Variante da covid muda perfil: médicos relatam mortes de jovens e tragédias familiares em MS
Campo Grande já vive transmissão comunitária da variante do coronavírus e, com isso, os médicos vivenciam uma nova fase da doença, muito mais mortal e que também atinge jovens. Assim, profissionais que atuam na linha de frente relatam o que perceberam nesse atual momento, em que o número de mortes aumentou e o perfil das […]
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Campo Grande já vive transmissão comunitária da variante do coronavírus e, com isso, os médicos vivenciam uma nova fase da doença, muito mais mortal e que também atinge jovens. Assim, profissionais que atuam na linha de frente relatam o que perceberam nesse atual momento, em que o número de mortes aumentou e o perfil das vítimas mudou.
O médico Marcelo Santana Silveira cuida dos pacientes de coronavírus no pronto-socorro do hospital da Unimed. Ele relata as manifestações mais agressivas que a doença está causando.
“Está vindo muito mais grave, realmente, pacientes entre 30 e 50 anos estão sendo acometidos em massa e o que mais assusta é que muitos estão morrendo”, comentou.
O nefrologista vivencia dia a dia o atendimento a pacientes com covid e relata, ainda, o aumento no número de tragédias familiares. “Está chamando atenção é que se vê a agressividade [da doença] em membros da mesma família. É pai, mãe, filho, todo mundo internado ao mesmo tempo”, disse Marcelo, lembrando que as mortes também estão ocorrendo em família. “Está ocorrendo com rotina grande. Temos uma história que uma senhora internou e outras 3 irmãs muito próximas a ela morreram. Só a senhora sobreviveu. Tem caso de pai e mãe que morreram e só ficaram os filhos”, lamenta.
Para o médico, a agressividade do vírus tem relação com a variante brasileira, a P.1, que começou a circular este ano no Estado. “A gente percebeu que, nas últimas semanas, o vírus está mais virulento, ou seja, com taxa de transmissão muito maior. Além da taxa aumentada, a doença está vindo muito mais grave”, completou.
Cenário caótico
“A realidade é devastadora”. É com essas palavras que a médica Tayna Santiago, que atua na ala semi intensiva do Hospital da Cassems descreve o atual cenário.
“No pronto atendimento recebemos cada vez mais pacientes jovens com acometimento importante do pulmão, que evoluem para intubação em poucos dias”, descreve.
Para completar o cenário caótico, os médicos precisam saber lidar com a falta de leitos e até de medicamentos. “Diariamente, precisamos recusar fax de transferência do interior, de outros hospitais e das UPAs da cidade. Quando recebemos paciente graves, temos que lidar com a falta de leito e, infelizmente, às vezes, esperar algum óbito para poder levar outro paciente ao CTI [Centro de Terapia Intensiva]”, relata.
Esforços insuficientes
Tayna comenta sobre os esforços que tanto hospitais particulares quanto o poder público têm feito para pelo menos amenizar a situação. “Vejo todos os hospitais se mobilizando. Leitos foram criados, equipes remanejadas, mas parece que nunca é o suficiente”, pontua.
A médica também comenta sobre tragédias familiares que se vê obrigada a presenciar. “Ontem tive que dar a notícia de um homem, de 38 anos, que não aguentou e faleceu. Era o 3º na mesma família em menos de 1 semana. Eu não pude abraçar aquela esposa e isso me doeu muito”, conta.
Aos que conseguem vencer a doença, precisam p assar por momentos tão difíceis quanto a própria covid. “Na enfermaria, o pós-covid pode ser muito pior que a doença em si. O tempo de internação prolongado aumenta o risco de infecção, evoluem com fraqueza e uma falta de ar leve que pode persistir por semanas a meses, afinal, o acometimento pulmonar demora pra ser resolvido”, explica Tayna.
E quem pensa que ‘médico está acostumado a ver essas coisas’, está muito enganado. O medo, insegurança e o psicológico desses profissionais também são afetados. “O que nos é novo e de difícil manejo é o psicológico. O medo, a angústia e a ansiedade… tanto do paciente como da equipe! O paciente que tem a incerteza se vai conseguir respirar até amanhã, afinal, está com uma doença que mata. A equipe, com medo de se vai ter suporte pra tratar, se vai se infectar ou se vai levar a infecção pra sua família”, comenta.
Colaboração
Por fim, Tayna faz um apelo em nome de todos os profissionais de saúde para que as pessoas tenham consciência da gravidade de suas atitudes. “A realidade não é bonita, minhas palavras podem bem ser bem aceitas, mas eu também adoraria falar sobre esperanças e melhorias, mas elas não estão acontecendo e não sabemos quando vão melhorar, mas vão! Até lá, eu só peço pra que quem pode: fique em casa!”, finaliza.
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