Pantanal tem aumento de 15% em desmatamento em um ano, diz pesquisa

Uma pesquisa divulgada pelo MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil) mostra que o Pantanal teve um aumento de 15,7% na área desmatada entre 2020 e 2021. Além disso, a pesquisa levantou que também houve aumento de 50,5% nos alertas detectados. O levantamento constatou que o Brasil perdeu 16.557 km2 (1.655.782 […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Incêndios no Pantanal
Incêndios degradam o Pantanal desde 2020 (Foto: Divulgação/CBMMS)

Uma pesquisa divulgada pelo MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil) mostra que o Pantanal teve um aumento de 15,7% na área desmatada entre 2020 e 2021. Além disso, a pesquisa levantou que também houve aumento de 50,5% nos alertas detectados.

O levantamento constatou que o Brasil perdeu 16.557 km2 (1.655.782 ha) de cobertura de vegetação nativa em todos seus biomas no ano passado, equivalente a um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Com a tendência de alta no desmate nos últimos três anos, nesse período o Brasil perdeu
quase um Estado do Rio de Janeiro de vegetação nativa.

Também aumentou a velocidade média de desmatamento no país, que passou de 0,16 hectares/dia para cada evento de desmatamento detectado e validado em 2020 para 0,18 hectares/dia em 2021. Com uma média diária de 191 novos eventos, a área de desmatamento por dia em 2021 foi de 4.536 hectares – ou 189 hectares por hora. Somente na Amazônia foram 111,6 hectares desmatados por hora ou 1,9 hectare por minuto, o que equivale a cerca de 18 árvores por segundo.

O estudo, que refinou e validou 69.796 alertas de desmatamento em 2021 em todo o território nacional, avaliou individualmente cada evento de desmatamento cruzando com dados de áreas protegidas, autorizações e cadastro ambiental rural (CAR) e encontrou indícios de irregularidades em mais de 98% dos casos. Apenas em 1,34% dos alertas (que correspondem a 0,87% do total desmatado) não foram encontrados indícios ou evidências de irregularidade.

Esse percentual de irregularidade está em linha com os 99% detectados nos relatórios anteriores (2019 e 2020).

Os alertas de desmatamento que cruzam com com imóveis rurais cadastrados no CAR correspondem a 77% da área total desmatada. Isso significa que em pelo menos 3/4 dos desmatamentos é possível encontrar um responsável. Foram 59.181 imóveis com desmatamento detectado no país em 2021, que representam 0,9% dos imóveis rurais cadastrados no CAR até 2021. São reincidentes por terem desmatamento registrado em 2019 e/ou 2020 19.953 imóveis registrados no CAR.

Quando considerado o período de 2019 a 2021 o número de imóveis com pelo menos um evento de desmatamento detectado sobe para 134.318, o que representa 2,1% dos imóveis rurais brasileiros. Em outras palavras, não foi detectado desmatamento nos últimos 3 anos em quase 98% dos imóveis rurais.

Desmatamento na Amazônia

Conforme a pesquisa MapBiomas, a Amazônia foi a grande frente de supressão da vegetação nativa do Brasil nos últimos três anos. Dados mostram que esse bioma concentrou 59% da área desmatada e 66,8% dos alertas de desmatamento em 2021. Foram mais de 977 mil hectares de vegetação nativa destruídos no ano passado – um crescimento de quase 15% em relação aos 851 mil hectares desmatados em 2020 que, por sua vez, já haviam representado um aumento de 10% em relação aos 771 mil hectares de desmate em 2019.

Em segundo lugar, vem o Cerrado, com pouco mais de meio milhão de hectares (30%), seguido pela Caatinga, com mais de 116 mil hectares (7%). Mesmo com menos de 29% de sua cobertura florestal, na Mata Atlântica foram desmatados 30.155 ha – 1,8% da área dos alertas.

Apesar de responder pela menor área de alertas (0,1% do total), o Pampa quase dobrou o
montante desmatado (92,1%). No Pantanal se observou um aumento de 50,5% nos alertas
detectados e 15,7% na área desmatada entre 2020 e 2021.

Juntos, Amazônia e Cerrado representaram 89,2% da área desmatada detectada em 2021. Quando somada a Caatinga, os três biomas responderam por 96,2% das perdas. Os maiores aumentos, em relação à área desmatada em 2020, ocorreram na Amazônia (126.680 ha) e no Cerrado (83.981 ha), enquanto que em termos proporcionais, ocorreram na Caatinga (88,9%) e no Pampa (92,1%). No caso da Caatinga, o aumento está relacionado ao aprimoramento da nova fonte de dados usada pelo MapBiomas, o SAD Caatinga, especializado na detecção de desmatamento em matas secas no bioma.

Pantanal em alerta

Em 2021, o Pantanal sul-mato-grossense enfrentou queimadas incessantes que mobilizaram brigadas e efetivo intenso do Corpo de Bombeiros em MS. Com o período de estiagem se aproximando, o Pantanal, que ainda se recupera do ‘pesadelo’ do ano passado, já encara alerta para a época de seca e queimadas.

O biólogo, doutor em Ecologia e Conservação pela UFMS, José Milton Longo, explica que a região do Pantanal é marcada por estações bem definidas de chuva e seca. 

Na atual estação de chuvas, as precipitações, principalmente nas cabeceiras do Paraguai, elevam o nível do rio, que transborda e gradativamente alaga. Em seguida, a pastagem é ‘trocada’ por mato mais volumoso, que “é alvo” dos produtores.

“Com o fim das chuvas, as lagoas secam gradativamente e dão lugar ao campo limpo, área predominante de capim, campo sujo — com alguns arbustos e poucas árvores — e campo de murundum, com ilhas de árvores e arbustos, na estação de seca, que perdura aproximadamente de maio a outubro. Os incêndios costumam acontecer principalmente no fim do período de seca — com risco agravado pela substituição do capim nativo da região pelo capim africano, mais volumoso —  promovida pelos pecuaristas e pelo manejo com o uso do fogo”, comenta.

Ele explica que a partir daí é necessário conscientização e educação ambiental de que é possível retirar esse capim volumoso sem a necessidade do uso do fogo.

“Precisamos de muita educação, sobretudo educação ambiental, que hoje é pontual. Os produtores precisam entender que há alternativas para a limpeza dos pastos sem a utilização do fogo”, defende Longo. “A conscientização, e urgente, é o único caminho para evitarmos o réquiem do Pantanal”, finaliza.

Conteúdos relacionados