Reflexo da pandemia: 39% das mães apresentam sintomas de estresse pós-traumático, aponta pesquisa

Pesquisa foi feita pela UFMS com 822 mulheres e 83% delas se sentiram sobrecarregadas ao cuidar dos filhos durante a pandemia

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Imagine só: estar em isolamento social causado pela pandemia da Covid-19, trabalhar de casa, cuidar dos filhos, da casa e tentar cuidar de si própria! Será que é possível fazer tudo isso em 24 horas? Pode ser que sim, mas isso causou estresse pós-traumático em 39% de 822 mulheres que participaram de uma pesquisa realizada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) sobre a saúde mental das mulheres com filhos durante a pandemia.

A pesquisa foi desenvolvida por três professores do campus de Três Lagoas: Tatiana Carvalho e Bruna Moretti Luchesi, do curso de Medicina, e o professor Edirlei Machado dos Santos, do curso de Enfermagem. 

A professora Bruna conversou com o Jornal Midiamax sobre a pesquisa, feita através de um questionário online, devido ao momento crítico. “A gente incentivava a mandar o questionário para outras mulheres e, ao todo, tivemos 822 mães que responderam”.

Para participar, era preciso ser mãe maior de 18 anos, morar no Brasil e ter filhos de até 18 anos. “No questionário, as perguntas eram para saber se a mulher tinha sintomas de depressão, ansiedade, estresse, se usava medicamentos, isso tudo para traçarmos o perfil delas”.

Com as respostas em mãos, as professoras chegaram ao seguinte resultado: 25% das mulheres estavam com sintomas de depressão; 27% com ansiedade; 23% com estresse e 39% com estresse pós-traumático.

Segundo Bruna, as mães mais vulneráveis são as que usam medicamentos. “Elas relataram estar mais sobrecarregadas em cuidar dos filhos, dormiam menos horas por noite, têm doenças gastrointestinais. As que têm uma saúde ruim foram as que tiveram a pior saúde mental”.

Conforme a professora, um dos dados que mais chamou a atenção foi referente à sobrecarga. “A resposta foi sim para 83,5% das mulheres que responderam o questionário. Elas se sentem mais sobrecarregadas ao cuidar dos filhos na pandemia”.

Dados preocupantes

As respostas foram dadas no período da pandemia de agosto a outubro do ano passado. Porém, uma nova onda da Covid-19 chegou ao Brasil no começo do ano.

Sendo assim, a professora alerta que os prejuízos podem ser maiores para essas mulheres. “A soma de papéis, de cuidar do trabalho remoto, da casa, dos filhos, isso impacta na saúde mental”.

Para Bruna, é preciso ter políticas públicas voltadas para essas mulheres. “Os gestores municipais, federais e estaduais precisam fazer grupos de apoio usando tecnologias digitais. Tem mulher que deixa de ir ao médico porque não tem com quem deixar o filho”.

Ela ainda faz um alerta aos profissionais de saúde. “Eles precisam estar atentos também às mães, os profissionais precisam ter olhares humanizados até durante o atendimento da criança que vai a uma consulta, por exemplo, e isso quando não é investigado, pode piorar”.

Rede de apoio

Para a professora, a mulher precisa ter a colaboração da família e dos amigos. “Para quem convive com uma mãe que se enquadra nessa situação, é importante ficar atento ao desgaste emocional. Como elas falaram que se sentem sobrecarregadas ao cuidar dos filhos, reforça a importância do apoio emocional, tarefa doméstica, ficar com a criança para mãe fazer caminhada, ir ao mercado”.

Bruna diz ainda que, quando a mulher se torna mãe, volta grande parte da vida para o filho. “Mas a mulher precisa ter cuidado com sua saúde, praticar atividade física de lazer, precisa do apoio da sociedade e da família”.

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