Há meio século, frio como o desta semana fez sonho de cafeicultores virar tragédia em MS
‘Geada negra’ que atingiu norte do Paraná chegou a afetar as plantações de café no então sul do MT
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Há quase meio século – exatos 46 anos -, cafeicultores que investiram e apostaram tudo no plantio e na colheita de café sofriam com uma das piores geadas que atingiu Mato Grosso do Sul. Com temperatura de -1°C, as lavouras foram destruídas e, com elas, o sonho de uma vida próspera com a agricultura. O resultado contou até com tragédias, que ajudaram a moldar o perfil agrário do Estado na realidade.
Conforme o jornalista e historiador, Hildeberto Rubin Aléssio, em julho de 1975 uma ‘geada negra’ atingia o Paraná e “respingava” no então Sul de Mato Grosso, região que atualmente é MS, e que era vista como uma região próspera para o plantio e colheita dos grãos.
Aléssio, de 81 anos, relembra que, naquela época, um escritório do extinto IBC (Instituto Brasileiro do Café), do Governo Federal – que defendeu políticas agrícolas do produto no país entre 1952 e 1989 – havia se instalado na Rua Padre João Cripa, na esquina com a Rua Antônio Maria Coelho, para dar maior suporte e proximidade aos agricultores.
O foco era a região norte, partindo de Campo Grande, me regiões que demonstraram grande potencial. “Em Jaraguari, o IBC havia implantado um campo experimental, com o desenvolvimento de mudas e viu que na região era próspera para o café”, disse o historiador. Segundo ele, naquele fatídico ano, produtores rurais de cidades como Bandeirantes, São Gabriel do Oeste e Miranda apostaram seus investimentos e pedaços de terras no plantio do grão. Muitos procuraram empréstimo com bancos para investir no sonho da agricultura do café.
O que não esperavam é que a força da natureza não teria pena dos sonhos depositados naqueles cafezais. E em julho de 1975, uma geada atingia severamente a região Paraná e, fazendo divisa com estado, Mato Grosso do Sul, que na época ainda era apenas MT, teve suas plantações queimadas.
O jornalista, conhecido como seu Aléssio, relembra os conhecidos que perderam as plantações com aquela geada. Na região de Bodoquena, 3 milhões de pés de café foram perdidos; em uma fazenda em São Gabriel do Oeste, outros um milhão de pés; em outra propriedade no município, um agricultor viu 2,2 milhões de pés de café destruídos com a geada.
“Estes cafeicultores do Sul de Mato Grosso, perderam tudo o que tinham. Ficaram os débitos junto ao do Banco Brasil, pois não tinham o seguro como hoje. Em 1981, foram obrigados a vender suas terras para outras pessoas. Ficaram sem nada, ficaram pessoas empobrecidas, mesmo tendo feito o plantio correto e orientado pelo IBC”, comentou Aléssio.
O historiador relembra que muitos não suportaram a situação e, em depressão, atentaram contra a própria vida. Para ele, o frio desta semana, previsto para que chegue a 1°C no sul do estado, se assemelha à geada registrada há quase meio século. “Tenho a lembrança perfeita, que este frio de hoje poderá ser igual o maior que aquele”, pontua o jornalista.
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