Até o início de fevereiro, centenas de trabalhadores indígenas de devem desembarcar em municípios da região Sul do país para uma nova colheita de maçãs das espécies gala e fuji.

As empresas contratantes pagam um salário-base que gira em torno de R$ 1,3 mil, mas o rendimento bruto pode variar de acordo com outros benefícios, como gratificação por produtividade, podendo chegar a quase R$ 3 mil. Os empregadores também arcam com o custo do transporte dos indígenas (ida e volta), alimentação, alojamento e cesta básica.

Rogério Hirto Jorge, tem 35 anos e faz parte de um grupo de 45 trabalhadores que deixaram a Aldeia Lagoa Rica, localizada em Douradina, a 197 quilômetros de Campo Grande, para trabalhar no município de Vacaria, no Rio Grande do Sul. Seus próximos 45 dias serão trabalhando nas plantações da empresa Bortolon Agro Comercial. “Desde 2019, nossa turma sai da aldeia para o Rio Grande do Sul. Esse trabalho trouxe muitos benefícios para nós e para a nossa comunidade. Ficamos 45 dias por lá e depois voltamos. Caso tenha mais oportunidade, a gente vai para outra empresa fazer o serviço da colheita da maçã fuji”, relata Rogério.

Além disso, os trabalhadores também podem ser requisitados para outras etapas da safra, como a poda e o raleio, durante o ano da produção.

Acerca da oportunidade de trabalho, o procurador do Trabalho em Dourados Jeferson Pereira esclarece que realiza a fiscalização de tais atividades de contratação há 8 anos, por meio de uma ação conjunta entre Ministério Público do Trabalho, Governo de Mato Grosso do Sul/, Instituto de Direitos Humanos, Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae) e Coletivo dos Trabalhadores Indígenas. 

“Com essa atuação estratégica, buscamos inibir a prática irregular do aliciamento desses trabalhadores e evitar que sejam submetidos a condições degradantes de labor. Ao efetivarmos a intermediação dessas contratações por meio da Funtrab, permitimos que fossem atendidas as demandas das empresas integrantes do setor, bem como a necessidade de subsistência dessa categoria de trabalhadores residente aqui no estado. As empresas apresentam a demanda, a Funtrab dispara as existentes, os trabalhadores procuram a Funtrab e já saem das suas aldeias com os contratos de trabalho devidamente anotados no sistema e-social e na carteira”, explica o procurador.

Segundo o presidente do Coletivo de Trabalhadores Indígenas de Mato Grosso do Sul José Carlos Pacheco, o emprego da maçã aquece a economia dos municípios próximos às 78 comunidades indígenas de origem. “Quem ganha com isso é a sociedade sul-mato-grossense, é a sociedade brasileira. Os indígenas começaram a ter visibilidade pela qualidade de vida que essas empresas estão proporcionando a eles. Caminhando pelas aldeias do estado, percebo a diferença que essas oportunidades estão trazendo. Certa vez, fui a uma aldeia no município de Coronel Sapucaia, quando um trabalhador indígena disse assim: ‘Zé Carlos, venha aqui, está vendo essa casa? Estou construindo com o dinheiro que eu ganhei da maçã'”, afirma o presidente.