Dia da Mulher Rural: elas assumem fazendas e transformam negócios de família em empresas de sucesso em MS
Segundo o IBGE, 2 a cada 10 propriedades no Estado têm comando feminino
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O trabalho na fazenda sempre foi ligado ao estereótipo do bruto, do homem. Mas, o Dia da Mulher Rural — comemorado nesta sexta-feira (15) — mostra que o poder feminino está presente no campo. Elas começam a assumir fazendas das gerações passadas e transformam negócios de família em empresas de sucesso em Mato Grosso do Sul.
Na fronteira com o Paraguai, a agrônoma Malena May, de 27 anos, nasceu e cresceu no campo, mas sua vida quase tomou outro rumo. “Quando terminei a escola, busquei sair da fazenda. Cursei 1 ano e 3 meses de arquitetura, mas estava infeliz, meu sonho era fazer agronomia, mas o agro vivia um momento ruim e meu pai não queria que eu passasse pelo que ele estava passando”, conta.
Não teve jeito, acabou ingressando no curso de agronomia e, ainda durante a faculdade, já conseguiu trabalho na área, em uma multinacional. Porém, suas raízes a levaram de volta à fazenda do pai para ajudá-lo na lida com a lavoura. “Vi a necessidade da fazenda ser vista como empresa, então, comecei a trabalhar com meu pai e fui arrumando a fazenda como uma empresa mesmo. Hoje, passo mais tempo no administrativo”, conta Malena, lembrando de quando assumiu a Fazenda Guatambu.
A propriedade faz parte de 20% das fazendas de Mato Grosso do Sul que são administradas por mulheres, conforme dados divulgados, em 2020, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar de ser ainda baixo, o número está acima da média nacional e apresenta evolução na comparação com 2006, quando elas representavam pouco mais de 10%.
O município de Coronel Sapucaia — onde fica a fazenda que Malena administra junto com o pai — tem cerca de 30% das propriedades com mulheres no comando.
Nas mãos das matriarcas
Outra cidade que tem grande participação feminina no campo é Nova Alvorada do Sul, a 115 quilômetros de Campo Grande, onde 28,5% das propriedades rurais são comandadas por mulheres.
É justamente lá que Telma Menezes de Araújo, 63, garante o sucesso da Fazenda Cristal. Ela também é presidente do Sindicato Rural do município e conta que a propriedade sempre teve uma mãozinha feminina na administração. “Nasci no meio rural, minhas bisavós assumiram a empresa rural e, depois, meu pai assumiu junto com a minha vó, que ficou viúva cedo. Meu pai deu suporte e minha mãe assumiu a fazenda. Elas eram parcerias, mas com a ausência deles, tiveram que assumir o comando. Da mesma forma, meu pai se foi e assumi com a minha mãe, que já se foi e, então, assumi”, explica Telma.
Telma está na 5ª gestão como presidente do Sindicato Rural de Nova Alvorada do Sul – Foto: Reprodução
Assim, ela explica que é normal ver uma mulher administrando propriedade rural e que a vivência no campo impôs respeito na comunidade local. “Nasci no meio rural, sempre convivi nesse meio. Tem o respeito da nossa comunidade, é natural para mim”, relata.
Tecnologia e o ‘toque feminino’
A tendência é que essa participação aumente nos próximos anos. “Tem muitas mulheres no comando de propriedades hoje em dia. É o que sempre digo, a empresa vai ser alterada por óbito ou por divórcio, alguma coisa vai alterar. Essa fazendo que estou hoje era do meu bisavô e as mulheres sempre estiveram presentes. Outra coisa: não tinha a tecnologia que tem hoje, era tudo braçal”, comenta, indicando que as inovações agrícolas vão facilitar a participação das mulheres no campo.
O comando de Malena na Fazenda Guatambu é prova da capacidade da mulher para o agro. “No começo foi meio travado, porque na cabeça do meu pai eu tinha que trabalhar fora, em uma grande empresa, mas fui mostrando para ele a minha ideia, o que queria fazer e, depois disso, deslanchou”, relata.
O negócio foi tão bem que pai e filha já arrendaram outra propriedade e expandiram os negócios da família. “As pessoas enxergam o agro um pouco bruto, por isso eles veem que homens que devem estar à frente. A diferença é a forma como a mulher lida com as coisas, o cuidado, o feeling diferente e dá supercerto”, pontua a herdeira, que já se prepara para futuramente assumir sozinha a administração da fazenda.
Em municípios como Coronel Sapucaia e Nova Alvorada do Sul, a cada 10 fazendas, 3 são comandadas por mulheres – Imagem: Divulgação
Discriminação e superação
Apesar das boas perspectivas, ainda é grande o abismo que insere as mulheres do meio rural em condição inferiorizada frente aos homens. Em pesquisa realizada pela Corteva Agriscience, no ano de 2018, com 4.157 mulheres atuantes no agronegócio em 17 países, é possível observar que no Brasil:
- A discriminação de gênero é uma realidade, confirmada por 78% das entrevistadas;
- Em 49% das respostas, a remuneração é menor que a dos homens nas mesmas funções;
- Para 42% das entrevistadas, o acesso a financiamentos é mais restrito, em comparação aos homens.
Este recorte nos mostra que ainda há muito a ser conquistado, apesar dos avanços em relação à participação feminina no campo. Diante da crescente representatividade feminina no setor agro, a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o Dia Internacional da Mulher Rural, celebrado em 15 de outubro. Hoje, as mulheres com atuação no agronegócio já ocupam 43% da força de trabalho, porém, muitas almejam alcançar melhores resultados no setor, por meio de investimentos em aperfeiçoamento profissional e melhoria do acesso à tecnologia.
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