Cidade vira ‘Babel de MS’ com gente até de outros países para trabalhar em fábrica de celulose

Ribas passa por uma avalanche migratória nunca antes vista

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Sumuel andando pelo Centro de Ribas
Sumuel andando pelo Centro de Ribas

Habituados ao comportamento dos conterrâneos, os cidadãos rio-pardenses buscam há alguns meses se adaptarem aos costumes de pessoas de outros estados e até de outros países. Isso porque a cidade, que fica a 97 km de Campo Grande, passa por uma avalanche migratória nunca antes vista. O fenômeno é em decorrência do começo das obras da megaindústria de papel e celulose, Suzano, que emprega já nessa fase inicial de construção, 1,5 mil homens.

São pessoas de todas as regiões do país que saem, assim como muitos, à procura de um lugar para ganhar dinheiro, mudar suas vidas e de suas famílias.

Samuel Castriani, de 41 anos, é de Presidente Prudente no interior de São Paulo. Está em Ribas há dois meses para trabalhar como maquinista no aterramento da Suzano. Espirituoso, é ele quem aborda a equipe de reportagem, como se de alguma forma, falar sobre sua breve trajetória na cidade, validasse a experiência de estar lá. “Eu queria dizer que é muito bom estar aqui, fui muito bem recebido pelo povo dessa cidade”.

 Samuel deixou duas filhas e esposa em casa e diz que se candidatou à vaga por consideram boas as condições de trabalho e remuneração. “Saudade a gente tem, mas é assim mesmo, precisamos trabalhar”.

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Alojamento dos funcionários (Foto: Leonardo França)

Junto dele, está seu amigo Norberto Felício da Silva, de 35 anos, motorista de comboio. Bem mais acanhado, quase não quis conceder entrevista. Natural de Goiás, já viajou o Brasil por conta do ofício.

“Eu vim pra cá justamente pra ter um pouco mais de estabilidade, pra não ficar andando  muito”, diz ele, que prevê ficar em Ribas até, no mínimo, as obras acabarem.

Segundo os funcionários da empresa terceirizada que foi contratada pela Suzano para dar início às obras, a cada dois meses existe uma liberação para visitar a família.

Os funcionários estão distribuídos em três alojamentos, construídos em pontos distintos da cidade. Dois dos alojamentos são de quartos coletivos, com até quatro pessoas e um alojamento é de quarto individual. Os dormitórios, segundo a empresa e os próprios trabalhadores é climatizado.

A Suzano informou que padroniza os requisitos mínimos para estas instalações de modo que os trabalhadores sejam devidamente acomodados, incluindo protocolos de higienização e distanciamento, entre outras ações. A alimentação é de responsabilidade das empresas contratadas, que devem garantir três refeições diárias, de domingo a domingo. O trabalhador recebe café da manhã e almoço no local da obra e o jantar em seu alojamento. 

As medidas de biossegurança adotadas nos alojamentos são basicamente as mesmas exigidas nas unidades e no canteiro de obras: distanciamento social, uso de máscaras em áreas comuns, disponibilização de álcool em gel, o aumento da frequência de limpeza, higienização e sanitização de áreas comuns, dos quartos e dos veículos de transporte de colaboradores, e a adoção de quarentena caso haja identificação de colaborador ou prestador de serviço com risco de contaminação. Além disso, no retorno das folgas de trabalho, os colaboradores também são submetidos a teste de Covid-19.

Saudade de quem ficou

Rivanilson Manoel das Neves, de 38 anos é de Costa Rica, em Mato Grosso do Sul mesmo. Também motorista de comboio, não vê a hora de voltar a cidade de rever a esposa, única familiar que deixou.

“A gente fica um pouco sozinho, mas tem as tecnologias que ajudam a estreitar os laços”.

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Canteiro de obras da fábrica da Suzano (Foto: Leonardo França)

Sobre a rotina dentro dos alojamentos, Rivanilson diz que é pacífico na maior parte do tempo. “Já houve alguns desentendimentos, mas pouca coisa. Tem muita gente, é difícil não acontecer nada”, disse sorrindo.

Aos poucos a cidade vai se adaptando aos costumes desses novos cidadãos, principalmente aos de regiões com tradições bem específicas, como o Nordeste, que tem um apreço por certo tipos de músicas.

“Aqui agora, toda festa que você faz, evento com música, precisa ter um forrozinho”, disse produtor cultural local em conversa informal.

Segundo o prefeito de Ribas, João Alfredo Donieze (PSOL), há trabalhadores venezuelanos e haitianos, ao que a reportagem não conseguiu confirmar durante nossa visita à cidade, nem mesmo com própria empresa.

No pico das obras, o número de trabalhadores deve chegar a 10 mil funcionários. Segundo apuração da reportagem, existe uma grande probabilidade de entre esses trabalhadores haver estrangeiros nas operações das fábricas em todo o país ou na construção de um novo empreendimento, como em Ribas do Rio Pardo.

“Dessa forma, em virtude de o município não possuir uma ampla rede hoteleira ou casas de hospedagens para abrigar os trabalhadores, estão sendo construídos alojamentos na cidade por nossas contratadas, e pela iniciativa privada, já de acordo com o plano diretor do município”, explicou a empresa.

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