘afugentou’ 14 mil passageiros e tirou 35 ônibus das ruas de Campo Grande

Especialista nacional critica modelo de gestão que prioriza realização de obras e esquece da qualidade do serviço
Priscilla Peres - Publicado em
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Ônibus em bairro de Campo Grande (Foto: Nathalia Alcântara, arquivo Jornal Midiamax)

O transporte público de Campo Grande, administrado desde 2012 pelo Consórcio Guaicurus, é uma verdadeira novela, de enredo fraco e desfechos previsíveis. Ao longo dos anos de concessão e serviço precário, 14 mil passageiros abandonaram o transporte público, e ao invés de investir em gestão e qualidade, o Consórcio Guaicurus tirou mais de 30 ônibus de circulação e pressiona por reajustes.

Informações contidas na Política Municipal de Mobilidade e Acessibilidade Urbana, mostram o reflexo do descaso do serviço do Consórcio Guaicurus com a população. Em apenas dois anos após o início da concessão, o número de passageiros pagantes começou a cair. Dos 56,6 mil passageiros que iam e vinham de ônibus em 2012, apenas 42,5 mil resistiram ao transporte até 2019.

A redução no volume de passageiros pagantes caiu 25% em sete anos de concessão. De olho no lucro, o Consórcio Guaicurus retirou mais de 30 ônibus de circulação entre 2017 e 2019, prejudicando ainda mais a população.

Os dados ainda mostram que dos 587 ônibus em circulação em 2017, o número caiu para 552 em 2019, ano antes do início da pandemia de Covid-19. Em 2020, caiu para 544 o número de ônibus em circulação e, até hoje, quase cinco anos depois, a população ainda denuncia que as linhas não foram retomadas pós-pandemia.

Empresas priorizam obras e esquecem dos passageiros

Especialista nacional em mobilidade urbana é categórico ao afirmar que, sem investimento em qualidade do serviço, o transporte público está fadado ao fracasso. Exatamente o que ocorre em Campo Grande, onde o transporte precário ‘afugenta’ passageiros e gera problema infinito.

Corredor de ônibus sudoeste. (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

O engenheiro Carlos Batinga, que integra a Associação Nacional de Transportes Públicos, conversou com o Jornal Midiamax sobre o transporte público de Campo Grande e foi crucial: “Executivos não investem em gestão do serviço e são voltados apenas para obras, sem pensar em qualidade”.

O que ocorre em Campo Grande é grave, mas reflexo da falta de vontade política em melhorar o transporte público. Com o serviço capenga, passageiros desistem do transporte público, a arrecadação de empresas cai, investimentos deixam de ser feitos e brigas judiciais se arrastam por reajustes da tarifa.

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O especialista critica o modelo de gestão do transporte público atual, que prioriza investimentos em obras. É justamente o que se vê em Campo Grande. Obra milionária dos corredores de ônibus se arrasta há anos, colecionando acidentes e transtornos. Enquanto isso, ônibus sucateados, com transporte ineficaz é o que resta para a população.

“Não adianta discutir transporte se o principal não for qualidade. A visão imediatista de gestores faz o transporte virar um palanque eterno. É preciso uma política federal, com gestão forte municipal e que, de fato, priorize um serviço de qualidade, o que não acontece atualmente”, afirma o engenheiro Carlos Batinga.

Pressão por reajuste

Todos os anos, o Consórcio Guaicurus trava batalhas judiciais pelo reajuste da tarifa de ônibus de Campo Grande. Neste ano, a situação não é diferente e a batalha se arrasta há meses, com novo reajuste previsto para as próximas semanas.

Decisão do juiz, do dia 10 de janeiro, negou pedido do Consórcio para que a tarifa técnica seja reajustada de R$ 5,95 para R$ 7,79. No entanto, deu prazo de 15 dias para a prefeitura promover o aumento do passe do ônibus.

A nova tarifa do ônibus deve ser anunciada ‘nos próximos dias’ pela prefeita Adriane Lopes (PP), mas a Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) já iniciou processo para refazer todos os cálculos.

Atualmente, o valor do passe de ônibus em Campo Grande é R$ 4,75. A Agereg ‘bateu o martelo’ sobre o valor em março do ano passado. Por isso, o novo valor ainda pode demorar alguns meses para ser definido.

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