O quão violento o mundo é para uma mulher a ponto de que ela cresça tendo que receber ‘dicas' de como se proteger de em uma situação de medo, abuso e/ou vulnerabilidade? Qualquer mulher crescida já ponderou conselhos ou atitudes do que fazer em uma situação de risco. Os dados estatísticos e fatos corriqueiros faz crescer redes de apoio para mulheres de como lidar com situações da rotina.

Ativista pela emancipação feminina e Co-fundadora do Coletivo Ela Podem, Aimê Martins, explica que a unidade trabalha com um propósito pedagógico, se reunindo em palestras, encontrou e bate-papos virtuais. O constante medo das mulheres em situação de perigo faz com que seja debatido estratégias de defesa.

“Nomeamos essas violências e como pedir ajuda. É muito importante compartilhar informações de como a violência se apresenta, por exemplo, como o stalker, assédio na rua. Com isso, nós podemos ter atitudes para só para se defender, mas se proteger. Esse trabalho de falar sobre, o que caracteriza cada coisa e pedir ajuda é o primeiro passo. A partir daí, pensamos em como formar estratégias de enfretamento, seja individual ou coletivo”.

Dentro as estratégias individuais estão dinâmicas de compartilhamento da localização em tempo real durante um trajeto no carro de aplicativo, desabafar com uma amiga sobre a situação ou até estratégias em espaços públicos, como as universidades e empresas.  

“Mecanismo de defesa é porque temos medo”

O mecanismo de defesa é porque nós temos medo, isso acontece com todas; temos dados e estatísticas para comprovar que toda mulher já passou por uma situação até chegar na vida adulta, seja de violência ou de assédio. Nós temos preocupações que um homem não tem quando sai, quando anda da rua, quando saem à noite. Importante ressaltar que um evento é responsável pela segurança das mulheres que lá estiverem. Os profissionais precisam estar atentos e capacitados para agir em situações de violência. Acho perigoso sempre colocar a responsabilidade de se proteger em cima da mulher, quando na verdade é uma responsabilidade do estado, da sociedade e das empresas também”, pontua.

Alessandra Sampaio Lopes, líder do movimento Elas Mais Elas, ressalta que deve haver mais políticas para conscientização dos homens, já que em vez da vítima buscar métodos para se defender, o público masculino deve ter ciência do medo e da violência que persegue mulheres a vida toda.

“Em nossas reuniões, buscamos entender qual o em que a violência aconteceu, seja ela física, moral ou emocional. Os homens devem entender que o mundo é privilegiado para ele. Um exemplo que sempre é claro, homens podem ser assaltados e ponto, nós podemos sofrer uma violência ainda mais dilacerante, a dor de ser abusada”.

aplicativo
(Foto: ilustrativa/ Reprodução/Arquivo).

Uma cuida da outra

A universitária Yasmin Camargo Silva, de 23 anos, conta que durante as festas universitárias, o lema com as amigas é que cada uma cuide da outra. “Se uma vai no banheiro, outra vai junto. A gente sabe que por mais que jovem e na intenção de curtir a festa, sabemos dos riscos, por exemplo, de experimentar bebidas de cunho duvidoso, de sair um minuto para beijar alguém. Mulher tem que ficar atentar, precavida. É assustador, mas é a realidade de todas nós”.

Outra precaução é compartilhar a corrida de aplicativo ou localização em tempo real com as amigas e familiares. Yasmin explica que isso dá mais segurança para quem permanece na festa de saber se chegou bem em casa. “Claro que isso não uma que nos defende de uma situação perigosa, mas é só mais um jeito de resguardar”, finaliza.