Nos últimos três anos, o bioma pantaneiro registra diversos recordes de queimadas. Neste ano, o número de áreas atingidas por incêndio no em Mato Grosso do Sul já são superiores aos cinco primeiros meses de 2021, conforme o monitoramento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Embora os registros sejam menores comparados ao ano de 2020, período em que o Estado sofreu o pior índice de áreas danificadas pelo fogo em 50 anos, em 2022 o continua sendo de preocupação, elevada pelo período de seca antecipada, situação que muda a paisagem de planícies.

Conforme o balanço do mapa espacial, em 2020, o número total de queimadas foi de 4.024 km², sendo 436 em janeiro, 156 durante fevereiro, 1.036 em março, pico recorde de 2.058 em abril e 338 em maio. No ano seguinte, foram 59 registros em janeiro, 23 em fevereiro, 50 no mês de março, 111 em abril e 323 em maio. A soma de 2021 é de 566 áreas por km².

Os quatro primeiros meses deste ano são superiores do ano anterior, principalmente no mês de maio que é maior do que o mesmo período dos últimos três anos, com 408 km² de áreas queimadas. Em janeiro foram 81, fevereiro 37, março 56 e abril 32. A soma é de 614 km² de áreas.

Queimadas
Monitoramento de satélite do Inpe. (Foto: Reprodução)

O último Infoquemada, boletim de monitoramento e risco de queimadas e incêndios florestais, divulgado em dezembro de 2021, classificou o Estado em 6° lugar no ranking nacional com maior foco de fogo ativo no mês, comparado ao mesmo período de 2020. e ocupavam a lista dos 10 municípios brasileiros com maior quantidade de fogo ativo registrado pelo satélite de referência.

O relatório aponta que os efeitos das variações da TSM (Temperatura da Superfície do Mar), especialmente no oceano pacífico, influenciam diretamente na formação de importantes fenômenos meteorológicos que podem favorecer a ocorrência do fogo na vegetação.

“O El Niño tende a intensificar as queimadas porque desfavorece a formação de nuvens e consequentemente, inibe a formação de chuva, essa característica é mais marcante na Amazônia. Por outro lado, durante a La Niña observa-se o oposto deste evento”.

Queimadas e seca antecipada

E neste ano a seca veio mais cedo. Em abril, boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do rio Paraguai, do Serviço Geológico do Brasil, revelou que a redução de chuvas em 2022 indica que as águas podem não inundar a planície, assim como ocorre nos últimos três anos.

De acordo com a Ecoa, ONG ligada à preservação do meio ambiente que integra o Observatório Pantanal — rede que reúne 43 organizações que atuam na conservação do bioma —, a falta de chuvas propicia o alastramento de pequenos focos de calor que podem se transformar em queimadas fora de controle.

“Sem a água para alagar a planície, surge uma extensa área de vegetação com imenso potencial combustível para os incêndios. Além disso, o trabalho de contenção do fogo pode ser prejudicado em regiões onde os corixos, canais e baías estão sem água ou trancados por vegetação, impedindo a chegada de brigadistas para combater as chamas”, afirma o instituto.

Pesquisadores do Ciência do Meio Ambiente Total, Danielle Correa, Enner Alcântara, Renata Libonati, Klécia Massi e Edward Park, divulgaram nesta semana um artigo sobre as condições de mudança nos incêndios florestais levando em conta a comparação da frequência e intensidade das ocorrências entre 2000 a 2021.

O estudo afirma houve aumento na frequência de áreas queimadas, principalmente, em pastagens do que em outros tipos de cobertura de sola, em contraste com as áreas de terra de cultivo, com poucas manchas de dano causada por incêndios florestais.

Há solução?

Cientistas da Embrapa da Embrapa Pantanal; ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), e o escritório brasileiro da Panthera, um grupo global de conservação de felinos selvagens, publicaram uma carta aberta na revista BioScience pedindo visão das autoridades para o problema eminente das queimadas.

O Pantanal soma 179.000 quilômetros quadrados de área territorial no Brasil e é uma das maiores planícies de água doce do mundo. A carta alerta para um possível colapso ecológico, econômico e social com os efeitos cumulativos de decisões do poder público, apontando a esperança na construção de barragens e projetos de dragagem fluvial para facilitar o transporte de barcas de grãos pela região.

A União decretou a suspenção do e manejo de fogo por 120 dias, desde 23 de junho, liberada apenas em casos de prática para prevenção e combate a incêndios realizadas ou supervisionadas por instituições públicas responsáveis pelo combate e prevenção de incêndios; práticas de agricultura de subsistência feitas por povos tradicionais e indígenas e atividades de pesquisa científica autorizadas por órgão ambiental competente.