Nos pontos de táxis espalhados pelo Centro da Capital, um fato é comum entre todos os trabalhadores, os clientes jovens aumentaram e as reclamações são sempre relacionadas à dificuldade em conseguir uma corrida por meio dos aplicativos. “Tem gente que fica até 1h esperando e acaba desistindo e pede um táxi”, comentou Casumori Miyashiro, de 67 anos, que trabalha como taxista em um ponto na Avenida Afonso Pena. No ponto, são cinco motoristas, quatro estavam realizando corridas no momento em que a reportagem foi ao local.

Para os clientes, a reclamação comum também é a dificuldade em conseguir uma corrida, tão difícil em alguns momentos que o preço elevado se torna um detalhe. Larissa Lara da Silva, de 24 anos, explica que sempre utilizada aplicativos de corrida paga e nos últimos meses passou a migrar entre as empresas até encontrar a melhor.

“Antes tinham promoções, descontos, aí agora não tem mais, eu estou utilizando outro aplicativo que a gente ‘negocia’ eu digo um preço e o motorista diz outro”, brinca. “Mas o pior de tudo são os cancelamentos, às vezes, você está esperando e o cara cancela, demora demais para achar motorista, quando a gente usa para trabalhar é pior”, complementou.

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Rebeca conta que precisa se ‘humilhar’ para conseguir corrida. (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Rebeca Barbosa, de 17 anos, comenta ter começado a utilizar aplicativos de carona há pouco tempo e não sentiu um grande aumento nos valores durante esse período, mas em relação à demora para conseguir as corridas, as reclamações são as mesmas de Larissa. “Hoje, a gente precisa quase se humilhar. Um dia pedi por favor para o motorista não cancelar e mesmo assim ele cancelou”, relembrou Rebeca.

Bernardo Oshiro, de 58 anos, trabalha como taxista em um ponto localizado na e acredita que os problemas enfrentados hoje foram plantados pelos próprios aplicativos no passado. “Não tem como manter os preços, nesse jogo o motorista é o único que sai perdendo”, comentou. “E com os cancelamentos, os passageiros acabam desistindo de usar o aplicativo”, disse Bernardo no momento em que um colega gritou: “eles cancelam já chegando no local”.

O taxista concordou com o colega, “às vezes, eles estão na rua do passageiro e cancelam, aí os caras acabam pegando o táxi mesmo”. Casumori, que trabalha na Afonso Pena, conta que isso aumentou o número de passageiros jovens do final do ano passado até agora. “Sempre tem os idosos, mas agora estão aparecendo mais jovens também”.

A diferença nos preços entre os aplicativos de carona paga e serviço de táxi não é mais gritante como em outras épocas, mas ainda pode ser considerada grande. Bernardo conta que uma corrida da Praça Ary Coelho até o bairro custa em média R$ 35,00, o mesmo trajeto custa cerca de R$ 20,00 em aplicativos de carona. Para muitos, a dor de cabeça e demasiada espera é compensada pela diferença de R$ 15,00.

Para Bernardo é impossível sustentar os baixos preços. (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Transtorno causado por três fatores

De acordo com o presidente da Applic-MS (Associação dos Parceiros de Aplicativos de Transporte de Passageiros e Motoristas Autônomos de Mato Grosso do Sul), Paulo Pinheiro, a situação ocorre por conta da pandemia, falta de motorista e alta dos combustíveis.

No primeiro caso citado, Paulo explica que a pandemia fez com que muitos motoristas migrassem para os aplicativos de entrega e abandonaram os carros. “A pandemia aumentou muito as entregas, com isso o motorista que passa para as motos atende até cinco empresas ao mesmo tempo e ainda pode se cadastrar no moto, claro que não é tão seguro, mas compensa financeiramente”.

Atrelada à mudança de plataforma, ocorre uma espécie de migração dos motoristas. De acordo com Paulo, nesse período de fim de ano até o carnaval, os motoristas de Campo Grande e municípios do interior começaram a passar temporadas no litoral brasileiro em busca de maior lucro, com mais clientes e até mesmo recebendo com moedas mais valorizadas como dólar e euro.

“Esses dois fatores resultam em uma diminuição de até 20% do número de motoristas, gerando um aumento no tempo para encontrar uma corrida. Antes eram cerca de 3 minutos para uma distância de até 1,2 km, hoje esse tempo já subiu para 8 minutos”, explica o presidente da associação. Os cancelamentos fazem parte de um movimento que partiu dos próprios motoristas, segundo Paulo, visando viagens com maior lucro.

“Muitas vezes, a pessoa aceita uma viagem, mas acaba encontrando outra onde ele terá mais lucro. Sabemos que não é o correto, o ideal seria ele manter a primeira corrida que aceitou”, explica Paulo, ao também reivindicar medidas para redução nos valores dos combustíveis, que encerraria essa prática.