No vai e vem de pratos em um bar ou restaurante, quem se destaca são os garçons pelas mesas, entre o equilíbrio das bandejas, na boa memória para guardar os pedidos e ao responder aos chamados  de “Chefia”, “Campeão” e “Amigo, vou fechar a conta”. Seja garçom ou garçonete, este 11 de agosto celebra a data desses profissionais, responsáveis por tornar um evento ou refeição uma experiência mais especial.

Josiane dos Santos, de 47 anos, é mais conhecida como “Jô” pelos clientes e colegas de trabalho. Mais da metade deste tempo de vida atua como garçonete. Entrou na área em 1997, trabalhou em diferentes restaurantes e há sete anos exerce a função de maitre e gestora de atendimento.

Continuou na profissão por gostar de conversar com os clientes e amar o que faz, mas lamenta que hoje o ramo não é tão valorizado como antigamente. “O que eu não gosto é quando o cliente falta com respeito aos garçons que estão atendendo. Sempre faço com que eles sejam muito bem tratados, como maitre posso tomar partido e corrigir ambos os lados”, ela defende.

Colecionou amigos ao longo desses 25 anos na área e recorda com saudade da Corrida da Bandeja, realizada no bairro Tiradentes e, posteriormente, no Antártica. Jô ganhou 11 edições e coleciona troféus e recortes de jornais que registraram essa época. “Hoje já não corro, mas era muito bom”, relembra.

Das situações engraçadas com os clientes, ela coloca em primeiro lugar os pedidos de casamentos que não deram certo. Até chega a ficar sem graça pela recusa das aspirantes a noivas. Além dessas situações, Jô também ajuda quem quer fazer uma surpresa para os companheiros de longa data. “Tem um cliente que todo ano eu entrego presentes para a esposa dele, faço isso há cinco anos”, afirma.

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Jô colecionou vários troféus na corrida da bandeja. (Foto: Arquivo Pessoal)

Floriano de Andrade tem 52 anos e há 30 trabalha como garçom e diz que o que gosta na profissão é da vida um pouco imprevisível. Todo evento é único e pensado pela equipe para atender aquele cliente. “Cada festa é um povo diferente, às vezes mais exigente, às vezes mal educado, mas a gente precisa respeitar”, ele declara.

Nessas três décadas como garçom, coleciona histórias engraçadas próprias e dos clientes. Ele conta que, no momento em que se trocava para começar a trabalhar em um casamento, em uma chácara, viu que tinha esquecido de levar as calças. Hoje ri da situação, mas na época precisou “sair correndo”, como ele diz, por 10 km para buscar as partes de baixo do uniforme.

“O que me faz rir dos clientes é aquele que diz ‘vou te dar uma caixinha'. O garçom serve tanto para ele que o cliente nem lembra por qual porta sai e o cara perde a caixinha e tudo”, ele ri. No mesmo grupo de clientes bêbados, há os que insistem em convidar os garçons para dançar e beber, convites que são recusados.

Além de histórias divertidas, há os pesares da profissão. Floriano relembra que em um casamento, no interior do Estado, o noivo fechou as portas e decretou que nenhum funcionário ou convidado iria embora até que o celular dele fosse encontrado. Mais tarde, um parente que tinha levado a mãe do noivo embora retornou para a festa carregando o aparelho que tinha sido levado por engano por ela e pediu para devolver ao filho. 

“Tudo que some em uma festa é um garçom, se some uma bolsa, um celular, uma chave. Eles põem no lugar e depois no outro e acham que foi o garçom”, lamenta.

Emerson Rocha, de 28 anos, começou novo no mundo dos restaurantes. Aos oito anos trabalhava no estabelecimento do pai, em , a 296 km de , lavando os pratos e entregando as bebidas nas mesas. Ficou alguns anos afastado da área, mas como ele mesmo diz, quem é “amigo da bandeja” sempre volta para a função. “Mesmo que vá trabalhar em outra área, nos finais de semana a pessoa trabalha como freelancer como garçom ou barman”, diz.

Mora há 12 anos em Campo Grande e hoje atua em uma churrasqueira, mas no currículo acumula experiências em hamburgueria e masseria, além de de drinks, vinho, maitre, para se profissionalizar. Emerson conta que era muito tímido quando e tinha medo até de abrir uma cerveja e quebrar o gargalo. Com o trabalho de garçom em Bonito foi deixando de lado o medo, aprendeu a atender e ter o “jogo de cintura” a depender de quem está na mesa. 

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Emerson trabalha há 15 anos como garçom. (Foto: Marcos Ermínio/ Midiamax)

“É um ramo que precisa gostar do atendimento. Tem clientes que você sabe tudo sobre a família e tem clientes que não olham na sua cara, tem outros que só se comunicam por gesto”, ele assegura.

Ele recorda que os hábitos de ir em um restaurante e o perfil dos consumidores mudaram ao longo do tempo. Os jovens agora procuram primeiro olhar o valor antes da qualidade e que, em qualquer estabelecimento, dos simples aos mais elegantes, as pessoas não conversam e nem se olham, preferem mexer no celular.

Outro ponto em que Emerson vê mudanças é na agilidade que a tecnologia trouxe para os restaurantes e bares. O jovem relembra que, antes, os pedidos eram escritos em uma folha com papel carbono embaixo. Três comandas eram feitas, uma ia para o caixa, outra para a cozinha e uma para o bar. Hoje, os pedidos são anotados em um sistema digital do restaurante. “Mas se tem queda de energia nos atrapalha porque aí não sabemos nem o que foi na mesa”, ele pondera.

Trabalho em MS

De acordo com o presidente do do Sinthorems (Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares), Hélio Amâncio Pinto, nos últimos anos tornou-se difícil precisar quantos garçons e garçonetes trabalham no ramo em Campo Grande, mas estima que sejam em torno de 4 mil profissionais.

“Com as novas plataformas para atendimento aos clientes, como fast food, delivery ou self service, reduziu em muito o número de garçons nos estabelecimentos de restaurantes e similares. Dessa forma, hoje os empresários já estão até mudando a função de garçom para atendente, isto é, para que o mesmo possa exercer outras funções dentro do restaurante, como atender o cliente na mesa ou balcão, inclusive como caixa”, ele explica.

Outro fator que dificultou o controle da quantidade de profissionais na área foi a retirada da obrigatoriedade de contribuição sindical após a aprovação da reforma trabalhista, em 2017. “Sem ter as contribuições dos trabalhadores ficamos sem ter mais o acompanhamento nas assistências aos mesmos, assim perdemos um pouco do controle de quantos profissionais existem de fato na categoria”, diz Hélio.

A assistência que o presidente do Sinthorems se refere era uma ajuda que o sindicato dava ao trabalhador, em caso de acidentes e afastamentos do serviço. O garçom Emerson Rocha, inclusive, mencionou que lamenta essa perda de união que tinha entre os profissionais. 

“Antigamente, o pessoal se juntava e ajudava os colegas. Hoje não tem mais. O garçom trabalha com o corpo, se torce o pé ou o braço fica afastado. Infelizmente, hoje eles passam necessidade e ninguém fica sabendo porque ele não conta”, conta.

Capacitação

Para quem tem interesse em entrar na área ou se aperfeiçoar, o (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) oferta cursos de garçom e garçonete, com possibilidade de encaminhamento ao mercado de trabalho, como explica a coordenadora pedagógica do Senac Turismo e Gastronomia, Fátima Torres.

“Algumas empresas do setor de alimentos e bebidas nos informam a disponibilidade e repassamos as vagas aos alunos e egressos dos cursos, na tentativa de colocá-los no mercado de trabalho. Entretanto, não temos profissionais suficientes para a ocupação das vagas, devido à alta demanda”, ela afirma.

Durante o curso, serão abordados tópicos como ética profissional, riscos da profissão, legislação sanitária; atendimento ao cliente; noções de cardápios e harmonizações; tipos de serviços, organização do ambiente, dentre outros conhecimentos para o perfil profissional. O requisito para ingressar no curso é ensino fundamental completo e ter idade igual ou superior a 18 anos.