Entre imigrantes, mulheres são maioria e enfrentam violência doméstica em Dourados

Elas também são afetadas pelo desemprego na maior cidade do interior de MS

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Mulheres e as meninas são as mais afetadas no fluxo migratório
Mulheres e as meninas são as mais afetadas no fluxo migratório

Na semana em que a sociedade reflete os desafios enfrentados pelas mulheres em todo o mundo, na maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul, dos mais de 5 mil imigrantes, mais da metade é do sexo feminino. É o que mostram os números divulgados pela Acnur (Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados).

“Em crises humanitárias como as que estamos vivendo, as mulheres e as meninas são as mais afetadas. Elas estão expostas à pobreza, separação da família e às dificuldades de acesso a serviços básicos, bem como aos maiores riscos de violência”, relata Mariana Gomes Rocha, coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres e gestora da Rede de Coordenadorias do município.

Durante pronunciamento na “Tribuna Livre” da Câmara Municipal de Vereadores, nesta segunda-feira (7) Mariana fez um mapeamento das dificuldades vivenciadas pelas mulheres imigrantes em Dourados. “Essas mulheres que fazem parte do processo de fluxo migratório em Dourados representam 54% de quem migra e 91% delas tem filhos”, relatou a coordenadora aos parlamentares municipais.

Atualmente, segundo Mariana, entre documentados e indocumentados Dourados tem cerca de 5 mil imigrantes, entre venezuelanos, haitianos, paraguaios, colombianos e representantes de outros países. “Dourados é um dos maiores polos de recepção de imigrantes do Centro Oeste Brasileiro, em grandes partes oriundos dos translados da Operação Acolhida”, explica.

Foto: Valdenir Rodrigues

Desafios

Além do desemprego, que atinge 38% dessas mulheres, que também são as responsáveis pelos cuidados com as crianças e idosos, outra situação que preocupa é a violência doméstica. No ano passado tivemos a perda de uma menina venezuelana de 19 anos, que foi vítima de feminicídio nesta cidade”, lamentou Mariana, que pediu apoio dos vereadores para ajudar na organização da governança migratória em Dourados.

A lista de desafios para que trabalha com as questões migratória em Dourados é o idioma, considerado principalmente a população de haitiano existente na cidade é o idioma. Para facilitar o acesso desses imigrantes aos serviços disponibilizados pelo município é de fundamental importância do gerente do núcleo de políticas de imigração, Jean Kenson Jolne.

Além de estar na linha de frente dos trabalhos com Mariana, por dominar fluentemente, espanhol, francês, inglês crioule, português e italiano, o haitiano também atua interprete dos imigrantes. “Tem muita coisa que eles não entendem e eu tenho que fazer a intermediação. Diante dessas situações, a gente acompanha muitas histórias de vida”, explica Jean.

Uma delas é a da haitiana Sabine Jacques. Sem praticamente conseguir nenhuma palavra em português, a imigrante entrou em trabalho de parto durante a madrugada, mas não tinha como chamar uma ambulância em francês. Nem ela, nem o marido.

O jeito foi acionar Jean, que quando chegou na casa onde ela morava, os gêmeos Wilvens Merilus e Wilvensky Merilus já estavam nascendo. “Ela me ligou 1 hora da madrugada do dia  3 de dezembro. Quando cheguei ela já tinha ganhado os bebês. Aí tive que chamar o pessoal do Samu para finalizar o parto”, relata Jean.

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