Funcionários denunciam call center de Campo Grande por controle ao uso do banheiro

Empresa já foi condenada a pagar indenização a funcionários por assédio moral em 2021

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Call center (Foto: Arquivo, Midiamax).

Funcionários da empresa de call center Tahto, localizada na Vila Rica, região norte de Campo Grande, estão sofrendo ameaças de chefes por se ausentarem por alguns minutos do trabalho para usar o banheiro. A prática não é permitida, já que a restrição ao uso de banheiro fere o princípio da dignidade da pessoa humana e ofende a honra subjetiva do trabalhador.

Não é a primeira vez que o problema é registrado. Em outubro de 2021, a empresa foi condenada a pagar indenização em razão de assédio moral organizacional contra funcionários.

Na época, a decisão, da 7ª Vara do Trabalho de Campo Grande, condenou a operadora, na época sob o nome de Brasil Telecom Call Center S.A., ao pagamento de R$ 300 mil em indenizações por danos causados à sociedade.

Lista do banheiro

Agora, funcionários denunciam que a pressão está até pior: “mandaram uma lista de ofensores no grupo, o nome das pessoas que mais pausam para banheiro”, relata uma funcionária, que terá a identidade preservada por medo de represálias.

Ela trabalha na empresa há mais de 10 anos e conta que vários trabalhadores estão desde a pandemia trabalhando em casa.

No entanto, quando eles precisam se ausentar da estação de trabalho, é comunicada ao call center a pausa para ida ao banheiro.

Monitoradas, as ausências estão incomodando os chefes. Em um grupo no Whatsapp, um dos chefes afirma que 74% das pausas banheiro se concentram entre funcionários que estão em home office.

A trabalhadora relata que “eles (chefes da empresa) até ameaçaram esses funcionários se não melhorarem o índice de pausas para banheiro”.

Em grupo de Whatsapp da empresa, chefe faz ameaça (Foto: reprodução).

“Se precisarem, tragam ‘pro’ piso que aqui o banheiro fica perto da PA (posição de atendimento)”, disse o coordenador se referindo a recolocar funcionários no atendimento presencial.

Entre as punições, além de tirar do trabalho remoto, os funcionários podem ser trocados de horário de expediente ou trocados de setor.

Mal-estar e preocupação com o futuro

“Estou com meu psicológico super abalado, não tenho vontade de trabalhar mais nessa empresa”, conta a funcionária.

“Fui falar para o supervisor que estou com o psicológico abalado e ele disse que eu estava fazendo drama”, completa.

A situação tem gerado muito desconforto também entre PCDs (pessoas com deficiência). Muitos dos funcionários que trabalham de casa são PDCs.

“Acho que injustiça com seus colaboradores, principalmente para aqueles que são PCD e tem medo de se impor sobre o que lhe prejudica”, pontua outro funcionário.

Uma terceira trabalhadora da empresa contatada pelo Midiamax disse que denunciou a situação para a administração geral da empresa, no entanto, nada foi feito.

“Fiz denúncia no portal que temos da empresa, mas só obtive um retorno que foi feito um feedback com o tal supervisor. Não só eu, mas tenho outros colegas que passaram pela mesma coisa. Depois que mudou a  gestão da empresa ficou muito ruim”, relata.

Trabalhando no local há 7 anos, ela afirma que colaboradores mais antigos estão sendo perseguidos para pedir demissão. “Eles falaram que não vão mandar a gente embora”, completa.

O que disse a empresa

O Midiamax entrou em contato com a empresa para obter posicionamento sobre a situação. Em nota, o call center afirmou que, “da mesma forma que Tahto preza pela excelência no atendimento e na experiência do cliente, temos também como um dos nossos principais pilares a valorização e o cuidado com os nossos colaboradores.”

A nota disse ainda que “a Tahto conquistou pelo quarto ano consecutivo o selo Great Place To Work, a maior referência em pesquisa de gestão para mensurar a qualidade do ambiente interno e da cultura organizacional, além de identificar a percepção dos funcionários sobre a empresa.”

“Desta forma, a Tahto reitera seu repúdio a qualquer tipo de assédio dentro da empresa e informa que a denúncia já está sendo apurada internamente pela área responsável”, finaliza a nota.

Sentença de 2021

Na ocasião da condenação da empresa na Justiça, uma inspeção foi realizada por auditores fiscais do Trabalho, que constataram o uso de métodos que causavam constrangimento aos trabalhadores. 

A sentença foi fruto de uma ação movida pelo MPT-MS após recebimento de denúncias sobre várias irregularidades no ambiente de trabalho em 2013.
O impedimento imposto aos funcionários em relação ao uso do banheiro foi verificado já naquela época.

Após audiências com representantes da empresa no intuito de firmar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), a operadora manifestou desinteresse no acordo, não restando alternativa ao MPT-MS (Ministério Público do Trabalho de MS) senão o ajuizamento da ação para assegurar os direitos dos trabalhadores.

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