Dia de São Cosme e Damião agita comércio de doces e faz Umbanda agradecer por curas

Data religiosa movimenta o comércio de doces em Campo Grande, escolas e devotos por todo o Estado

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São Cosme e Damião, doces, Umbanda
Doces e imagens de São Cosme e Damião em uma loja de Campo Grande, ilustrativa (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

O dia de São Cosme e Damião é tradicionalmente celebrado nesta terça-feira (27), mas você já se perguntou qual o significado desta data e o quanto ela influencia no comércio de Campo Grande? O Jornal Midiamax foi até as ruas da cidade para sentir o impacto nas vendas e conversou com representantes de um centro de umbanda para entender sobre a espiritualidade da data para a religião.

Para o gerente de uma loja de doces na 7 de setembro, Heitor Silva, de 31 anos, a procura já foi notada. “A procura por doces aumentou em 30%, e acredito que ainda vai aumentar e muito. As pessoas compram antes para não faltar, é uma data boa para o pessoal dos doces”, disse ele.

Na sua loja, os produtos mais procurados são a pipoca doce, maria mole, suspiro, jujuba e balas. “Eles procuram algo mais barato e que faça mais volume. Geralmente eles compram para doação, ou porque fez alguma promessa”, disse ele.

“Hoje uma mulher comprou mais de R$ 1 mil em doces, todo ano ela faz pacotes para entregar em comunidades carentes”, explicou.

Na rua Dom Aquino, o gerente de uma casa de doces, Wiliam do Vale, de 55 anos, até reforçou o estoque para a data. “A média de estoque da pipoca doce é de 250 fardos, agora estamos com 2.500 fardos”, detalhou.

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Fardos de pipoca são um dos itens mais procurados (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

A expectativa é que o movimento no caixa do mês aumente significativamente. “Aumenta em 20% o faturamento no mês. O ano passado já deu um fluxo bom quando estava liberando, mas esse ano o pessoal está mais animado. O fluxo está maior e o pessoal está mais empenhando em doar, está disposto a gastar”, explicou.

A procura na loja vem de diversos municípios do Mato Grosso do Sul por diversos motivos. “Quem passou por momentos trágicos [na pandemia] está se sentindo melhor para poder doar de alguma forma. Vem representantes de escola, professores, pais e pessoas do interior: Maracaju, e Corumbá que é muito forte. Muitas vezes são promessas antigas de família que o pai fez e o filho continuou”, explicou.

Significado do São Cosme e Damião na Umbanda

No TUCMV (Terreiro de Umbanda Cacique Mata Virgem), localizado no Jardim Montevidéu, três gerações da mesma família – Avó, mãe e filha – conversaram com o Jornal Midiamax sobre a data. A sacerdotisa Elva Marina Capli, de 73 anos, contou um pouco sobre o significado da data. “A espiritualidade é sobrenatural e inexplicável. São Cosme e Damião auxiliavam os farmacêuticos e médicos na cura de doenças em crianças. Os doces são oferecidos como agradecimento pela cura”, explicou.  

Decoração para a festa de São Cosme e Damião em anos anteriores (Foto: Divulgação / Terreiro de Umbanda Cacique Mata Virgem)

Também sacerdotisa do terreiro, Eliane Marina da Silva, de 51 anos, traçou um paralelo sobre o significado dos doces para a religião nos dias atuais. “Os ‘cosme’ quando se manifestam vêm como criança, e para agradar à gente da bala, guaraná, pirulito. Por isso, se tornou uma tradição, toda festa de São Cosme e Damião tem que ter o doce, o bolo deles para distribuirmos para as crianças. É um símbolo para comemoração do dia deles, a Igreja Católica celebra no dia 26 de setembro e a Umbanda no dia 27”, detalhou.

Elva Marina Capli também explicou sobre a ligação da comemoração em relação ao catolicismo. “A umbanda veio do catolicismo, a gente tem Deus e Jesus na frente. Tanto que nós cultuamos a Maria e Cristo. Ele na frente e os mensageiros atrás. Praticamente todos os santos da igreja católica têm na umbanda”, detalhou.

Lidando com o preconceito e abrindo as portas para outras religiões

A sacerdotisa também explicou como lidar com a relação de preconceito, e os fundamentos da religião. “Fala que a gente é do ‘demo’ e criticam a nossa religião. Mas para nós o caminho é um só, é o caminho de Deus. Não tem problema se um irmão quiser ir à católica”, disse Elva Marina Capli.

Eliane Marina da Silva ressalta que a celebração é portas abertas para qualquer religião. “Nós comemoramos a data para fazer uma homenagem a São Cosme e Damião, uma forma de agradecimento pelas bênçãos recebidas durante o ano. Abrimos as portas, todos são bem vindos independentemente da religião. A umbanda representa amor, caridade e humildade, não temos porque desfazer de outras pessoas que são de outras religiões, se ele vem de coração aberto para receber um doce, nós vamos estar aqui. Que ele seja abençoado e que cada vez mais tenha mais prosperidade e saúde no seu lar”, explanou.

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Altar no Terreiro de Umbanda Cacique Mata Virgem (Foto: Ranziel Oliveira / Jornal Midiamax)

A participação de pessoas de fora é notória nas doações. Caso os doces sobrem, o Terreiro de Umbanda se prontifica a ajudar comunidades carentes. “Muitas pessoas procuram e falam: Eu não participo e não sou da umbanda, mas eu pedi uma graça e ele me antedeu, posso ofertar um doce? Sim, às vezes eles trazem e não participam da festa, mas deixam em forma de agradecimento. Eles sabem que a gente vai distribuir para as crianças. No outro dia, a gente reúne alguns filhos do terreiro, e levamos os doces que sobraram para comunidades carentes. O fato de você ir e entregar um bolo ou um doce para uma criança e receber um sorriso, não existe gratificação melhor”, disse ele.

Anny Karoline Capli da Silva, de 27 anos, cresceu no terreiro e acompanhou as celebrações ao longo de todos os anos, que para ela, têm um significado especial. “Eles são uma entidade de luz que se manifestam como crianças. Não é tanto pelo doce, mas pela alegria que tem o dia. As crianças se divertem e brincam com os ‘cosme’. Você acorda animado e já fica na expectativa de estar aqui junto com eles, porque a energia deles é diferente”, disse ela.

No Terreiro de Umbanda Cacique Mata Virgem, a comemoração foi realizada no sábado (24).

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