Pantanal reduziu área alagada em 61% nos últimos anos, mostra estudo do MapBiomas

Estudo revela que seca é resultado de uso antrópico maior em 38 anos

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Pantanal projeto lei
Pantanal poderá ter legislação de preservação. (Foto: Gustavo Figuerôa/SOS Pantanal)

O Pantanal já vivenciou períodos de seca intensa no passado e isso é um fato. Mas as áreas alagadas estão diminuindo sistematicamente e é nesse ponto a maior preocupação de ambientalistas, pois nesse cenário, o fogo é muito mais avassalador sobre a área nativa.

Levantamento do MapBiomas mostra que, em 2023, o Pantanal registrou 3,3 milhões de hectares de área alagados, 38% mais seco que 2018, quando ocorreu a última grande cheia do bioma, que cobriu 5,4 milhões de hectares. Mas mesmo a área alagada de 2018 já era 22% mais seca que a de 1988 (primeira grande cheia da série histórica).

Em 2023, a redução de água foi de 61% em relação à média histórica (1985 a 2023). As áreas alagadas por mais de três meses no ano também apresentam tendência de redução. Na prática, o bioma está alagando uma área menor e ficando seco por um período maior no ano.

E se tem seca, tem fogo. Para o MapBiomas, é preciso avaliar o cenário atual antes de comparar. “O Pantanal já experimentou períodos secos prolongados, como nas décadas de 1960 a 1970, mas atualmente outra realidade, de uso agropecuário intensivo e de substituição de vegetação natural por áreas de pastagem e agricultura, principalmente no planalto da BAP, altera a dinâmica da água na bacia hidrográfica”, explica Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do bioma Pantanal no MapBiomas.

Crescimento do uso antrópico

Se em 1985 o uso antrópico das terras da BAP correspondia a 22% do total, no ano passado esse percentual já alcançava 42%. O planalto da BAP tem 83% de todo o uso antrópico da BAP e, entre 1985 e 2023, foram convertidos para pastagem e agricultura 5,4 milhões de hectares, dos quais 2,4 milhões de hectares eram florestas e 2,6 milhões de hectares eram formações savânicas.

O principal uso antrópico do planalto da BAP é a pastagem, que responde por 77% do total ou mais de 11,4 milhões de hectares, seguido pela agricultura e mosaico de usos, que juntos representam 20% (3,1 milhões de hectares) do uso antrópico na BAP.

Na planície, a perda de áreas naturais foi menos intensa e mais recente. Ao todo, foram suprimidos 1,8 milhão de hectares de vegetação natural entre 1985 e 2023, dos quais quase 859 mil hectares de formação campestre e campo alagado, 600 mil hectares de savana e 437 mil hectares de floresta. Entre 1985 e 2023, as pastagens exóticas na planície pantaneira passaram de 700 mil hectares para 2,4 milhões de hectares, aumentando justamente sobre as áreas naturais suprimidas.

Mais da metade (55%) do aumento da pastagem exótica na planície ocorreu nos últimos 23 anos. Na planície pantaneira, 87% das pastagens exóticas apresentam baixo e médio vigor vegetativo. “A substituição de áreas de formação campestre e campo alagado por pastagens exóticas na planície exige estratégias de manejo adaptadas às condições específicas de solo e à sazonalidade dos pulsos de inundação”, lembra Eduardo.

Pantanal pode acabar?

Para entender sobre o possível fim do Pantanal precisamos relembrar qual a principal característica do bioma. A água. O Pantanal é uma planície alagável, formada por várias lagoas e com um regime de chuvas e secas historicamente bem definido. Porém, em 2024 o bioma está seco, sem cheia, sem lagoas, sem navegação e com muito fogo. Conforme os ambientalistas, este é um exemplo de como o Pantanal pode acabar.

As mudanças climáticas levaram o Brasil a vivenciar, em 2024, a pior seca de sua história. Não houve período de cheia, o Rio Paraguai atinge níveis extremamente baixos e os incêndios se alastram por Mato Grosso do Sul, na contramão de tudo o que o bioma representa.

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