Em meio a maior pandemia vivida no mundo, onde mais de meio milhão de pessoas morreram pela Covid no Brasil, a gratidão de pacientes que passaram pela doença e se recuperaram emociona trabalhadores da saúde que lutam diariamente para salvar vidas.

“É difícil as pessoas nos enxergarem. A gente passa despercebido. E quando aparece alguém que dá valor ao nosso trabalho, a gente se recupera. E neste momento onde todos estão nervosos, alguém tem a paciência de escrever a próprio punho uma cartinha para falar do nosso trabalho é maravilhoso. Tem uma parte no texto que diz que é um momento de felicidade entrar em um lugar limpo. Olha que maravilhoso isso! Fiquei muito emocionada”, conta a auxiliar de limpeza Delair Ortiz.

Em tempos de preocupação com a pandemia, na correria do dia a dia, em meio à tecnologia que cada vez mais afasta as pessoas, a carta de agradecimento deixada na recepção do CRS Tiradentes emocionou os servidores. A paciente agradece os atendentes do balcão, que fazem o trabalho administrativo, cita os médicos, os enfermeiros, os técnicos de enfermagem e não se esquece da equipe da limpeza.

“A rotina é pesada”, pontua o clínico-geral Rodrigo Azato, que trabalha 80 horas semanais no CRS Tiradentes, dando plantão nos atendimentos de Covid. Para ele, o reconhecimento do trabalho de toda uma equipe dá ânimo para sempre entregar o melhor.

“Nossa realidade é difícil, não por falta de estrutura, mas pelo volume de serviço. Estamos em uma pandemia, é algo novo, nunca vivemos isso, e todos os dias estamos aprendendo como lidar, o que fazer e como fazer. É muito gratificante ver que apesar de todas as dificuldades enfrentadas nosso trabalho é reconhecido. Isso nos traz uma alegria. A cada paciente que se recupera gente fica extremamente feliz. Um paciente que sai bem daqui, sem precisar ir para o hospital, mostra que estamos fazendo o certo, dando o nosso melhor. Hoje, temos uma estrutura que pode dar uma excelente assistência aos pacientes, e temos UPAs em todas as regiões de Campo Grande dando atendimento às pessoas”, explica.

A Prefeitura de Campo Grande dobrou o número de leitos de UTI de 116 para 354 desde o início da pandemia. E outros contratos ainda devem ser formalizados. Os chamamentos de servidores da saúde também são frequentes, e somente em 2021 foram convocados 269 médicos, 44 técnicos de enfermagem, 36 enfermeiros, 37 fisioterapeutas e diversos outros profissionais.

Esse investimento na saúde é primordial, já que somente no 327.216 pacientes foram confirmados com a doença. Destes, 303.789 se recuperaram e já podem respirar aliviados junto às suas famílias. Outros 1.033 estão internados e precisam do cuidado diário de trabalhadores que muitas vezes trabalham até 90 horas semanais para que os pacientes possam voltar para casa recuperados.

A técnica de enfermagem Rosana Alves da Cunha, que está há 17 anos na profissão, entende que um dos grandes desafios neste momento de pandemia é transmitir tranquilidade aos pacientes.

“O nosso dia a dia é difícil. Muitas vezes as pessoas não entendem as dificuldades que passamos. As pessoas chegam nervosas e nem sempre entendem a demora de um atendimento. Essa rotina para gente é comum, tirar sangue, coletar um exame… Mas para aquele paciente que tem medo de agulha, por exemplo, é difícil. Então, a gente precisa se colocar no lugar do outro e entender. E se fosse alguém que eu amo que estivesse ali como eu iria tratar esse paciente?”, detalha. A profissional diz que um dos meios que elas encontraram de tranquilizar os familiares é sempre dar um jeitinho de passar as informações, mandar uma foto, um vídeo.

O trabalho cuidadoso dos profissionais viraram números. Quatrocentos e nove pacientes ligaram ou estiveram pessoalmente na Ouvidoria da para deixar seu elogio. A paciente Michele entrou em contato para agradecer o atendimento que recebeu da equipe da Unidade de saúde 24 horas do Universitário. “Agradeço desde a assistente social, aos enfermeiros, médicos e todos que os auxiliam. Minha mãe foi muito bem cuidada e já teve alta”, relata.

Já Kátia Regina Gonçalves, atendida na Unidade Básica de saúde da família Vila Nasser, agradece pelos serviços prestados. “Fui atendida de maneira muito prestativa e educada, os servidores são exemplo para todos os demais”, afirma.

Uma das formas mais comuns de agradecer a equipe é levar aquele lanche gostoso que chega, geralmente nos horários de plantões, trazendo ânimo para todos. Francielly da Silva Ferreira conta que a equipe já recebeu cachorro-quente, pizzas e muitas mensagens de carinho.

“Teve uma vez que uma pessoa anônima mandou 8 pizzas para os plantonistas. As pessoas mandam e enviam um recadinho agradecendo. A equipe fica feliz, porque não espera. Você está no plantão corrido, tumultuado, e aí chega um carinho em forma de quitute”, conta.

O técnico de enfermagem Juliano Souza se recorda de um mês que nem precisou comprar comida. “As pessoas não sabem como agradar. Se pudessem, eles dariam o mundo para gente. Então, eles mandam um chocolate, um cachorro-quente, uma marmita… Teve uns dois meses que eu não precisei comprar nada para comer, porque todos os dias ganhávamos alguma coisa. Teve uma vez até que ganhei um cachorrinho. Na verdade, trouxeram para minha filha Sara, porque eu sempre falei dela. E ela adorou”, lembra.