Geração Coronials: os desafios da criação de bebês nascidos na pandemia
Eles já crescem sabendo que precisam usar máscara e evitar abraços
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Coronials, assim são chamados os bebês nascidos durante o período da pandemia de Covid-19. Dessa geração, alguns são os famosos “bebês de quarentena”, outros foram planejados antes da chegada do novo coronavírus. O fato é que o isolamento social mudou a dinâmica da criação dessas crianças.
Churrasquinho para serem apresentados à família, brincadeiras com outras crianças, comer areia no parquinho? Nem pensar!
A falta de interação social pode trazer prejuízos ao desenvolvimento desses pequenos seres humanos. Um estudo realizado pela Universidade Oxford Brookes, no Reino Unido, com pais de crianças de oito meses a três anos, indica que essas crianças demonstraram medo de estranhos em excesso, timidez, além de maior dependência por aqueles que cuidam delas.
A neuropediatra, Maria José Martins Maldonado, de Campo Grande, ressalta a importância da interação social para o desenvolvimento. “A gente só desenvolve, cresce, evolui a parte cognitiva e social com as diversas experiências que temos no dia a dia”, explica. No Brasil, desde março de 2020 quase 8 milhões de crianças foram registradas no Portal de Transparência do Registro Civil.
A chegada do bebê e da pandemia
A gestação da professora Nayara Ferreira Martins Gomes, de 34 anos, foi bem planejada por ela e seu esposo, o professor universitário Ariel Ortiz Gomes Martins, também de 34 anos. O que nem eles, nem ninguém poderia esperar, é que um novo vírus iria assolar o mundo a partir dos últimos meses da gravidez. “Foram momentos de muita tensão e indefinição”, conta a professora. “As ultrassons, que antes eram tão aguardadas, passaram a ser de muita ansiedade por conta do possível risco. Passei a aguardar minha vez no carro ou do lado de fora da clínica”, lembra.
O pequeno Rafael, filho de Nayara e Ariel, nasceu no início da pandemia, em março de 2020. Os primeiros meses de vida do garotinho foram de isolamento com os pais, na casa em que moram. “Assim que Rafael nasceu ficamos apenas nós três, eu, ele e o pai. Não recebemos visitas, não tivemos rede de apoio. E tudo isso foi devido à pandemia. Ficamos isolados. O período longe dos familiares foi duro para nós, pois não tivemos contato com meus pais e meus sogros”, relata.
Encontros virtuais
A tecnologia veio como alternativa para aproximar os familiares. “Fizemos inúmeras chamadas de vídeo com amigos e familiares. Em todos os mesversários eles estavam presentes em chamada de vídeo”, conta Nayara.
A partir do terceiro mês do garotinho, os pais decidiram aos poucos receber os familiares em casa para que pudessem conhecê-lo. No entanto, a dinâmica foi bem diferente. “Eles sempre utilizavam máscaras, álcool em gel e não pegavam o Rafa. Tudo por amor”, conta a mãe da criança.
A neuropediatra cita que pequenas atividades fora de casa, sem necessidade de aglomerações, já podem auxiliar no desenvolvimento infantil. “Sair mais, brincar mais, ir para parquinhos, o bebê retoma o desenvolvimento”. Era o que Nayara e Ariel faziam com o pequeno Rafa. “Íamos a praças com ele e brincávamos com terra em casa para ajudar na imunidade”, relata a mãe.
Os desafios do isolamento
Para adultos, ficar confinado em casa foi muito difícil, mas para as crianças e bebês o desafio foi ainda maior e os riscos também. O contato com o mundo externo nessa fase é muito importante, chegando a influenciar na neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se recuperar e reestruturar. “É muito complicado para quem está em pleno desenvolvimento, porque precisa da experiência para poder fazer plasticidade, os aprendizados do dia a dia se fazem a todo momento e isso tem uma grande repercussão nos bebês”, explica a neuropediatra.
Para Nayara, o isolamento social pode ter influenciado no desenvolvimento pleno de seu filho. “Ele ainda não fala, por exemplo. Acredito que o contato mais intenso poderia ter auxiliado e a utilização das máscaras prejudica, nesse caso, a construção das palavras, eu acho pelo menos”.
A Geração Coronials também cresce com hábitos diferentes das gerações anteriores. Usar máscara, higienizar as mãos com bastante frequência e até a forma de cumprimentar os outros são costumes que só eles aprenderam desde o nascimento. O pequeno Rafael, por exemplo, sabe que abraçar os conhecidos ainda não é permitido. “Ele é muito sociável, dá ‘Oi’ pra todo mundo, cumprimenta com soquinho”, conta Nayara.
Os impactos da pandemia em diversas áreas da sociedade ainda estão sendo mensurados. O que se sabe até o momento é que a criatividade tem sido a aposta para atenuar essas consequências. Aos poucos, a população vai se adaptando a um cenário em que a vacina é a protagonista do caminho para a volta à “normalidade”.
O pequeno Rafael agora já frequenta uma escolinha, que foi especialmente escolhida para proporcionar um maior contato com o mundo fora de casa. “Ele é superanimado, gosta muito de brincar, de bichos. Escolhemos a escolinha por ter galinhas, tartarugas e ter um espaço aberto. A escolha se deu por conta do cenário pandêmico, maior área livre e maior contato com a natureza”, fala a mãe do garotinho.
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