Dia da Onça-pintada: celebração dá lugar ao medo de extinção em ano com recorde de incêndios no Pantanal

O maior felino que vive nas Américas é celebrado todo 29 de novembro

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Onça-pintada Miranda, resgatada com as patas queimadas em 2024 (Foto: Saul Schramm/Divulgação)

Ela foi assunto no mundo todo diante das queimadas que devastaram o Pantanal em 2024. Foi alvo de milhares de comentários e lamentos ao ser vista ferida ou encontrada morta. O maior felino que vive nas Américas é celebrado todo 29 de novembro, Dia Internacional da Onça-pintada.

No entanto, neste ano, a celebração é abafada pela preocupação e pelo medo da extinção. Ela está entre as principais vítimas do fogo que destruiu mais de 20% do Pantanal de Mato Grosso do Sul entre janeiro e novembro de 2024.

Foram mais de 1,8 milhão de hectares consumidos pelas chamas nesse período. Essa realidade reacende o debate sobre os impactos das queimadas sobre, não apenas a flora, mas também a fauna, inclusive sobre esse animal que é vital para o equilíbrio do meio ambiente.

Onças são indispensáveis

“Essa espécie é super emblemática porque, além de tudo, é uma espécie guarda-chuva. Onde tem a onça-pintada, normalmente vai haver todas as outras espécies. É um lugar mais equilibrado porque é um animal que exige um ambiente de melhor qualidade para viver, então essa é a grande importância”, explica o analista de conservação do WWF-Brasil, o biólogo Felipe Feliciani.

Mãe e filhote de onça no Pantanal (Foto: Gustavo Figueirôa, SOS Pantanal).

Segundo o biólogo, as onças-pintadas estão muito ameaçadas em todos os biomas brasileiros, em diferentes graus. “Para a Amazônia e para o Pantanal elas estão menos ameaçadas, mas para o Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga elas estão bastante ameaçadas e, nos Pampas, por exemplo, elas já estão extintas”, detalha.

O médico veterinário e pesquisador Diego Viana, do programa Felinos Pantaneiros, do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), ainda pontua que a espécie é considerada ameaçada de extinção, tanto pela União Internacional para a Conservação da Natureza, que é o órgão internacional que tem a lista vermelha de espécies ameaçadas, quanto no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente.

Para Feliciani, a relação das queimadas com a preservação das onças é supercrítica. “É um animal que, apesar de conseguir se deslocar rapidamente e eventualmente conseguir fugir das queimadas, pode acabar sendo morto porque, quando o fogo é muito intenso, acaba ficando cercado”, explica.

Vítimas de diversas formas

Foi o que aconteceu com dois filhotes encontrados carbonizados em agosto, em área destruída pelas chamas em Aquidauana. A imagem viralizou na internet.   

Além disso, animais acabam sendo vitimados não apenas pela queimada diretamente, mas por problemas gerados em decorrência do fogo.

“Então, fugindo do fogo, o animal pode ser atropelado, fugindo do fogo o animal pode entrar numa propriedade onde tem gado e ser abatido em retaliação por causa de uma predação, enfim. Então o fogo pode ser também o início do problema que desencadeia outras ações”, avalia o biólogo.

Viana amplia a questão e cita a ameaça que as chamas simbolizam para todas as espécies, e a necessidade do fortalecimento e intensificação dos trabalhos voltados à preservação da espécie. 

“Hoje já existem diversos projetos, vários pesquisadores que têm monitorado os efeitos dos incêndios nas onças e também nas outras espécies. E é importante que esses estudos continuem porque esse efeito pode ser prolongado, ele tende a ser prolongado”, analisa o pesquisador.

Para ele, é essencial que pesquisadores atuem em várias regiões do Pantanal para que as respostas em relação aos efeitos negativos do fogo na população das onças sejam cada vez mais precisas.

“O que a gente já percebeu, em áreas e em estudos que já foram publicados, é a alteração no padrão de atividade, alteração de como elas usam aquele território que foi queimado, mas muita coisa ainda precisa ser feita”, completa Viana.

Onças vítimas do fogo

 Onça-pintada Xingú, fotografado no pantanal de Mato Grosso (Foto: Gustavo Figueirôa, SOS Pantanal).

Além do caso dos filhotes encontrados carbonizados em área rural de Aquidauana, após incêndio na região, entre as vítimas do fogo no Pantanal deste ano estão Gaia e Antã.

A onça-pintada macho chamada Antã, morreu no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) no dia 11 de setembro. O animal foi resgatado no dia 17 de agosto em Miranda, após ser encontrado visivelmente debilitado, desnutrido e sem forças, provavelmente devido à falta de alimento na área atingida pelo fogo. 

O resgate foi realizado na região do Passo do Lontra, a 316 km de Campo Grande, quando Antã pesava apenas 72 kg, número bem abaixo dos 100 kg que seria seu peso ideal. 

Exatamente um mês antes, o projeto Onçafari comunicou a morte de Gaia, que não conseguiu fugir das chamas em meio aos incêndios no Pantanal. Ela era monitorada desde o nascimento e era filha da onça Esperança.

“Ela não teve tempo de escapar do fogo. Infelizmente, ele veio com muita intensidade e absolutamente cruel, veio lambendo tudo. A gente fala que o fogo lambe e acaba com tudo”, disse a bióloga Lili, umas das integrantes do Onçafari, por vídeo no Instagram.

Viver em harmonia

Viana finaliza destacando que “tudo passa pela relação entre pessoas e onças”. Para o veterinário, apesar de ainda ser uma questão polêmica, essa relação entre onças e humanos tende a melhorar cada vez mais.

Isso pode ser feito por meio de “ações de pesquisadores e ações da mídia, comunicando sobre o real comportamento, sobre os reais impactos causados e sofridos pelas onças no Pantanal”, conclui.

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