“Primeiro que não é possível manter o distanciamento. A ideia seria manter uma distância mínima nos terminais, mas temos observado aglomerações dentro dos ônibus. Nesse frio, os ônibus circulam de janela fechada e, mesmo de máscara, quanto maior a viagem, maior o risco de que uma pessoa contaminada possa transmitir a doença”, explicou.

Ele lembrou ainda que pouco adianta algumas medidas no comércio, se o trabalhador tiver que se submeter aos ônibus lotados. “A gente vê comerciantes dizendo que a doença não entra no seu estabelecimento, porque ele adota as medidas, como uso de álcool em gel. No entanto, o trabalhador é obrigado a pegar ônibus superlotados”, pontuou.

Neste sentido, acredita que a saída seria o aumento do número de veículos com lotação reduzida, proibindo transporte de pessoas de pé. Apesar do risco nos terminais, o professor aponta outros problemas que contribuem para o avanço da pandemia.

“É uma questão multifatorial. Existe sim o risco no transporte público, mas tem também outras atividades, como festas clandestinas, aglomerações familiares, bares e restaurantes que não respeitam as medidas. Tudo isso contribui”.

Medidas

A partir do início da pandemia, o MPMS (Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul) moveu ação por conta de irregularidades no âmbito da biossegurança no transporte público de Campo Grande, que é explorado pelo Consórcio Guaicurus. Entre os principais problemas estavam: filas com aglomerações sem distanciamento em pontos e terminais; ônibus cheios; falta de fiscais para controlar o distanciamento; falta do uso de máscara por funcionários; passageiros lavando as mãos nos bebedouros dos terminais e falta de fiscalização; e falta de sabonete líquido e papel toalha.

Conforme já noticiado pelo Midiamax, desde julho do ano passado a empresa tem implementado as medidas do plano de biossegurança, como aferição de temperatura, orientações, disponibilização de álcool em gel e orientação para uso obrigatório de máscaras. Já a Prefeitura Municipal, por sua vez, além das medidas de biossegurança e orientações, também tem realizado a desinfecção regular dos terminais, como forma de reduzir risco de contaminação em locais de grande fluxo e que são tocados pelos usuários, como portas, maçanetas e corrimãos, por exemplo.

Pesquisa da Fiocruz

Para essa investigação, foram coletadas em 400 amostras de superfícies muito tocadas por diferentes usuários, como maçanetas, torneiras, vasos sanitários, interruptores de luz, leitores de biometria, catracas, corrimão de escadas, entre outros, em diversos pontos da capital pernambucana. Os lugares foram selecionados por atenderem a duas condições: grande fluxo e alta concentração de pessoas; e organizados em seis grupos: terminais de passageiros, unidades de saúde, parques públicos, mercados públicos, áreas de praia e centro de distribuição de alimentos. As amostras foram submetidas ao exame padrão ouro para detecção do novo coronavírus, o RT-qPCR.

Do total de amostras obtidas, foi confirmada a presença do Sars-CoV-2 em 97 (24%). Quase metade delas foram recolhidas em terminais integrados de ônibus (47 amostras positivas ou 48,7%), onde as superfícies com maior índice de contaminação foram os terminais de autoatendimento e os corrimões. 

As áreas próximas às unidades de saúde ficaram em segundo lugar, com 26,8 % das amostras positivas. Seguidas dos parques públicos (14,4%), mercados públicos (4,1%), praias (4,1%) e outros lugares (2,2%). O vírus foi encontrado predominantemente em banheiros, terminais de autoatendimento, corrimões, playgrounds e equipamentos de ginástica ao ar livre.

As coletas utilizaram ferramentas de georreferenciamento para situar os locais com exatidão. Outro aspecto contemplado pelos estudiosos foi a classificação das superfícies pelo tipo de material. O vírus foi encontrado com maior frequência em superfícies  metálicas (46,3%) e plásticas (18,5%).

Com informações da Agência Fiocruz