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Cotidiano

Rota do lixo: dos lares ao destino final, Campo Grande produz mais de 800 toneladas de resíduos por dia

Descarte regular e irregular cria um sistema formado por diferentes frentes que ajudam o meio ambiente em paralelo ao lucro
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Galpão de empresário recebe cerca de 300 toneladas de resíduos por mês
Galpão de empresário recebe cerca de 300 toneladas de resíduos por mês

Abrir um chocolate, comer e jogar a embalagem no lixo e descascar uma banana, comer e jogar a casca no mesmo lixo. Atos tão comuns e rotineiros que escondem um gigantesco processo de trabalho e logística que indicam os caminhos dos resíduos em Campo Grande. Resíduos que podem ser reciclados, vendidos ou aterrados.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima que Campo Grande possua pouco mais de 916 mil pessoas, que produzem e descartam resíduos diariamente, gerando um total de mais de 800 toneladas diárias de lixo, apontam dados da Solurb enviados ao Jornal Midiamax. Segundo a empresa responsável pela limpeza e manejo de resíduos do município, a população de Campo Grande gerou mais de 256.200 toneladas de lixo no ano de 2021.

Os números informados pela Solurb não representam o montante real da quantidade de resíduos descartados em Campo Grande, pois boa parte é destinada a empresas de reciclagem ou apenas descartados de forma irregular. Essa quantidade à parte criou uma cadeia econômica baseada na reciclagem, que lucra, mas também ajuda o meio ambiente.

A reportagem decidiu conhecer as duas principais válvulas dessa engrenagem, que formam um sistema funcional e de realidade opostas. O descarte irregular de milhares de habitantes é a fonte de renda que promove a sobrevivência de centenas. Os catadores informais passam os dias em busca de resíduos em calçadas, terrenos e diversos outros lugares, que, ao final do dia, garantem o dinheiro para a próxima alimentação.

Anderson Silva, de 49 anos, é uma dessas pessoas. Residindo em uma ocupação localizada no bairro Parque do Sol, passa o dia em busca de lixo descartado por moradores da redondeza. “Trabalho com isso há cinco anos, onde eu moro a maioria trabalha com reciclagem, se você passar em frente consegue ver os carrinhos na frente das casas”, comentou.

Anderson conta que viu na reciclagem uma forma de sobreviver após acidente. (Foto: Leonardo de frança/Midiamax)

 

No momento abordado pela reportagem, por volta das 17h, Anderson já encerrava o expediente e se dirigia a um galpão de reciclagem para vender os materiais encontrados. “Vendo hoje para comprar o almoço amanhã”, comentou. Apesar de bem-humorado, as dificuldades vivenciadas pelo catador são visíveis, mas para ele, o importante é ter seu ganha-pão em conjunto com a legalidade.

As viagens dos ‘Andersons’ espalhados por toda Campo Grande tem um destino comum, as empresas de reciclagem. Na outra ponta desta corda, as empresas de reciclagem, com grande estrutura, detêm maior lucro. Edson Nani, de 63 anos, trabalha há 30 anos no ramo da reciclagem, apenas na sua empresa, Recipel, são coletadas cerca de 300 toneladas de resíduos por mês. Em Campo Grande, existem dezenas de outras empresas como a Recipel — informação que possibilita que tenhamos uma pequena noção da quantidade de lixo produzido na Capital.

Estruturado e experiente, Edson possui 12 funcionários que atuam no interior da empresa e também nas ruas. Basta uma pequena olhada em seu galpão para nos surpreendermos com a quantidade de resíduos armazenados, todos comprados de catadores, empresas e pessoas com todo tipo de produção.

Edson comenta sobre a mudança observada no cenário da reciclagem formado em Campo Grande. Antes funcionado com dois extremos, catadores e empresas, duas novas engrenagens ganham cada vez mais espaço nessa máquina: famílias e empresas.

“Há quinze anos as pessoas que traziam os resíduos eram em grande parte catadores, que fazem disso seu meio de sobrevivência. Hoje, temos diversas empresas que descartam toneladas de lixo, além de famílias comuns que passaram a separar o lixo e trazer até nós, assim eles cuidam do meio ambiente e ainda conseguem uma renda extra”, comentou.

Edson trabalha no ramo de reciclagem há 30 anos. (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

 

Como já afirmado pelo próprio, Edson acredita que a conscientização da população é a chave para esse aumento na quantidade de material comprado pelas empresas. “Elas passaram a ter noção da importância da reciclagem”, comentou. Vale lembrar que a separação dos materiais descartados e a destinação correta para os mesmos é essencial para a preservação do meio ambiente.

Rotas do lixo

O lixo produzido diariamente possui caminhos já predefinidos para descarte ou reciclagem. É presido lembrar que a forma como cada um descarta seu lixo irá definir o destino do material. Para a reportagem, a Solurb explica que todo o material coletado de forma tradicional, ou seja, o famoso ‘caminhão do lixo’, é destinado ao Aterro Sanitário Dom Antônio Barbosa, localizado no bairro homônimo de Campo Grande.

Como dito no início da reportagem, a embalagem de chocolate e a casca de banana, se descartados da mesma forma, terão o mesmo destino — a Solurb não realiza a separação neste caso. A separação fica a cargo da população, tornando possível o descarte regular.

Em Campo Grande, a Solurb implementou Ecopontos, onde qualquer pessoa pode realizar o descarte de materiais. “Os resíduos da construção civil são encaminhados para Aterro de Resíduos Inertes; Resíduos recicláveis para as cooperativas de recicladores; Resíduos eletroeletrônicos, para a empresa especializada de reciclagem de eletrônicos e eletrodomésticos; O restante dos resíduos são encaminhados para o Aterro Sanitário Dom Antonio Barbosa”, explicou a empresa.

Onde descartar

De acordo com a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), os resíduos eletroeletrônicos devem ser destinados aos Ecopontos. Neste caso, é necessário que o cidadão se desloque ao endereço, mas o descarte ainda é gratuito. Nestes locais, o cidadão pode destinar diversos aparelhos como computadores, televisores, ventiladores, micro-ondas, entre outros.

Vale lembrar que apesar de receber materiais eletrônicos, os Ecopontos não recebem os chamados ‘resíduos de classe I’, ou seja, perigosos (inflamáveis, corrosivos e reativos), como pilhas e lâmpadas. Neste caso, os materiais devem ser descartados em pontos específicos (clique aqui para ter acesso ao mapa desses locais).

Resíduos orgânicos podem ser descartados por meio da coleta convencional, que ocorre de porta em porta. Empresas como a de Edson recebem papéis, plásticos, metais, baterias e outros, que são separados e enviados para empresas localizadas em outros Estados para que o material seja reciclado e se torne um novo produto. Resíduos hospitalares e remédios podem ser descartados em farmácias.

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