Após morte, candidatos do concurso da Polícia Militar de MS podem levar água para prova
Neste sábado, ocorre o último dia de provas do TAF (Teste de Aptidão Física) do concurso
Thalya Godoy, Lívia Bezerra –
Os candidatos que participam do último dia do TAF (Teste de Aptidão Física) do concurso da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, neste sábado (5), foram liberados a fazerem a prova carregando uma garrafa com água.
De acordo com o relato de pessoas que acompanham a prova, a permissão para carregar a garrafa foi liberada desde sexta-feira, após a morte do goiano Arthur Matheus Martins Rosa, de 25 anos, que passou mal na prova do TAF (Teste de Aptidão Física), na quinta-feira (3).
A irmã de Arthur contou na delegacia que o irmão passou mal durante a prova e foi enviado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Coronel Antonino, em Campo Grande. O concurseiro foi transferido para o Hospital do Pênfigo, mas não resistiu e morreu.
De acordo com a irmã de Arthur, outros candidatos falaram para ela que eram proibidos de beber água e se alimentar depois de entrar no local para esperar o início da prova.
Arthur teria chegado ao local do TAF por volta das 6 horas da manhã e ficou cerca de 7 horas sem comer ou beber água, até às 13 horas debaixo de um sol de 37°C. O caso foi registrado como morte natural.
Conforme o relato do parente de um candidato, que terá a identidade preservada, e acompanha a etapa da corrida neste sábado, no dia em que Arthur morreu, ele não chegou a ver os candidatos correrem com a garrafa com água.
Outra pessoa que também tem acompanhado as etapas confirma que o uso da garrafa com água durante a prova foi só liberada nos últimos dias. “Ontem e hoje estão podendo correr com garrafa de água nas mãos quem desejar. Nos primeiros dias não foi nem mencionado”, afirmou ao Midiamax.
Candidatos chegaram meia-noite
Neste sábado, ocorre a última etapa do TAF para os homens, com uma etapa de manhã no Centro Olímpico da Vila Nasser e o teste de flexão e abdominal, à tarde, no Ginásio da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), a partir das 14h30.
Assim como nos outros dias do TAF, os candidatos chegam horas antes do início para tentar fazer a prova em um momento mais fresco.
Conforme o relato de parentes de dois candidatos que conversaram com o Midiamax, eles chegaram ao Centro Olímpico da Vila Nasser às 1h e às 3h. Contudo, outros concurseiros já estavam na fila desde a meia-noite.
Além disso, os candidatos que terminam a etapa de manhã já têm se dirigido para a fila no Ginásio da UCDB para esperar a prova no período vespertino, mesmo horas antes do começo da avaliação.
Candidatos acreditam em falta de preparo
Sobre a morte de Arthur após passar mal durante a prova do TAF, outros participantes do concurso opinam que houve falta de preparação por parte do goiano.
Três pessoas que conversaram com o Midiamax, neste sábado, opinaram que é regra do concurso todos passarem por essas etapas, mesmo sob o sol forte. Vale lembrar que Mato Grosso do Sul enfrenta uma onda de calor. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu um alerta para todo Estado sobre a baixa umidade do ar, entre 20-30%, para este sábado.
“Acredito que foi falta de preparo do rapaz. Foram oito meses para poder se preparar”, disse um deles.
Eles não atribuem culpa à banca pela morte na quinta-feira e afirmam que foi liberada água e comida no dia da prova em que Arthur passou mal.
Um dos concurseiros sugeriu que a prova poderia ser realizada à noite, quando o tempo está mais fresco.
Contudo, outras pessoas que acompanham a prova, neste sábado, defendem que não houve falta de preparo para a prova. Uma mulher, de 25 anos, disse ao Midiamax que a avaliação foi feita em um horário de muito calor.
“Acredito que foi falta de preparo mais da organização do que dele. Porque o TAF dele foi 12h, um horário muito quente. Como que faz um TAF 12h? É muito calor. Além dele, muitas pessoas passaram mal. Foi falta de organização do pessoal que estava aplicando a prova, com certeza”, ela defendeu.
Banca defende que não houve restrições
O Exame de Capacidade Física do concurso Público para ingresso nos cursos de formação de soldados, e formação de oficiais, da PMMS, é de caráter eliminatório, aplicado por profissionais habilitados, sob a responsabilidade do Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistencial Nacional (IDECAN), banca organizadora de todo o concurso, e supervisionado pela Comissão Organizadora.
A Comissão Técnica, designada pelo Comandante-Geral da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, apenas auxilia no processo avaliativo, com aferição da execução dos exercícios, cuja função é permitir a avaliação de padrões de força, coordenação, agilidade, equilíbrio dinâmico, flexibilidade, potência muscular, capacidade aeróbica, anaeróbica e de velocidade, com vista a aferir o condicionamento físico do candidato para suportar os exercícios físicos a que será submetido durante o curso de formação e a resistência necessária para o desempenho da função militar.
Quaisquer questionamentos sobre eventualidades na data, horário e/ou condições de aplicação do teste cabem à banca organizadora.
Já a SAD (Secretaria Estadual de Administração) afirmou em nota que o cronograma de etapas do referido concurso é estabelecido e divulgado via edital antecipadamente.
“Diante da estrutura necessária para a realização deste e do fato que muitos candidatos são oriundos de outras cidades e estados, não é possível adiar ou cancelar as avaliações previamente agendadas. As etapas, dos concursos são desenvolvidas de modo a oferecer a estrutura necessária de avaliação ao candidato para que haja total transparência no processo”.
A Idecan entrou em contato com o Jornal Midiamax e encaminhou nota rebatendo a versão apresentada pelos candidatos e pela irmã da vítima à polícia, afirmando que o Idecan “desde o primeiro dia está disponibilizando pontos de hidratação, equipes médicas e ambulâncias, isso mesmo, no plural, cadeiras e tendas para bem acomodar os candidatos, além da existência de bebedouro disponível aos candidatos”.
Além disso, a nota afirma que os candidatos também poderiam portar garrafas de água individuais para se hidratarem. “Logo, não é verdade que os candidatos passaram horas sem água, haja vista haver água disponível”.
Por fim, a banca lamentou a dor da família e amigos e afirmou estar prestando “todo o apoio necessário à família do candidato, além de ter dado o socorro e acompanhamento ao caso até o momento”.
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