Romilda se reconheceu aos 17 e luta pelo direito das mulheres negras em MS há duas décadas
Presidente do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro, Romilda despertou para militância após concurso de beleza
Priscilla Peres –
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Há mais de 25 anos, Romilda Neto Pizani milita na causa feminina negra. Nascida em uma família periférica de Campo Grande, foi aos 17 anos que ela se reconheceu como mulher negra e descobriu a paixão pela causa. Atualmente com 45 anos, é presidente do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro.
A história de Romilda faz parte da série de reportagens especiais que o Jornal Midiamax publica nesta semana de comemoração e reflexão sobre o Dia da Mulher, celebrado no dia 8 de março. Confira aqui outras reportagens da série que contam a história de Letícia e Lívia, Madalena Greco, Marinetti, Marilu Guimarães e Mariana Croda.
Romilda é uma mulher forte, de fala firme e presença imponente. Se expressa com a convicção de quem tem conhecimento e profundidade. Quando o assunto são as mulheres negras, seus olhos brilham.
“A militância guiou toda a minha trajetória, a partir do momento em que eu me reconheço, começo a me posicionar entre os meus. E quando a gente se apaixona por algo a gente fala, fala, fala e por vezes fui a chata por falar. Mas eu precisava ter voz e eu no meu cantinho, assim como outras pessoas, precisamos nos posicionar”, conta Romilda.
Foi aos 17 anos, ao receber um convite para participar de um concurso de beleza chamado Deusa do Ébano, na época organizado pelo Grupo Tez, que ela despertou para a militância. “Uma conhecida me chamou dizendo ‘vai ter gente igual nós’, apontando para a cor da pele. A partir daquele momento eu me vi, eu estava entre os meus”.
De militante a consultora de novela da Globo
Romilda não se vê como representante do movimento de mulheres negras, mas como integrante de um grupo. “Em 1995, durante a primeira Marcha Zumbi dos Palmares, em Brasília, eu entendi que eu precisava me reconhecer como sujeito e a partir disso meu compromisso com a causa só aumentou”, diz ela.
Recentemente, sua militância entre as mulheres negras a levou para perto dos famosos. Romilda foi convidada a participar de um workshop com artistas do elenco da novela “Terra e Paixão” da Rede Globo, que teve cenas gravadas em Mato Grosso do Sul.
“Me chamaram para falar sobre o contexto do ativismo feminino e negro no Estado, sobre meu olhar sobre a população negra de MS, comunidades quilombolas urbanas e rurais, culturas”, conta ela, orgulhosa do trabalho.
A próxima novela da TV Globo terá como protagonista a Aline, uma ativista social negra interpretada pela atriz Barbara Reis. Depois de vários encontros on-line, Romilda esteve recentemente em Dourados, onde conheceu parte da equipe da novela. “Fiquei muito feliz”, disse.
Família, local de mudança
Romilda vem de uma família sem grande consciência racial, mas como mãe de duas meninas, faz questão de passar seus valores, visões e consciência de classe. Ela defende que é dentro de casa que se “começa a mover as estruturas”, principalmente quando falamos de mulheres negras.
“Para que uma mulher negra tenha uma graduação, para que ela tenha sua especialização, é necessário que haja toda uma construção familiar para conseguir ter essa estrutura. Esse não é o passo normal dentro de uma família negra, é um objetivo, uma meta, uma construção coletiva”, destaca.
Mãe de duas meninas, atualmente com 20 e 11 anos, diz que o grande desafio é “de criar duas filhas no contexto de uma sociedade que trata as mulheres negras de acordo com a tonalidade de sua cor e, de forma que elas se sintam fortalecidas a partir da sua base”.
Mas ela se orgulha do bom trabalho que tem feito e já dá frutos. “Elas carregam a consciência de serem mulheres, negras e respeitando a particularidade uma das outras. Nos espaços onde elas estiverem, elas vão dar a contribuição delas. E isso é o que fica”.
Educadora, produtora cultural e militante
“Quando falamos de políticas públicas para mulheres, de que mulheres estamos falando?”, é a pergunta de uma mulher negra e militante em meio à sociedade de um Estado conservador.
“Hoje eu consigo acessar alguns espaços, mas por que já existe uma história construída, mas talvez outra mulher negra não conseguiria acessar com tanta facilidade. É sobre ser mulher e ver as políticas acontecendo sem ver a mulher ser inserida nesse espaço, em especial a mulher negra“, destaca Romilda.
Produtora cultural, ela trabalha há 12 anos no Teatral Grupo de Risco e afirma que é impossível separar o ativismo da vida pessoal, pois ambos andam juntos, dialogam e se confundem.
Sobre o país que Romilda quer viver, ela destaca o Brasil que assume suas maiorias. “Existem falas, mas não se assume que o Brasil é negro, da maioria do povo. Como seria, imagina? Para mim seria lindo”.
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