Viver próximo do perímetro urbano de e ter a tranquilidade da zona rural é um privilégio para poucos. No bairro Chácara das Mansões, essa realidade é vivida diariamente, porém, mesmo com o isolamento da maioria moradores, a transmissão do coronavírus não deixou de fazer parte da preocupação diária, Em razão da crescente onda de festas de fim de semana na região.

Morando na região desde 1990, Gilmar Santos, de 46 anos, vive em uma situação de isolamento muito maior do que quem está na cidade, mas o medo de disseminação do vírus é sentido a cada final de semana. “Nós temos mais defesa, os vizinhos não são próximos e quando vamos aos comércios nos cuidamos. O povo se cuida, mas quem vem de fora não, os caras vêm e fazem festa até amanhecer”, conta.

Ele, que também é presidente da associação dos moradores, viu a estrutura chegar aos poucos nas propriedades rurais, e diante do atual cenário da doença, teme pelo local não ter atendimento médico. “A nossa saúde é precária, não tem um e já estamos atingindo 4 mil moradores”, disse Santos.

Em tempo de pandemia, viver em chácaras de Campo Grande é privilégio, mas também dor de cabeça
Gilmar Santos (Foto: Leonardo de França / Jornal Midiamax)

Conforme Gilmar, a região possui cerca de 2 mil propriedades, desse total, uma parcela de 70% é composta por pessoas que moram no local e os outros 30% de proprietários que vivem na cidade e visitam as chácaras aos feriados e fins de semana, mas normalmente deixam um caseiro cuidando da propriedade.

A denúncia de festas clandestinas é reforçada pela professora de pedagogia Arlethe Barbosa, de 42 anos, que mesmo com a vigência do toque de recolher, percebe a organização de eventos com frequência na região. “Teve casos aqui que já fizeram festas e aglomeração, tem baderna também”, explicou ela.

Com o número crescente de por coronavírus, a moradora se sente mais segura vivendo há 4 anos na chácara, mas se engana quem acredita que isso é motivo para relaxar. “Aqui por ter mais área verde e mais ventilação, querendo ou não, não é igual a cidade. Já teve casos de Covid-19, mas quando tem as pessoas se isolam, e vão se falando pelo grupo do bairro. Tomo todos os cuidados especiais”

Sossego e isolamento

Para quem ficou desempregada no início da , a tristeza de perder uma colocação no mercado de trabalho ganhou ares de segunda chance enquanto os números do coronavírus não diminuem. “Fiquei desempregada e acabei vindo para cá. Para mim foi ganhar na sorte grande ter essa chance de vir morar aqui, ao invés de estar lá no meio da muvuca”, explicou Luzia Pereira, de 58 anos.

Hoje trabalhando como cozinheira, não trocaria a tranquilidade do campo pela correria e perigos da vida urbana. “Voltaria se tivesse com emprego fixo e se tudo se acalmasse [em relação ao coronavírus]. Aqui é longe da bandidagem, é bem sossegado, por mim ficava por aqui”, explicou Luzia.

Em tempo de pandemia, viver em chácaras de Campo Grande é privilégio, mas também dor de cabeça
Marlene da Silva (Foto: Leonardo de França / Jornal Midiamax)

Para quem criou os quatro filhos na zona rural, ir para a cidade é motivo de agonia, contando nos dedos o momento de voltar para casa.  “Nunca tive vontade de ir, quando vou para cidade fico desesperado para voltar para casa, não gosto”. Explicou a auxiliar de Marlene da Silva, de 59 anos.

Morando há 30 anos na chácara, Marlene não teve dificuldade em se adaptar ao isolamento social e as rotinas de biossegurança. “Vou da casa para o serviço do serviço para casa. Me sinto bem, lá na cidade é muita agitação, acho que a chance de pegar aqui é bem menor”, finalizou.

Segurança e saúde

Ao Jornal Midiamax, a Guarda Municipal afirmou que atende com frequência casos de aglomerações denunciados por moradores no bairro. Ainda segundo a corporação, é necessário que as denúncias sejam feitas nos números 153 ou 190, e os chamados são atendidos por ordem de urgência.

A respeito da reclamação de falta de atendimento médico no bairro, a (Secretaria Municipal de Saúde Pública) informou à reportagem que o atendimento de moradores da Chácara das Mansões é feito na UBSF Anhanduí. A secretaria admitiu que havia déficit de profissionais na unidade por conta de afastamentos e ações não ocorreram no mês de fevereiro.

“A expectativa é de que os atendimentos sejam normalizados em breve com o retorno do profissional que estava de atestado. Momentaneamente não há previsão de construção de unidade de saúde no local, porém as equipes da UBSF Anhanduí devem ser reforçadas, justamente para garantir o atendimento à esta população”, finalizou a Sesau em nota.