As baladas nas segundas-feiras deram lugar ao ‘happy hour' uma vez por semestre para a estudante Flaviani Barbosa, de 49 anos, que há 4 anos decidiu virar a chave e enfrentar o medo de retornar à .

O sonho adiado por conta de circunstâncias da vida voltou à tona e a então pedagoga decidiu seguir no caminho da psicologia. “No passado eu já havia pensado em cursar psicologia, mas meus filhos eram pequenos e eu achava que não ia dar conta de estudar, cuidar da casa, cuidar das crianças e ainda trabalhar”, conta ela ao Jornal Midiamax.

Flaviani já tem formação em pedagogia, desde 2004, mas a monotonia na carreia acendeu o desejo de realizar o outro sonho. Porém, aos 45 anos, sua mente foi invadida por muitas questões. “Quando comecei a pensar em voltar para o mundo acadêmico, meus filhos me incentivaram muito, porém meu medo era outro: de ter passado a época de estar dentro de uma universidade”, explica.

Apesar disso, depois de 4 anos dentro da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Flaviani enfrenta novos desafios: os estágios. “Hoje sei das minhas limitações. Talvez eu tenha que me dedicar mais, ter mais tempo de estudo do que um jovem de 20 anos. Mas estou dando conta”, garante à reportagem.

“Durante os 4 anos passados estudei muito, sempre querendo as melhores notas, mesmo sabendo das minhas dificuldades. Fiquei de exame semestre passado, meu primeiro exame. Eu tinha certeza que ia reprovar, mas estudei tanto, dormia de 3 a 4 horas por noite e tirei 10 na prova de exame. Essa foi a minha constatação que eu seria capaz de conquistar qualquer sonho”, avalia.

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Flaviani com a turma de 2019 da psicologia da UCDB (Foto: Arquivo Pessoal)

Maturidade

Flaviani conta que a experiência das duas graduações são diferentes. “A Flaviani que cursou pedagogia, estudava em cima da hora para a prova, passou mais de um ano com o mesmo caderno, frequentava em plena segunda-feira”, começa.

“Já a Flaviani de hoje, assiste todas as aulas, anota até quantas vezes o professor respira, gasta cadernos e mais cadernos de tantas anotações”, descreve ela, que não frequenta mais baladas às segundas, mas ainda “toma uma cervejinha no bar com os colegas uma vez por semestre”.

Conforme ela, a maturidade a vez perceber onde gastar a energia e sentir prazer com a rotina. “Faço com amor. Estudo com empenho e sei que nessa profissão seguirei em busca do conhecimento sempre”, diz ao Jornal Midiamax.

Desafios

Pensando em seguir para a área organizacional e clínica da psicologia, Flaviani divide o tempo entre as aulas e os estágios. Atualmente, a acadêmica estagia em uma empresa de tecnologia e também faz atendimentos supervisionados na Clínica Escola da UCDB.

“Você imagina uma mulher que retornou para a universidade com 45 anos, estagiar em uma empresa onde os funcionários trabalham em home office? É uma experiência totalmente nova. Nunca imaginei que estaria onde estou, fazendo o que eu faço”, diz à reportagem.

Ela elenca também como um desafio a questão da alimentação. “Hoje meu metabolismo não é mais como o de 20 anos atrás, então tenho que manter uma dieta equilibrada, qualquer excesso já causa algum dano. A saúde passa a ser a prioridade”, explica ela.

Assim como a mente, o corpo também é uma preocupação constante. “Sempre trago marmita. Hoje tenho a benção de ter minha mãe morando comigo. Vejo que isso também me dá um conforto gigantesco na questão dos estudos. Não tenho que me preocupar com a alimentação”, conta ao Jornal Midiamax.

Flaviani sai às 6h30 e volta às 22h30 e é a mãe que cuida da alimentação da casa, desde o café da manhã até as frutas. No caso da família, para dois universitários.

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Flaviani, de 49 anos, e João Lucas, de 21, vivem a mesma ‘fase' da vida (Foto: Arquivo pessoal)

Mãe e filho acadêmicos

João Lucas, de 21 anos, filho de Flaviani faz Engenharia Civil na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), e divide a mesma rotina de estudos e estágios com a mãe. “Temos muitas trocas, mas também muitos puxões de orelhas”, brinca ela.

Segundo a mãe, ela o cobra para ter mais dedicação e, em contrapartida, ele pede que ela não se cobre tanto. “Ele me fala: ‘mãe relaxa, você vai tirar 10′”, conta. Para eles, a conquista da universidade é compartilhada e o orgulho é mútuo. “Vivemos a superação diariamente, tanto eu quanto ele”, diz ao Jornal Midiamax.

40+ na universidade

Na semana passada viralizou um vídeo onde três universitárias ridicularizaram uma colega do curso de Biomedicina na Universidade Unisagrado, em Bauru (SP). No vídeo, as estudantes debocharam e ofenderam a outra aluna, de 44 anos, justamente pala idade.

A instituição abriu uma ação para avaliar a conduta das autoras. Entretanto, as estudantes decidiram solicitar a desistência do curso. O caso reacendeu o debate sobre o ‘padrão universitário', entretanto, pessoas de qualquer idade podem ingressar no Ensino Superior.

Por exemplo, a principal instituição universitária de MS, a UFMS possui 1.620 estudantes com mais de 40 anos. O maior número – 732 – é da faixa entre 40 e 44 anos. Desse dado, 79 têm mais de 60 anos.

Universidade Aberta à Pessoa Idosa

A UFMS possui o programa de extensão UnAPI (Universidade Aberta à Pessoa Idosa) que, por meio da oferta de atividades gratuitas aos idosos da comunidade, tem como objetivo proporcionar a eles oportunidades para aquisição, desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento de habilidades e competências relacionadas à sua autonomia, independência, manutenção ou reinserção na sociedade como cidadão pleno de direitos.

Segundo a coordenadora do programa, professora Camila Guimarães, neste semestre, a UnAPI está com mais de 700 vagas abertas para 24 atividades de extensão, cultura, esportes e (presenciais ou online) distribuídas em Campo Grande, e Três Lagoas.

Alguns exemplos de atividades são:

  • Curso de Informática Básica
  • Horta Comunitária
  • Cultura e Arte
  • Iniciação ao Teatro
  • Medicamentos e Plantas Medicinais
  • Dança de Salão
  • Coral
  • Envelhecimento Ativo e Saudável
  • Introdução ao Idioma Italiano

“A troca de experiências com pessoas idosas, protagonistas da história de Mato Grosso do Sul, é rica e especial para os acadêmicos. De forma semelhante, as pessoas idosas sentem-se acolhidas e valorizadas pela comunidade universitária, o que favorece a intergeracionalidade e a construção e compartilhamento de experiências e saberes”, explicou a professora ao Jornal Midamax.

Em 2022, a UnAPI contou com mais de 200 pessoas idosas inscritas nas suas atividades. Entretanto, conforme Camila, sempre existem vagas ociosas. As atividades da UnAPI iniciam no próximo dia 20 de março e as inscrições podem ser realizadas clicando aqui.

Dúvidas podem ser esclarecidas pelo telefone da secretaria do Programa (período matutino): (67) 3345-7186.