Apesar de medidas de controle, infestação da mosca-da-cana é problema há uma década em Costa Rica
Moradores relatam que mosca ataca e adoece animais de propriedades há mais de 10 anos
Karina Campos –
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![mosca](https://cdn.midiamax.com.br/wp-content/uploads/2024/11/27081003/mosca-estabulo-.jpg)
Pequenos produtores rurais de Costa Rica, a 330 quilômetros de Campo Grande, registram imagens da infestação da mosca-da-cana, também conhecida como mosca-dos-estábulos. Os prejuízos com a praga se arrastam há uma década, adoecendo, matando animais e sem solução.
Tramita na Justiça de Mato Grosso do Sul o processo movido por 46 produtores rurais que atribui a proliferação do inseto às atividades de uma usina de bioenergia, que produz etanol e energia a partir da biomassa da cana-de-açúcar.
Fátima Côrrea Costa mora na fazenda próxima à usina há 30 anos e lamenta o prejuízo incontável, emocional e financeiro, com a perda e adoecimento de animais, que seriam atacados pela mosca.
“A usina funciona desde 2011. Quando termina a safra, ameniza a convivência com a praga, mas quando começam a moer cana, começa tudo de novo. É uma faixa de quatro meses sem e oito com a infestação. Tenho uma pequena criação de gado, a de cria, o Nelore, e as leiteiras. A gente vive da produção de leite, mas é pouquinho, a gente tem a faixa de 10 vacas leiteira, fica na faixa de 5, 6 vacas paridas diariamente”.
Prejuízo
Fátima reclama da falta de suporte do governo para a identificação das causas dos adoecimentos e mortes de gado na região. As famílias não conseguem arcar com tratamentos e exames particulares com veterinários. Contudo, os produtores investem em pulverizar medicamentos nas patas e costelas dos animais, além das cercas das propriedades.
“Quanto ao prejuízo, a gente não tem como avaliar porque já foi muito, vários prejuízos, porque desde 2011 a gente vem sofrendo com isso. O prejuízo é na perda do leite, no peso do gado, aborto, no emprenha, tudo isso a gente sente. Quando a infestação é demais, o gado não tem sossego, o gado não come, só à noite, durante o dia, só fica andando, se batendo para lá e para cá”.
A produtora diz que a situação é um tormento para a vizinhança há mais de 10 anos. Apesar da divulgação da situação, nenhuma providência eficaz para o problema é tomada. “Eu não acho justo a gente ter que vender a propriedade e sair de perto dessa usina por conta do desleixo deles, por conta da falta de responsabilidade que eles têm com o produtor rural”.
Outro morador conta que há poças de vinhaça, o que ele atribui para condições favoráveis para a infestação da mosca. A vinhaça é o resíduo malcheiroso que resta após a destilação fracionada do caldo de cana-de-açúcar fermentado, para a obtenção do etanol.
Imagens registradas por produtores são anexadas ao processo. “Aqui se reproduz milhares de moscas”. Em outro vídeo, um morador reclama do estado da vaca que está prenha e infestada com a quantidade de moscas ao redor.
![Poças](https://cdn.midiamax.com.br/wp-content/uploads/2024/11/28083716/pocas-vinhaca-1024x576.jpg)
Até cachorros sofrem
Uma moradora da zona rural de Costa Rica registrou boletim de ocorrência após a morte e outros ataques a animais da fazenda e que indica a responsabilidade pela mosca-da-cana. A mulher, que preferiu anonimato, diz que os insetos seriam responsáveis pelo adoecimento de animais da região. Também conhecida como mosca-do-estábulo, teria causado a morte de uma vaca e dois bezerros. Além disso, todos os cães da fazenda estão doentes e com as orelhas “em carne viva”.
“A mosca da vinhaça está matando os animais. Meus cachorros perderam a orelha. Todos os agricultores estão registrando boletins de ocorrência para tentar uma providência, pois é uma empresa muito grande, não conseguimos comunicação com os responsáveis”.
Processo na Justiça
O processo tramita na Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul. Em setembro deste ano, o desembargador Vladimir Abreu da Silva concluiu que a usina deve:
- realizar a manutenção periódica nas tubulações de descarte da vinhaça, para se evitar vazamentos;
- aplicar a vinhaça em quantidades que permitam a penetração no solo, nos termos da mencionada Resolução e do PAV (Plano de Aplicação de Vinhaça) referente à safra 2023 e seguintes, evitando-se acúmulos superficiais persistentes;
- promova o manejo adequado na área de compostagem, impedindo o acúmulo de chorume ou águas residuais;
- disponibilize canais eficientes de comunicação com a comunidade local e com o Município, para a identificação de eventuais vazamentos nas tubulações ou acúmulos irregulares de vinhaça;
- mantenha e cumpra os Programas de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e efluentes líquidos industriais.
Em caso de descumprimento das obrigações consignadas, é fixada multa diária de R$ 3 mil, limitado a 60 dias.
No processo, a usina ressalta que a aplicação de vinhaça na lavoura de cana-de-açúcar é prática lícita, regulamentada desde abril de 2015, com a publicação da Lei Estadual nº 4.661/2015, posteriormente, regulamentada pela Resolução SEMADE nº 19/2015, e adotada por todas as mais de 370 usinas e destilarias que produzem etanol no país, inclusive pelas cerca de 24 usinas localizadas no Estado.
Contudo, o judiciário negou os recursos apresentados pela usina e manteve o parecer favorável para os produtores.
![Usina](https://cdn.midiamax.com.br/wp-content/uploads/2024/11/28083516/trabalhadores-usina-1024x576.jpg)
Medidas de controle
Em resposta ao Jornal Midiamax, a Unidade de Costa Rica diz que sempre manteve um diálogo aberto com os pecuaristas da região. Sobre as imagens do empoçamento, a empresa ressalta que recebeu o aviso e atuou prontamente para sanar o problema em conformidade com a Resolução SAA – 38, de 2017, programa criado para o controle de surtos da mosca-dos-estábulos.
A norma estabelece que em áreas de vinhaça, a eliminação de poças do fertilizante em no máximo 48 horas é o suficiente para evitar a formação de larvas. Medida que foi realizada antes desse prazo com o uso de equipamentos como o escarificador, em consonância com o programa (conforme vídeos e fotos anexos).
“É importante salientar que a companhia cumpre integralmente o PAV (Plano de Aplicação de Vinhaça) em suas atividades. Entre as medidas adotadas para controle da praga está a parceria com a Volare no último ano, consultoria técnica especializada no assunto e referência nacional”.
A assessoria de imprensa diz que o resultado das ações indica a redução de 45% da média da população do inseto em agosto de 2024, na comparação com 2023. Em setembro de 2024, a redução registrada foi de 94%, em relação ao mesmo mês do ano passado.
“Para atuar em conjunto com os pecuaristas, a unidade sempre disponibilizou equipes e equipamentos para atuação nas propriedades pecuárias, apoiando na prevenção e na eliminação de possíveis focos da praga. São direcionados times exclusivos para apoiar proprietários que permitem o apoio da unidade, sobretudo no período de grandes chuvas e calor, no qual ocorre maior reprodução da praga. O objetivo da empresa é continuar com o bom relacionamento e convivência com outras agriculturas existentes na região, preservando todas as atividades econômicas e crescimento local”.
Quais são as medidas?
Em atuação com a Volare, destaca que a unidade intensificou as ações de controle do surto de moscas-dos-estábulos neste período de chuvas, com base em estudos e práticas aplicadas em âmbito nacional. Seguem abaixo algumas ações imediatas:
- Direcionamento de equipes especializadas para atuar nas nossas propriedades junto a equipe da fertirrigação e em propriedades pecuárias na descaracterização de cenários de proliferação;
- Maquinário como escarificador e Starplan atuando nos 3 turnos;
- Retroescavadeira nas áreas de pecuaristas e lavoura de cana, descaracterizando cenários de proliferação de larvas e adultos;
- Equipe dedicada na instalação das bandeiras (armadilhas) na região de maior concentração;
- Uso de atomizadores para aplicação de inseticida para mosca adulta.
Empresa cita outros problemas
“O plano de ação está sendo realizado em conjunto com a Volare, consultoria técnica especializada no assunto e referência nacional. Entretanto, há estudos científicos que comprovam a existência de surto da praga em regiões fora do perímetro de canavial, portanto não atrelados à aplicação da vinhaça. Assim como há evidências do alto impacto que o período atual de chuvas e altas temperaturas contribuem no aumento populacional da mosca”.
A Unidade Costa Rica ainda diz que possui equipes e equipamentos especializados para apoiar os pecuaristas no controle das moscas-dos-estábulos, disponíveis para realizar visitas periódicas durante todo o ano. “Todas as nossas iniciativas visam a prevenção, o controle e o combate eficaz da praga no curto, médio e longo prazo. Para isso, a cada safra a empresa realiza novos investimentos em pesquisas e em tecnologia, própria e de parceiros especializados, para manter as boas práticas em prol da erradicação da mosca-dos-estábulos”, finaliza.
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