A sala onde frequenta como titular da SES (Secretaria de Estado de Saúde), há cerca de duas semanas, é uma velha conhecida de Flávio Britto. Antes chefe de gabinete do ex-secretário Geraldo Resende, agora assume a pasta. Após 3 anos e 3 meses, em que vivenciou diversos problemas ao lado da equipe, incluindo a tragédia mundial da covid, ele diz que trabalhará com foco na gestão e faz o alerta de que “não se deve distanciar da ciência para viver de achismos”. 

O Jornal Midiamax fez a primeira entrevista exclusiva com Britto após assumir a Secretaria. Desde a nomeação, no início deste mês, ele fala que participou somente de dois eventos, sendo a inauguração do Hospital Regional de Três Lagoas, na região leste do Estado, além de outra agenda no município de Nioaque, no oeste de Mato Grosso do Sul.

“Estive aqui na pasta, antes como chefe de gabinete. Acompanhei todo o trabalho, toda a tragédia mundial da covid e estamos caminhando para o fim da pandemia, mas, isso é a OMS [Organização Mundial da Saúde] quem irá dizer. Hoje nós temos problemas no mundo que sinalizam que a gente tem que tomar cuidado, mas, a verdade é que a população mundial e em Mato Grosso do Sul, obviamente, já estava esgotada, esgarçada dessa situação da covid”, afirmou Flávio.

É por isso que, segundo ele, houve a liberação de uso de máscaras em locais abertos e fechados. “Existe a recomendação para quem quiser fazer uso, claro. Mas, também houve a liberação, muito sabiamente, através do nosso COE [Centro de Operações de Emergências], que é uma instância de decisão e também do [Programa de Saúde e Segurança da Economia], de liberar máscaras, de ter outros cuidados, outras situações que possam também amenizar o problema para a população”, argumentou.

MS fez “trabalho tremendo” na Saúde, diz secretário

Conforme Britto, o Estado se tornou referência quanto ao combate da covid, com ação conjunta nos 79 municípios. “Foi um trabalho tremendo, dedicação desde um município pequeno como até a nossa Capital e passando por e Aquidauana. Em todos, a dedicação foi a mesma, de pessoas que trabalharam muito em prol da saúde, muitas delas inclusive sendo contrariadas por gente que não queria se vacinar. Também tivemos pessoas questionando as doses. No meu caso, tomei quatro doses. Tenho mais de 60 anos, trabalho na saúde, tenho esse direito. E, se tiver mais doses, a quinta, sexta, oitava, vou tomar também”, disse.  

Secretário na primeira entrevista exclusiva após assumir a SES. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Ao dar continuidade no assunto, o secretário explica que, em momento algum, a população deve se libertar das pesquisas científicas. “Você não pode se distanciar da ciência. Pra quê? Para fazer com achismo? Não, não se pode distanciar em momento algum da ciência, então vai aqui o meu agradecimento a todos os secretários municipais de saúde, de todos os municípios, além de todas as pessoas envolvidas nesses drives-thrus do interior, nas campanhas em áreas indígenas, quilombolas e áreas de fazendas também, de difícil acesso”, explicou. 

Caravana da Saúde será ‘repaginada'

Famosa pelos milhares de exames e cirurgias, principalmente a da catarata, a será retomada, conforme Britto. “Esse foi um extenso trabalho que tivemos com caravanas, carretas, tendas e caminhões, com aqueles mutirões, inclusive na área oftalmológica. Agora, o que pretendemos é ter todas as especialidades (realizada em clínicas e hospitais) e isso já é uma realidade com recursos liberados em R$ 120 milhões para este programa. Em abril, o Governo do Estado liberou quase R$ 26,5 milhões de emendas parlamentares que já foram empenhadas para aplicação em serviços de ação em saúde em 2022”, ponderou.

‘Herança' da pandemia

Os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). De acordo com Flávio, esta foi a maior herança deixada pela pandemia. “Muitas cidades do Estado sequer tinham um leito e com a pandemia agora poderão ter este atendimento especializado. Acompanhei de perto a luta pelos leitos e considero esta a maior herança para a população do interior do Estado”, avaliou.

Ocupação de leitos de UTI caiu de 100% para 80% nos hospitais de Dourados
Leitos de UTI em , na região sul do Estado. Foto: Midiamax/Arquivo

Experiências anteriores

Atuante em Mato Grosso do Sul há 35 anos, formado e pós-graduado em gestão pública, Flávio já foi superintendente da Cobal (Companhia Brasileira de Alimentos) e depois presidiu a (Companhia Nacional de Abastecimento). Em seguida, atuou na assessoria de políticos e foi para a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) por cerca de 8 anos, onde acompanhou situações de desnutrição em aldeias de Dourados, na região sul do Estado. 

“Na Funasa eu tive o privilégio de atuar na maior crise de mortalidade infantil, por conta desnutrição nas aldeias de Dourados. Este problema inclusive foi objeto de CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito]. Nós conseguimos ultrapassar esse momento e lembro que o Brasil inteiro olhava para esse situação. Também trabalhei no Fundesporte [Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul] e criei o bolsa atleta em Mato Grosso do Sul”, relembrou.

Ao falar da atual equipe da SES, o secretário a qualifica como “um time que deu certo”. “O que eu pretendo fazer é gestão com toda a equipe. Se tudo der certo, vamos ter um momento ímpar e olhar para dentro, para os nossos projetos. Pretendemos trabalhar com a saúde da mulher, do homem, criança, saúde prisional, RUE [Rede de Urgência e Emergência] e vários outros programas. Não haverá mudanças na nossa equipe e eu fiz questão de convidar todos a permanecerem, os diretores e a secretária adjunta. Aqui é um time e vamos olhar para dentro da nossa casa”, finalizou.