Em protesto contra déficit milionário da Cassems, servidores reclamam de convênio precário
Servidores estaduais reclamam de reajuste da mensalidade do plano e pedem CPI para investigar déficit de R$ 17 milhões
Nathália Rabelo, Karina Campos –
Após ajuste nos valores dos convênios, servidores estaduais se reúnem na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul) na manhã desta quinta-feira (3) para protestar sobre as últimas decisões e, ainda, pedem CPI (Comissão Parlamentar de Inquéritos) para que seja investigado um déficit de R$ 17 milhões na Cassems. Em meio às movimentações, servidores reclamam que valores são desproporcionais aos serviços prestados pelo convênio de saúde por ser considerado precário.
A concentração começou por volta de 9h15 e, até a publicação desta reportagem, ao menos 35 pessoas seu reúnem em frente à Alems e plenário se encontra lotado para manifestação em desfavor da Cassems. Ao Jornal Midiamax, servidores alegam que o reajuste dos valores é desproporcional ao salário recebido e ao serviço prestado pelo convênio, considerado precário.
O sargento Jeferson Chaves explica que possui os dois netos e sua esposa como agregados à Cassems, o que resulta num pagamento de quase R$ 1 mil de mensalidade ao convênio.
“Ganho pouco e o valor não condiz com a minha renda. Não importa se você é soldado ou concursado, o valor é desproporcional com a realidade do que o servidor ganha. O acréscimo de R$ 46 será descontado a cada pessoa incluída no plano da família, a pessoa. Eu não pago para viver de hospital, são paliativos quando não tem saída, mas se colocar na caneta o servidor vai pagar um carro popular por cada quatro anos”, opina.
Outra servidora, que preferiu anonimato, disse que paga mensalmente R$ 270. Recentemente, o filho precisou fazer uma cirurgia de enxerto e ouviu do médico que os produtos utilizados não seriam de qualidade.
“A cirurgia de enxerto no rosto foi pelo plano da Cassems, mas em outro hospital. Ele [filho] teve que fazer enxerto ósseo porque o médico fez uma cirurgia semelhante em outra criança e o produto esfarelou. Então, ele se recusou fazer com o mesmo produto. Vamos pagar e precisamos de melhoria no serviço”, pontua a mulher.
Servidores querem anular assembleia da Cassems
Toda a movimentação dos servidores começou depois que a Cassems realizou assembleia na última quinta-feira (27). Ocasião contou com 700 servidores que votaram pelas mudanças no plano de saúde. Porém, uma das alegações dos manifestantes é que a quantidade de pessoas presentes no dia não representaria nem 1% do total porque são 87 mil titulares.
Assim, uma outra servidora acredita que a maioria dos 700 representantes presentes na última assembleia eram sindicalizados.
“Ou são do sindicato ou funcionário da própria Cassems, que não representa toda a categoria. Na minha casa, por exemplo, são quatro pessoas que dependem do plano, se for para folha é R$ 180 descontado só para isso, fora o adicional por exame”, critica.
Dessa forma, a categoria diz que a votação para reajuste deveria ser feita de forma clara. “Teve vários meios para reajuste a favor do servidor, pelo aplicativo da Cassems, por lista. Não há como saber se os votantes são ativos. Não é um serviço de qualidade para mudar agora”. A intenção é, principalmente, anular as decisões da última reunião.
Falhas no plano de saúde
Edvania Biserra Amario Garcia, policial penal de 43 anos, também conversou com a reportagem. Ela alega que no ano passado os filhos gêmeos, de 1 ano e 3 meses, foram internados com pneumonia. Um deles sofreu complicações e o tratamento acarretou sequelas no filho, diagnóstico atualmente com autismo leve, atraso na fala e dificuldades em locomoção.
“Pago em média R$ 700 mensal, fora exames. Na época, a equipe de enfermaria disse que meu filho era gordinho e teve dificuldade em inserir os acessos, o braço dele ficou roxo, tiveram que implantar o acesso central, próximo da cabeça porque ele já não aguentava mais de dor. Ele não melhorava e foi levado para o CTI. Ficou internado umas 3 semanas e chegou a ficar em coma”, recorda.
Assim, ela afirma não reclamar do reajuste, mas que o novo valor deveria caminhar junto com a qualidade do serviço, atualmente considerado precário e falho pela policial.
“A Cassems possui apenas um neuropediatra, as enfermeiras não tiveram cuidado e eu quase perdi meu filho. Ele voltou com sequelas. Teve outra vez que fiz uma teleconsulta para minha filha. Não informaram que tinha que ser pago R$ 22. Nem tinha conhecimento desse débito e o plano ficou bloqueado por esse valor. Tive de ir até lá, fiquei 3h esperando atendimento. Falta clareza na prestação do serviço”, afirma.
Nesse mesmo sentido, Elder Mendes é representante da Associação de Bombeiros Militares de MS e também está presente no local. Ele contou todo o acompanhamento do protesto mostra a insatisfação dos servidores com a cobrança. Além disso, pontua falha na divulgação da assembleia porque “o servidor não fica no dia a dia acompanhando o diário oficial”.
Entenda o protesto
Depois que a Cassems votou num reajuste do valor cobrado do plano de saúde na última quinta-feira, servidores estaduais se movimentam contra a cobrança. Além disso, pedem abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar déficit de R$ 17 milhões da Cassems.
Os servidores querem anular medidas que encareceram a mensalidade, como a contribuição fixa de R$ 45, limitada a R$ 180 por família, sobre tratamentos odontológicos e de outras terapias em que seja necessário o uso de materiais de OPME (Órtese, Prótese e Materiais Especiais).
Em conversa com a reportagem na última segunda-feira, Ricardo Ayache, presidente da Cassems, defendeu que a assembleia da quinta-feira foi realizada com ampla convocação e divulgação.
“Houve uma maioria absoluta que aprovou a mudança de contribuição. Existem grupos de Whatsapp as pessoas estão se movimentando, mas nós já nos reunimos com representantes dos grupos na sexta-feira (28) e mostrou com mais detalhes ainda todo o cenário, a importância na mudança de modelo que traz benefícios, como a extinção da cobrança de fatores participativos de materiais cirúrgicos, por exemplo, que são muito caros”.
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