‘Cheiro de fezes’: Vazamento de fossa gera briga de vizinhos e prejuízos no Jardim Colúmbia
Vigilância Sanitária notificou moradores de condomínio, que podem ser multados em até R$ 15 mil
Lethycia Anjos –
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Há dois anos, moradores da rua Pindaré, no Jardim Colúmbia, região norte de Campo Grande, convivem com mau cheiro e insalubridade gerada pelo vazamento da única fossa sanitária de um condomínio de 12 casas. Mesmo a metros de distância, é possível sentir o mau cheiro que exala do lugar.
Patricia de Carvalho Pereira, 42, se mudou para o local em 2021 e, desde, então convive com o transtorno gerado pela fossa. A moradora acredita que o problema iniciou após alguns moradores realizarem obras com encanamentos errados nas lavanderias das casas.
“A fossa vaza na rua toda, gera mau cheiro e atrai ratos. Minha casa é a mais próxima, por isso sou quem mais sofre. A água volta para a tubulação, aí já viu, agora a sujeira chegou à janela da minha filha. Chamei uma pessoa para limpar e dividi o valor entre os moradores, mas eles reclamaram de pagar R$ 4,50”, explicou.
Na lixeira de uso compartilhado, um ralo acumulou água a ponto de formar poças que se tornaram criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue e chikungunya. No meio-fio, a água suja se estende por quase todo o quarteirão, atraindo diversos tipos de animais peçonhentos. Com frequência, Patrícia encontra ratos e escorpiões em sua residência.
Além dos riscos à saúde, os moradores dispostos a resolver o problema precisam lidar com a resistência dos demais condôminos que, segundo Patrícia, não ligam para a situação.
“Os moradores ficam de picuinha, ninguém quer administrar e zelar pelo local. É cada um por si e Deus por todos. O condomínio tem duas entradas para ruas diferentes, então quem mora longe da fossa nem passa por aqui e não se preocupa em resolver o problema”, destacou.
Patrícia ressalta que o impasse tem gerado brigas constantes entre os moradores. A fossa chegou a ser limpa algumas vezes, mas devido à gravidade da situação, a limpeza se tornou apenas um recurso paliativo.
No início deste ano, um morador realizou uma obra para cobrir a fossa e vedar o vazamento. Contudo, pouco tempo depois o problema voltou a gerar transtornos aos moradores.
Mau cheiro afasta clientes e gera prejuízos a comerciantes
Rodolfo Brechol Moreira, 29, é vizinho do condomínio e também sofre transtornos diários com a situação. Dono de uma conveniência ao lado, ele viu o movimento de seu comércio cair drasticamente desde que o problema começou.
“No horário de mais movimento do meu comércio é quando mais vaza água e sobe o mau cheiro. Ninguém consegue ficar aqui na frente e acabo perdendo meus clientes. Aos fins de semana, vendo espetos aqui, mas com essa fossa, as pessoas nem param mais para comer”, explica.
Cansado da situação, Rodolfo registrou denúncias em diversos órgãos públicos em busca de resolver o problema.
“Fiz denúncia na Vigilância Ambiental, na Polícia Civil e na Decat (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais). O condomínio foi autuado três vezes, mas até hoje a situação não se resolveu e, enquanto isso, fico no prejuízo”, lamenta o morador.
O muro da casa de Rodolfo é compartilhado com a parede da lixeira do condomínio; por isso há infiltração. Ele relata que diariamente precisa limpar a calçada e cortar a grama em frente ao condomínio; caso contrário, a sujeira toma conta do local.
“Na situação que está agora, não adianta só esvaziar e limpar a fossa; da última vez foram sete caminhões de limpeza e não durou 15 dias. Esse problema só vai ser resolvido com outra fossa ou se cada casa tiver uma individual”, destaca Rodolfo.
Do outro lado da rua, um enorme terreno baldio se estende em frente ao residencial. Rodolfo afirma que o local é frequentemente usado pelos moradores do condomínio para o descarte inapropriado de objetos.
“Nesse terreno jogam todo tipo de coisa, grama, entulhos de obras. Eu sempre tenho que limpar e passar veneno para não virar foco de dengue ou dar escorpião; se não, a situação fica insustentável. Até tacam fogo aqui. Ano passado peguei dengue, por isso estou sempre cuidando”, relata o morador.
Sesau afirma que o local será inspecionado
Questionada sobre os riscos à saúde pública, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que as equipes da Vigilância Ambiental e da Coordenadoria de Endemias Vetoriais irão se deslocar até o condomínio Jardim Colúmbia para verificar a denúncia.
Sobre a situação da fossa, a pasta esclarece que por se tratar de um condomínio particular, é de responsabilidade dos gestores zelar pelo local, mas que será investigado se existe alguma irregularidade.
“Se identificada alguma irregularidade, os responsáveis pelo local serão devidamente notificados e, se necessário, autuados”.
Ainda conforme a Sesau, as 12 casas já foram autuadas por não realizar o esgotamento da fossa sanitária. Caso os proprietários não resolvam o problema, pode ser gerada uma multa que varia de R$ 100 a R$ 15 mil.
Limpeza periódica é imprescindível para o bem-estar
A fossa é um meio de tratamento primário de esgoto muito comum em casas e condomínios residenciais. Nesse sistema, o esgoto é depositado em um poço onde a parte líquida é absorvida pelo solo e a sólida é removida de forma mecânica.
O esgotamento de fossa ocorre quando a drenagem já não é suficiente e os níveis de água sobem até o limite máximo, o que resulta no vazamento. Nesses casos, é necessário o esvaziamento do lodo que fica preso no fundo dos tanques para facilitar o fluxo e tratamento dos efluentes. Como esse lodo não pode ser devolvido à natureza, é preciso realizar um tratamento e descarte adequado.
Conforme o Ministério da Saúde, a limpeza periódica das fossas impede o vazamento de resíduos tóxicos, que podem contaminar o solo e os lençóis freáticos.
No caso de condomínios com diversas casas como o Jardim Colúmbia, o mais indicado seria uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), contudo, o tratamento de esgoto ainda não é realidade para os moradores do Jardim Colúmbia.
“Aqui não têm nem previsão de esgoto tratado, acredito que vai anos ainda. Me sinto esquecida. O bairro em si é bom, está desenvolvendo, mas ninguém merece morar em um lugar podre assim”, finaliza Patricia.
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