Cemitério de animais: Grupo contabiliza centenas de espécies vítimas do fogo no Pantanal

O Gretap (Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal) contabilizou durante levantamento na manhã desta quinta-feira (20) centenas de animais mortos por conta dos incêndios que assolam o Pantanal, em Corumbá.
Os especialistas percorreram a a Estrada Parque Pantanal até o Porto Manga, segundo a Coordenadora Operacional do Gretap, Paula Helena Santa Rita, para cobrir a área afetada pelo fogo e identificar fauna afetada.
“Nós percorremos por onde o fogo passou para ver quais animais morreram queimados e quais ainda estão feridos para serem resgatados. A maioria são anfíbios, répteis, algumas aves e até peixes”, explica.

Reportagem do Jornal Midiamax percorreu o trecho de 450 km entre Campo Grande e Corumbá nesta quinta-feira (20), rumo ao Pantanal sul-mato-grossense e encontrou diversos animais carbonizados na BR-262.
Paula relata que na Bahia Seca o fogo cercou o local e aqueceu a água. Com isso, dezenas de peixes boiando mortos. Segundo a coordenadora, em 2020 – ano trágico para o Pantanal – os animais dali passaram pelo mesmo.
“Foi identificado um jacaré adulto que tinha 12 animais próximos; lagartos, anfíbios e serpentes”, relata. Mas o que chamou mais atenção de Paula foi uma família de Emas, que andava pelas cinzas em busca de algum alimento, já que não tinham como fugir para outro lugar.

Missão
O grupo inicia uma missão no entorno de Corumbá e Ladário para levantar dados e resgatar animais, de barco. Paula explica que muitos animais, ao fugir do fogo, procuram por um curso d’água, como o jacaré citado anteriormente.
A missão deve durar sete dias e conta com sete integrantes, entre técnicos, biólogos e médicos veterinários. Os animais resgatados serão encaminhados para atendimento em Corumbá e os casos mais graves serão avaliados e enviados para tratamento no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande.

Questão de sobrevivência
Paula ainda observou que animais domésticos e animais silvestres têm sido vistos juntos pelo único propósito de sobreviver aos incêndios. “É um instinto de sobrevivência”, ressalta.
Porém, esse contato – do ponto de vista biológico – é ruim pois pode propagar doenças para ambos os lados: animais de produção e silvestres.
Além disso, a coordenadora avalia que as queimadas realmente se anteciparam em 2024. Como comparação, citou 2020, que em junho ainda não tinha a situação que Mato Grosso do Sul tem vivido.

No entanto, para Paula, o número de animais incinerados ainda é inferior ao registrado em 2020. “Isso mostra uma mudança de comportamento dos animais e também da população local”, avalia. Segundo ela, os aceiros construídos pela população tem sido usado pelos animais como corredor de fuga.
Cemitério de animais
Na BR-262, rodovia que dá acesso a Corumbá, dezenas de animais mortos atropelados na pista são o retrato de que a interação entre homem e natureza está distante do equilíbrio que se espera.
Pela estrada, cercada por vegetação nativa, placas de trânsito alertam sobre a presença de quem sempre esteve ali. ‘Dirija com atenção, risco de animais na pista’, alerta a placa, em vão.
Fumaça tomou contra de Corumbá
Brigadistas que atuam em um grande incêndio na entrada de Corumbá informaram ao Jornal Midiamax que na vegetação há uma condição que intensifica a formação de fumaça, que tomou conta da cidade.
A parte subterrânea tem vegetação seca, mas a parte de cima ainda é de vegetação verde, que aumenta o fumaceiro. A fumaça branca é vista de longe. O foco fica às margens do rio Paraguai e corumbaenses assistem tristes a queimada. Além disso, o vento ajuda a levar a fumaça para a cidade.
“Eu sei que é prejudicial, mas o brigadista só vai sair do campo quando controlar a situação”. O relato do chefe de Brigada Pantanal do Prevfogo, Anderson Thiago é o retrato da realidade enfrentada por 39 brigadistas que combatem os incêndios do Pantanal atualmente. Calor, baixa umidade, fogo e fumaça dia e noite.
O Pantanal está em chamas, com 1.729 focos de incêndios em junho no Mato Grosso do Sul e 250 focos em apenas um dia. Desde janeiro de 2024, pesquisadores alertam para o período de estiagem no Pantanal, mas o fogo chegou antes do que as equipes de combate esperavam.