Já entre 1990 e 1991, quando Campo Grande era outra cidade, o arquiteto e urbanista Fayez Feyz José Rizk, foi um dos responsáveis pela elaboração de um plano de instalação de VLT na Capital.

Basicamente esse plano previa quatro linhas troncos:

  1. Linha Moreninha – José Abrão, ligando a região Norte à região Sul.
  2. Linha Coophavila II – Nova Lima, ligando a região sudeste à nordeste da cidade.
  3. Linha Julio de Castilhos – Maria Aparecida Pedrossian, ligando a região Oeste à Leste.
  4. Linha Manoel Brandão – Aeroporto, aproveitando o espaço (não os trilhos) da antiga ferrovia Noroeste do Brasil.

“Todas essas linhas cruzavam o Centro da cidade permitindo o transbordo entre elas, no antigo terminal rodoviário e na Praça Ary Coelho. Esse plano exigiria toda readequação dos ônibus, mas permitiria um custo menor da passagem do sistema e com lucro maior para as operadoras, inclusive de ônibus, pela racionalidade. O custo de implantação não seria muito maior que o dos corredores de transporte por ônibus, os corredores preferenciais (não são ‘exclusivos’) atualmente em implantação”, diz Feyz.

Fato é que com a renúncia do ex-presidente Collor e a subsequente instabilidade no país, o plano foi deixado de lado.

Custo

Segundo Fayez, o veículo leve sobre trilhos tem alta capacidade de ocupação. Ele é, a princípio, mais caro do que um ônibus convencional, mas teria um período de utilização muito mais prolongado, de cerca de 12 anos para troca de seu sistema de rodagem, podendo chegar a quase 30 anos de utilização, quando um ônibus tem vida útil de cerca de 4 anos.

Evidente que é mais vantajoso do ponto de vista de custo, já que é elétrico, com vantagens inegáveis também para o meio ambiente.

Ainda é viável em Campo Grande?

De acordo com o Fayez, quando o plano foi feito no começo da década de 90, era muito mais viável que hoje.

“Acredito que hoje esse sistema não seja viável, já que a deterioração do sistema de transporte por ônibus está de tal forma e arrisco a dizer, falido, induzindo a população a procurar outras formas de transporte, como, por exemplo, as perigosas motocicletas, tão custosas para a saúde pública e cofres públicos. Essa deterioração desse sistema de transporte também modificou o desenho urbano da cidade, hoje exageradamente grande no tamanho físico e com sub centros que esvaziaram o Centro tradicional  da cidade”.

Para o urbanista, se o Poder Público quisesse instalar VLTs em Campo Grande precisaria de um planejamento sólido, como deve ser um de Mobilidade Urbana, que é transversal a outras questões, como o Plano Diretor, a Lei de Uso e Ocupação do Solo, o meio ambiente, as linhas de desenvolvimento econômico, além de uma mudança estrutural de cultura dos cidadãos.

“Sua utilização em Campo Grande (do VLT) só pode ser avaliada com a elaboração de um verdadeiro Plano de Mobilidade Urbana, e de seus sistemas de transporte público, por ônibus e eventualmente por VLT, entre outros sistemas”.

Existem planos novos?

Nós entramos em contato com a Prefeitura de Campo Grande para saber se existe algum plano atual ou estudo de viabilidade. Segundo o Poder Municipal, “neste momento, o foco do Município de Campo Grande é o investimento na implantação dos Corredores do Urbano, visando melhorias neste modal, uma vez que os mesmos já possuem recursos financeiros por meio do PAC-Mobilidade”. 

Vale ressaltar que a instalação de VLT ou algo semelhante não fez parte do programa de governo de Trad em nenhuma de suas campanhas.

(Mau) Exemplo do vizinho

A segunda obra de mobilidade urbana mais cara planejada para a Copa do Mundo de 2014, um sistema de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em Cuiabá (MT), foi licitada inicialmente R$ 1,4 bilhão e tinha como prazo de conclusão dezembro de 2013.

Sete anos depois, a obra está parada, com pouco mais de 50% dos trabalhos realizados, já consumiu mais de R$ 1,1 bilhão, e a estimativa do governo do Estado de Mato Grosso é que seria necessário, pelo menos, mais R$ 1 bilhão para sua conclusão.

O VLT de Cuiabá passou e passa por uma sucessiva série de percalços desde sua origem. Seu planejamento e execução foram alvos de críticas e denúncias desde que passaram a constar na chamada Matriz de Responsabilidade da Copa do Mundo de 2014. 

Os principais pontos eram denúncias de superfaturamento e uma suposta escolha equivocada do modal de transporte para uma cidade do tamanho de Cuiabá. Antes mesmo do primeiro canteiro ser instalado, especialistas em urbanismo e transporte davam como certo que a obra não ficaria pronta a tempo. E não ficou.