Atrasos, ônibus lotados, serviço precário e passagem cara. Não faltam motivos para os usuários reclamarem do em Campo Grande. A pandemia escancarou ainda mais os problemas, já que passageiros muitas vezes enfrentam os ônibus lotados, correndo risco de serem infectados pelo coronavírus. Diante do cenário, muitos acabam recorrendo ao transporte por aplicativo em um momento de apuro. Porém, a decisão pode custar caro no final do mês. 

Quem nunca teve que apelar para os aplicativos depois de um atraso no ônibus, para não chegar atrasado no trabalho? Quase todo passageiro de ônibus passou por uma situação como essa, mas quando as falhas no transporte coletivo se tornam constantes, o uso dos apps pode acabar pesando no orçamento. 

Foi o que aconteceu com a Andréa Malaquias, que utiliza os ônibus para chegar ao serviço. Andréa trabalha na área de higienização de um hospital de Campo Grande e conta que recebe o vale-transporte para o ônibus. Contudo, em algumas situações é preciso chamar um carro pelo aplicativo. 

“Às vezes é mais cômodo gastar dinheiro com , senão vai no ônibus lotado, correndo risco de se contaminar. Se preciso levar minha filha ao médico ou dentista, por exemplo, eu chamo o Uber. Não tem condições de ir de ônibus”, relata. 

Filas enormes, demora e risco de contaminação são apenas alguns motivos que levam Andréa a optar pelos aplicativos quando pode. Porém, ela ainda não pode usar os apps todos os dias, pois a conta poderia pesar. “São filas enormes, no começo da manhã e no final do dia, no horário de pico. A gente vem embora cansado e ainda tem que ficar na fila, é muito desgastante”, diz.

Andréa conta que também trabalha aos domingos, o que torna a rotina ainda mais pesada. Aos domingos, há menos ônibus circulando e ela teme até ser assaltada no ponto. “Quem trabalha na saúde, além de enfrentar o hospital, tem que enfrentar o ônibus, esperar, é uma demora, correndo risco de assalto, está muito difícil”. 

Diante dos inúmeros problemas, Andréa conta que já chegou a levar um susto no final do mês, depois de utilizar o transporte por aplicativo. “Meu passe [de ônibus] é para o serviço. Se eu tiver que ir ao centro, banco, para ir a uma consulta, UPA, é melhor chamar o Uber. Se eu for levar minha filha na UPA, eu vou pagar um valor que compensa mais o Uber. Só que eu não queria mexer naquele dinheiro, às vezes era para pagar uma conta”, explica.

A auxiliar de perecíveis Patrícia Fonseca também passa por ‘perrengues' ao utilizar o transporte coletivo. Ela precisa do ônibus para sair do bairro Jardim Aeroporto e chegar ao trabalho no centro da Capital. A usuária conta que muitas vezes precisa apelar para os aplicativos após o atraso nos ônibus.

Segundo Patrícia, os problemas acontecem principalmente aos finais de semana. Além disso, os horários ainda interferem no preço dos apps, fazendo com que a conta saia ainda mais cara. “Muitas vezes, para não chegar atrasada, tenho que pedir um carro no aplicativo. Sai caro, pois os horárias que pego [veículo], está na dinâmica e dobra o preço”.

Economista orienta como organizar orçamento

Para evitar susto com o uso de aplicativos de transporte, a organização financeira é fundamental. Andreia Saragoça é economista comportamental, educadora e planejadora financeira pessoal, e explica que é preciso se conhecer para decidir o que é melhor na hora dos gastos. Uma dica é analisar os gastos em três meses. 

Andreia afirma que muitas vezes, as pessoas fazem escolhas achando que não farão diferença no orçamento. Afinal, uma viagem de R$ 6 a R$ 10 no conforto do transporte particular pode parecer muito atrativo, mas dependendo da pessoa o impacto pode ser grande no fim do mês. 

“O que é melhor é marcar, fazer anotações por pelo menos três meses com a média de quanto é gasto com transporte, alimentação, produtos de higiene pessoal, com supermercado, ter uma média de quanto está gastando com as despesas. No caso do app, ele entra no transporte. A categoria inclui veículo, gasolina, manutenção, IPVA, licenciamento, o aplicativo ou a passagem de ônibus que eu pago. É preciso verificar o quanto gasta em cada uma dessas categorias”, orienta. 

A economista ressalta que não é possível indicar um percentual que seria necessário separar para gasto com transporte por mês, tudo vai depender do comportamento da pessoa. “Eu posso priorizar andar de Uber ao invés de comprar um carro e gastar com gasolina”, exemplifica. 

Andreia afirma que há alternativas para economizar com o transporte. Compartilhar a corrida com um amigo ou colega de trabalho é uma opção. “Combinar com amigos: ‘duas vezes por semana, vamos de aplicativo?'”, sugere. 

A economista ainda alerta que apesar de parecer, o vale-transporte não sai de graça para os trabalhadores. Caso o funcionário perceba que não está funcionando, é possível negociar uma alternativa com o empregador. 

“O transporte é descontado 6% do meu salário, não sai de graça. Será que eu poderia pedir para deixar de descontar e usar esses 6% ao meu favor para usar com aplicativos? Para tudo precisa fazer as contas, colocar no papel é extremamente importante”, conclui.