É só por hoje: Para quem chegou ao fundo do poço, luta contra o alcoolismo é desafio diário

Alcoólicos Anônimos têm 36 grupos de apoio em Mato Grosso do Sul

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
O grupo Alcoólicos Anônimos foi criado em 1935 e atua em mais de 180 países
O grupo Alcoólicos Anônimos foi criado em 1935 e atua em mais de 180 países

Foi só depois de colocar a vida da filha em risco em um de tantos ‘apagões’, que o Edson B*, de 60 anos, se ligou que tinha problemas com o álcool e precisava parar de beber. “Cheguei do bar e coloquei ela no tanque da moto para dar uma volta no quintal como sempre fazia, mas nesse dia apaguei, só me lembro de tentar frear e a moto capotar comigo e a menina”, conta.

Quando recobrou a consciência, já na madrugada, Edson estava sangrando em uma cama e o primeiro pensamento foi ver a filha, na época com apenas 2 anos. “Corri no quarto e vi ela dormindo sem nenhum arranhão, naquele momento senti que um poder superior que sempre esteve ao meu lado não deixou que nada acontecesse a ela”, detalha.

Aliviado por ver a criança bem, entendeu que era preciso fazer algo. “Fui em uma reunião do Alcoólicos Anônimos, contei toda minha história e disse que precisava parar de beber”, relata.

No dia 18 de fevereiro, Dia do Combate ao Alcoolismo, a história de Edson é retrato de tantas realidades semelhantes que se repetem e chegam diariamente até os 12 grupos de ajuda abertos em Campo Grande e 36 em Mato Grosso do Sul.

Mesmo há 25 anos sem beber, graças à força de vontade e ao suporte emocional que encontrou no A.A, Edson entende que a doença é permanente, por isso, se agarra a um dos lemas do grupo: É só por hoje!

“Eu perdi emprego, a minha primeira família, me tornei uma pessoa isolada, rejeitada e entrei em depressão por causa do vício. Hoje entendo que estou estacionado, não curado. Mesmo depois de tanto tempo, faço um induto diário que é deixar de beber só por hoje”, detalha.

“Cheguei bêbado na reunião”

Assim como Edson, Abadio B* também encontrou a porta de saída para o vício em uma das reuniões do Alcoólicos Anônimos de Campo Grande. “Foi em 1992. Cheguei lá bêbado, empurrado pela minha esposa. Ninguém me julgou e isso me atraiu, até porque, eu já não era mais aceito nos lugares, nem minha família me chamava mais para festas ou reuniões porque sabiam como eu era”, lembra.

Desde aquela primeira reunião, há mais de 30 anos, Abadio abandonou a bebida. “Hoje mantenho minha sobriedade e vivo um dia de cada vez, mas até chegar a isso, passei por muita coisa ruim”, afirma.

Na vida do servidor público, o consumo de álcool começou cedo, aos 13 anos. “Bebia por brincadeira, mas não sabia da situação difícil em que estava me metendo”, avalia.

Com o tempo, as doses aumentaram cada vez mais. O consumo só aos fins de semana saiu do controle e virou diário. “Me tornei um bêbado e defensor da bebida. Sempre tentava justificar quando alguém tentava me aconselhar. Precisei chegar no limite para entender a doença que tinha e procurar ajuda”, finaliza.

Ao lado de Edson, Abadio ajuda outras pessoas que passam pela mesma situação e que querem mudar.

130 reuniões por dia

Atualmente, o Alcoólicos Anônimos faz cerca de 130 reuniões diárias em todo o Estado. Os encontros são divididos em duas sessões de uma hora, com intervalo de 15 minutos entre uma e outra.

Entre a troca de experiências, os grupos seguem 12 passos ensinados e compartilhados por quem deseja abandonar o vício.

“Temos vários grupos de braços abertos para receber todas as pessoas que queiram parar de beber. Não julgamos ninguém, todos são bem-vindos. Lembramos sempre que dependência da bebida é um caminho que você entra sozinho, mas não consegue sair sozinho, é preciso ajuda e o A.A é uma dessas opções”, pontua Edson.

O Alcoólicos Anônimos não tem fins lucrativos e segue rígidos protocolos de discrição.

Consumo que só cresce

De acordo com a Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, levantamento realizado em 2019 já apontava situação preocupante. De acordo com o balanço, 18,8% da população brasileira apresenta perfil de bebedor abusivo. Entre homens, o índice é ainda maior e atinge 25,4%.

Onde procurar ajuda

Confira a lista dos grupos de apoio dos Alcoólicos Anônimos em Campo Grande:

Grupo Bom Viver: Avenida Sagredo, 272 – Jardim Imperial
Grupo Central de Campo Grande: Rua Barão do Rio Branco, 906, Sala A – Centro
Grupo Central de Novos: Avenida Calógeras, 2521, Casa dos fundos – Centro
Grupo de Alcoólicos Anônimos Aero Rancho: Rua Tokuei Nakão, 449 – Aero Rancho
Grupo Franciscano: Rua Jataí, 687 – Guanandi
Grupo Nova Vida: Avenida Agripino Grieco, 450 – Núcleo Habitacional Universitárias
Grupo Novo Caminho: Avenida Senhor do Bonfim, 2347 – Estrela D’Alva
Grupo Novo Milênio: Rua João Maiolino, 306 – Universitário
Grupo Quero Viver: Rua México, 235 – Jardim América
Grupo Rita de Cássia: Avenida Guaicurus, 3114 – Alves Pereira
Grupo São Paulo: Rua 14 de Julho, 4213 – Centro
Grupo Sobriedade: Rua Olivério Rodrigues da Luz, 247 fundos – Jardim Macaúbas
Grupo Triunfo: Rua José Barnabé de Mesquita, 506 – Santo Antônio

*O nome dos entrevistados foi preservado

Últimas Notícias

Conteúdos relacionados