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Cotidiano

VÍDEO: Aumenta tensão em área de ocupação indígena após suposto furto cometido por fazendeiros em Douradina

Vídeo vazado mostra supostos proprietários rurais furtando pertences de indígenas
Liana Feitosa - Publicado em
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Produtores estão sendo acusados de furto em área de ocupação (Reprodução - redes sociais).

Neste domingo (21), a situação continua tensa na área ocupada em Douradina, a 192 quilômetros de Campo Grande, onde indígenas enfrentam cerco de fazendeiros desde o dia 14 deste mês.

A área é uma parte da Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica, em Douradina, que está demarcada desde 2011. Segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), no local estão cerca de 100 indígenas.

“Ontem (sábado), na presença das autoridades, os fazendeiros estavam falando em civilidade, em resolver as questões dentro dos conformes legais e que os indígenas tinham que desocupar, enfim, com tom manso. Mas os mesmos fazendeiros que estavam lá, foram vistos furtando pertences dos indígenas”, conta o coordenador do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), Matias Benno.

Segundo ele, foi vazado um vídeo em que supostos proprietários rurais aparecem registrando o furto de pertences de indígenas. 

“Então é isso que eles estão fazendo, assim, uma atitude nada ordeira e, ainda mais, criminosa, né?”, completa Matias.

Situação no sábado 

Neste sábado (20), fazendeiros teriam montado um paredão com veículos para intimidar a comunidade, um dia após um ser ferido a tiro, atingido de raspão. Cerca de 20 caminhonetes foram colocadas lado a lado em uma formação de paredão em frente a área ocupada.

Ainda na manhã esteve presente uma viatura da Força Nacional, que diante da situação, teria alegado que não dá conta da situação, conforme Matias.

“Estamos acompanhando desde o início da retomada. É uma situação muito delicada. Nos últimos dias eles têm continuado a denunciar os ataques. Ontem houve tiros e fogo ateados por fazendeiros. Um jovem, que não teve a identificação revelada, foi atingido de raspão por um dos tiros. Hoje os fazendeiros armaram estratégia de guerra e a Força Nacional disse que não tem como segurar a situação”, explicou.

O que preocupa também, segundo Benno, é que a Polícia Militar teria sido acionada para auxiliar na situação. “A PM não tem competência para atuar em situações que envolvem indígenas e como há a questão do Marco Temporal, também não pode haver despejos”, disse, completando ainda que foi acionado o jurídico que informou que não há pedidos de reintegração de posse.

Em vídeo, enviado pelo Midiamax, é possível ver um grupo de indígenas conversando com um agente da Força Nacional, um deles pede ao agente para que desarme os fazendeiros.

Situação no domingo

“Ademais assim, depois de uma situação muito tensa de ameaça à vida dos indígenas por parte dos fazendeiros (neste sábado), hoje de manhã uma pequena trégua, mas com essa inflamação dos fazendeiros, porque é isso que incita processos no território”, analisa o coordenador.

“Os indígenas não estão furtando coisas da fazenda, não estão furtando animais, não estão destruindo cercas como eles (fazendeiros) alegaram, não foram os indígenas que colocaram fogo, mas do outro lado, os fazendeiros estão tomando atitudes temerárias, que podem inflamar um processo”, detalha Matias. 

“Mas, enfim, as coisas estão semi-apaziguadas até segunda ordem, até segunda-feira (22), quando terá uma reunião mediada pelas Forças do Estado para tentar chegar em algum termo sobre o processo da retomada”, detalha o coordenador do Cimi.

Indígenas Guarani e Kaiowá retomavam parte do território em Douradina na madrugada de domingo (14) quando houve um ataque que deixou um indígena ferido. Os indígenas da organização Aty Guasu contam que estavam em uma estrada em frente à aldeia.

“Não provocamos eles. Estávamos fazendo nosso protesto e o fazendeiro passou por nós e atirou”, publicou o líder Guyra Kambiy Ezequiel.

Acionada pelo Jornal Midiamax, a Polícia Federal informou que deu início a fase investigatória para o esclarecimento dos fatos e que acompanha o conflito no local com a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e MPF (Ministério Público Federal).

Demarcada desde 2011

Alvo da retomada, a Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica é uma terra oficialmente reconhecida, identificada e delimitada com 12,1 mil hectares desde 2011. Seu processo de demarcação, contudo, está paralisado por conta de medidas que tentam instituir a tese do Marco Temporal.

Segundo nota da Aty Guasu, em represália à retomada, durante a tarde de domingo, os indígenas foram atacados por fazendeiros da região, que invadiram a comunidade em bando. Durante o ataque denunciado, no tekoha Guayrakamby”i, o indígena foi alvo de tiros, ficando ferido na perna.

Em 2015, segundo os indígenas, o mesmo grupo de fazendeiros atacaram a comunidade de Guyrakamby”i.

Na ocasião o MPF (Ministério Público Federal) interveio no conflito. “Nossa área do Lagoa Rica está delimitada, porém nunca foi entregue a nós. Retomamos para garantir a vida do nosso povo, mas agora estamos temendo a morte”, finaliza.

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