Os áudios vazados do deputado Arthur do Val sobre as condições das mulheres da Ucrânia, país que está em guerra com a Rússia, foram classificadas como desastrosas e irresponsáveis pela defensora pública de Neyla Mendes. 

A professora e pesquisadora em gênero, sexualidade e violência Ana Lara Camargo de Castro afirmou que as declarações do parlamentar, além de cruéis, normalizam a exploração de pessoas em situação vulnerável. Lara também é procuradora de Justiça em MS.

Vereadora de pelo PT (Partido dos Trabalhadores), vê a postura dele como absurda, deplorável e nojenta, mas não se mostrou surpresa em razão do histórico do personagem em questão.

Contexto

Deputado estadual por São Paulo e ativista do MBL (Movimento Brasil Livre), Arthur, o Mamãe Falei, viajou para o país do leste europeu sob a justificativa de que ajudaria no amparo aos refugiados do conflito. 

No entanto, foi desmascarado na semana passada por meio de áudios enviados por ele em grupos particulares, que acabaram vazando. Em síntese, ele alega que as mulheres ucranianas são mais “fáceis” de levar para a cama porque são pobres. 

As declarações repercutiram no mundo todo e o deputado acabou se desculpando, alegando que sua fala foi machista e misógina, mas poucos acreditam na sinceridade das palavras e avaliam que ele se posicionou apenas porque foi exposto.

O que dizem as mulheres

Neyla reforça que o discurso é machista e lembra que, além de todo o prejuízo que traz para as mulheres, ainda piorou a imagem internacional do Brasil. “Irresponsáveis, desastrosas e que envergonharam o Brasil no mundo inteiro”, diz a defensora sobre as declarações.

“Ele mostrou quem ele é”, completou. Por outro lado, apesar do constrangimento causado pelos comentários agressivos, Neyla entende que há um ponto positivo, no sentido de que a postura do deputado legitima todas as lutas que as mulheres vêm travando em busca de mais liberdade, dignidade e contra a violência de gênero.

“Vai escancarando como as coisas são, mostram que as mulheres ainda são vítimas do patriarcado. Apesar de estarmos já em 2022, ainda existe o patriarcado e tudo isso o que aconteceu mostra a necessidade da luta e do enfrentamento”, destacou.

Ana Lara, por sua vez, pontuou que os áudios expressam quadro de naturalização da exploração de pessoas em situação de vulnerabilidade. “[…] vale dizer, alguém se manifesta livremente de forma tão cruel por acreditar que haverá validação social do comportamento.

A ideia desse acesso fácil às mulheres em condição vulnerável ocorre tanto em conjuntura de conflitos armados, como já se viu no Haiti, na Bósnia, na Ruanda e incontáveis outros, quanto no cotidiano da violência de gênero, como acontece nos casos de abuso dos contextos (isolados ou interseccionados) de pobreza, discriminação, doença, embriaguez, posição hierárquica ou confiança em relacionamento erótico-afetivo”, comenta. 

Diante deste cenário, ela lembra que o triste episódio serve para alertar quanto à persistente desigualdade nas relações de poder entre homens e mulheres. Lembro ainda que as sanções políticas desencadeadas a partir da exposição das falas do deputado são indicativos de progresso cultural e que manifestações do tipo são encaradas muito mais do que uma piada de mau gosto. “

“Temos muito a progredir no Brasil nas políticas de equidade, mas que, hoje em dia, haja espaço para a responsabilização dessas variadas formas de exploração de vulneráveis e para o rechaço do sexismo recreativo é sinal de avanço”, finalizou.

Camila Jara, taxou as declarações como nojentas. “A fala do deputado Arthur do Val é absurda, deplorável e nojenta. É o tipo de coisa que você para e pensa ‘será que alguém no mundo é capaz de pensar isso?'. Mas infelizmente a atitude do deputado não surpreende, por toda a postura política que ele tem, pelo seu histórico.  O deputado precisa agora prestar explicações não só para a Assembleia de São Paulo, para o Brasil, mas também para o mundo inteiro. Tenho certeza que as mulheres da ALESP vão lidar com esse episódio com muita sororidade e sensibilidade.”

A deputada federal Bia Cavassa (PSDB) também sem manifestou sobre o assunto. “Arthur do Val fez o uso de palavras de uma forma preconceituosa, pejorativa, que denigre e desrespeita a integridade de mulheres. Condeno qualquer tipo de violência, seja ela, narrativa ou física. Considero ainda que a frase usada pelo “Mamãe Falei” revela e oportunismo de homens desrespeitosos da figura feminina”

Ainda segundo a parlamentar, os áudios se espalharam na web, foram inoportunos e ganharam ainda mais visibilidade, no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. “Minha revolta é também pelo momento vivido pela Ucrânia e sua população, que além da guerra, enfrentam vulnerabilidade e fragilidade e muitos direitos desrespeitados.”