Comer fora ficou 49% mais caro, mas em Campo Grande ainda se encontra almoço por R$ 10
Com o preço dos alimentos, manter os valores baixos é desafio aos comerciantes
Lethycia Anjos, Clayton Neves –
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Na correria do dia a dia, é comum recorrer à marmita ou ao famoso PF (Prato Feito) na hora do almoço. Contudo, comer fora de casa pode pesar no bolso dos consumidores. Nos últimos cinco anos, o preço médio da refeição em restaurantes subiu 49%, segundo um levantamento da Ticket. Apesar desse aumento, em Campo Grande ainda é possível encontrar almoços a R$ 10.
Na Rua Dom Aquino, o Restaurante Sabor Caseiro mantém a clientela com marmitas a R$ 10 e pratos feitos a R$ 13. A poucos metros dali, o Felipe Restaurante, na Barão do Rio Branco, também mantém marmitas pelo mesmo valor.
O cardápio costuma ser simples: arroz, feijão-carioca ou feijão-preto, farofa, macarrão, duas opções de proteína animal, geralmente carne ou frango, e salada. Mas é justamente essa simplicidade que garante o preço baixo.
Manter preço baixo é desafio aos comerciantes
José Roberto, proprietário do Restaurante Tempero do Chef, localizado na Afonso Pena, explica que, com a alta nos preços dos alimentos, está cada vez mais difícil manter os valores acessíveis. O último reajuste ocorreu em abril deste ano, quando o preço das refeições subiu de R$ 11,99 para R$ 12,99.
No restaurante, tanto o prato feito quanto as marmitas são comercializados por R$ 12,99, mas os clientes podem se servir à vontade, com exceção da proteína, servida pelos funcionários do restaurante.
“Estamos sempre tentando acompanhar a concorrência, mas o preço varia conforme o mercado. Hoje, sirvo 150 almoços diários, mas a margem de lucro é baixa. O que me sustenta é outra empresa que tenho”, relata.
Nos últimos 12 meses, o restaurante perdeu 50% da clientela. Segundo José, os clientes que permanecem são os mais fiéis, que não se preocupam tanto com o preço, desde que ele se mantenha relativamente baixo.
Yasmin Lorrana, funcionária do Tempero do Chef, explica que a maioria dos clientes são pessoas de baixo teor aquisitivo. Entre os frequentadores mais comuns estão trabalhadores de obras que atuam no centro e viajantes que acabaram de chegar a Campo Grande.
“Tem uma parada de vans em frente ao restaurante, que traz passageiros do interior. Às vezes, o restaurante fica vazio, mas enche por conta das vans. O preço baixo e a possibilidade de montar o próprio prato atraem os clientes”, comenta Yasmin.
Há um ano e meio, Cristiane Coqueiro, proprietária do restaurante Recanto do Chefe, mantém o preço da marmita a R$ 12,00 e o almoço a R$ 15,00. Assim como no restaurante de José, sua clientela é composta por aposentados, trabalhadores de obras e pessoas de baixa renda.
“É sempre um malabarismo. Controlamos a quantidade de mistura, buscamos carnes mais baratas, mas está complicado. Os clientes continuam indo porque o preço compensa. A comida é simples, mas bem temperada e bem feita”, explica Cristiane.
Além disso, ela investe em parcerias com empresas para fornecer marmitas, o que ajuda a manter uma margem de lucro.
Trocar almoço por salgado virou hábito
Apesar dos preços baixos, nem sempre quem está na rua opta por refeições completas. Muitas vezes, salgados e lanches são opções mais atrativas para os consumidores.
Moises Flores não tem o hábito de comer fora de casa e só recorre aos restaurantes quando está com amigos ou deseja comer algo diferente. Para ele, comer fora está muito caro.
“Costumo esperar até chegar em casa. Quando a fome aperta, geralmente compro um pão com mortadela ou salgado. Sei que não é o ideal, mas dá para passar o dia. Os preços são muito caros”, afirma Moises.
Para Wellington Fernandes, encontrar refeições a preços baixos é um desafio. Como não consome carne, ele tenta negociar descontos ou procura lugares que ofereçam opções vegetarianas. No entanto, a variação de preços é grande. No Centro de Campo Grande, por exemplo, o quilo da comida em restaurantes especializados em culinária vegana pode custar R$ 39,90.
“Nem sempre almoço no Centro, mas quando preciso resolver algo por lá, acabo comendo fora. Como não como carne, às vezes tento pedir um desconto. Para quem come carne existem opções de R$ 10,00 até pratos mais sofisticados, que podem chegar a R$ 30,00”, explica Wellington.
Almoçar fora ficou 49% mais caro
Os dados da pesquisa +Valor, da Ticket, indicam que o custo para comer fora subiu 16 pontos percentuais acima da inflação. Durante esse período, o preço médio de uma refeição completa – prato principal, bebida, sobremesa e cafezinho – passou de R$ 34,62 em 2019 para R$ 51,61 em 2024, o que representa um aumento de 49,07%.
No mesmo intervalo, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) cresceu 33,14%. Se ajustado conforme a inflação acumulada dos últimos cinco anos, o preço médio da refeição deveria estar em R$ 46,09.
Natalia Ghiotto, diretora de Produtos da Ticket, explica que esse aumento se deve à alta nos preços dos alimentos nos últimos anos.
“Segundo o IBGE, entre janeiro e fevereiro deste ano, por exemplo, o arroz e o feijão-carioca subiram 10,32% e 15,27%, respectivamente. Os preços da batata, com alta de 57%, e da cenoura, com 38,4%, também chamaram a atenção. Diante disso, o impacto no preço final dos pratos nos restaurantes é inevitável”, destaca.
Na análise regional, o Sudeste registrou o maior aumento no preço médio da refeição completa, 55% nos últimos cinco anos, passando de R$ 35,13 para R$ 54,54.
O segundo maior aumento, 46%, ocorreu na região Nordeste (de R$ 33,57 para R$ 49,09), na sequência aparece o Norte, com uma variação de 38% (de R$ 32,90 para R$ 45,41), e pelo Sul, com um acréscimo de 33% (de R$ 36,64 para R$ 48,91).
Em contrapartida, a menor variação foi observada no Centro-Oeste, região que inclui Mato Grosso do Sul, onde o valor subiu de R$ 34,87 para R$ 45,21, representando um aumento de 30% no período.
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