Nem mãos calejadas afastam Assis de tecer redes de tarrafa na varanda de condomínio

Ao ver a equipe de reportagem passar pelo bairro, o senhor Assis Ferreira Teles acena e pede “uma foto do meu trabalho. Olha que lindo? Desafio você a achar alguém que faça em Campo Grande”. O idoso de 65 anos mostra orgulhoso a rede feita a mão com fios de nylon, cada trançado constrói as famosas tarrafas.
Sentado na beira da grade do condomínio Residencial Canguru, o nordestino relembra que tentou fazer uma escola e passar para futura geração o que aprendeu com o avô, mas afirma que os poucos ‘alunos’ – como prefere chamar os conhecidos que demostraram interesse em fazer – tiveram desânimo ao longo do processo.
Ele até tenta mostrar para a reportagem como se faz cada amarração nos fios, mas ele é ‘ligeiro’ e em minutos consegue tecer boa parte de uma fileira. Nesse pouco tempo, relembra a herança de família na arte de fazer tarrafa e redes a mão.

“Sou do Piauí, mas estou aqui [em Mato Grosso do Sul] há 30 anos. Eu sei fazer isso desde os meus 7 anos, desde muito menino. Meu avô deixou isso de herança. Eu sempre vou para lá [cidade natal] e volto. Aqui a tarrafa vende muito mais, mas sou igual cigano, sempre vou e volto de vários lugares”.
As duas mãos de Assis estão com esparadrapo, a linha é cortante conforme o movimento, mas nem as mãos calejadas afastaram ele da profissão ou de um ‘tempo’ longe do tear. “Machuca, mas é só colocar a fita que está resolvido. Sou forte”.
Sentada ao lado dele está a esposa, que é tímida e preferiu não dar seu nome. Ela não escapou das aulas e afirma que também sabe fazer a tarrafa. “Aprendi com ele, mas não faço muito, mas faço se precisar”, pontua.

Tarrafa só para captura de isca
Vale lembrar que o uso de tarrafas em rios de Mato Grosso do Sul só é permitido para captura de iscas e não para pesca. Ainda assim, o item é permitido para o pescador profissional com registro atualizado e petrecho identificado, conforme a PMA (Polícia Militar Ambiental).