Por R$ 1,6 milhão, o Governo do Estado adquiriu 33,7 mil doses de Polimixina B após reclamações recentes de pacientes do HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) que estavam sem acesso ao medicamento que trata infecção por superbactéria. A superbactéria já foi motivo de investigação no MPMS (Ministério Público) há 18 anos após 32 pessoas morrerem e recentemente, pacientes internados com Covid-19 contraíram o germe internados no hospital.

Em contrato firmado neste mês e publicado no DOE (Diário Oficial do Estado), o governo formaliza a compra de 33.750 mil frascos do Polimixina B, no valor de R$ 1.686.825,00. A responsável pelo abastecimento do estoque do medicamento será a Farma Medical Distribuidora De Medicamentos e Correlatos Ltda. A entrega deve acontecer nos próximos 15 dias, conforme informou o governo nesta sexta-feira (23).

Em nota encaminhada ao Jornal Midiamax, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) disse que a presença da bactéria não é “nenhuma novidade”, pois se trata de um patógeno que está presente em muitos hospitais, principalmente quando há a presença de pacientes críticos, tempo prolongado de internação e pacientes que necessitam de  ventilação mecânica.

“A CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) tem o controle de pacientes com necessidade de isolamento, e faz acompanhamento diário dos agentes causadores dessas infecções tomando medidas para controle das mesmas. A Polimixina é uma das armas terapêuticas utilizadas para controle de alguns desses patógenos. O aumento das infecções por essas bactérias se deu, entre outras coisas, devido ao aumento da quantidade de leitos de UTI que foi necessário no período da pandemia para atender as mais de 7 mil pessoas que foram internadas no hospital diagnosticadas com Covid”, explicou a SES. 

Por fim, esclareceu que as 33,7 mil doses foram adquiridas com base no cálculo de consumo histórico recente e estimativas para os próximos 6 meses a 1 ano. “Que mesmo em uma eventual diminuição nos casos de Covid as internações decorrentes dos casos Covid são demoradas e necessitam de grande quantidade de medicação. Essa medicação será importante apesar de uma eventual diminuição do Covid”, pontuou.

Investigação sem denunciados há 18 anos 

O surgimento recente de pacientes que contraíram superbactéria no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) trouxe à tona caso registrado há quase duas décadas, quando 32 pessoas morreram após serem infectadas pela bactéria no hospital. Em 2003, pacientes não resistiram ao contrair o germe e situação virou caso de investigação pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), mas acabou sendo arquivado em 2004 e ninguém foi punido. 

Em 2003, a (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez um levantamento e confirmou 32 mortes de pacientes do hospital causadas por superbactéria. Naquele ano, os organismos foram encontrados em lavatórios das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), na enfermaria, na pia em que os medicamentos eram preparados no 6º andar do HRMS e também na porta das UTIs adulto.

Apenas um medicamento consegue tratar a superbactéria: o Polimixina B, que é uma categoria de antibiótico considerado essencial para pacientes em tratamento intensivo e internados a longo prazo. O medicamento é administrado quando outras drogas já não dão conta de combater a infecção por bactérias super-resistentes. No entanto, chegou a estar em falta no hospital, apesar do contrato de R$ 606,9 mil do Governo do Estado com a Opem Representação Importadora Exportadora e Distribuidora para a disponibilidade do medicamento. 

Em abril, uma denúncia indicava que o antibiótico estava em falta e, recentemente, um paciente que contraiu a bactéria ao ficar internado para tratar covid teve negativa ao remédio, que estava em falta. Familiares do paciente alegam que cada ampola não sai por menos de R$ 250 e o paciente precisa de 56 delas, o que soma uma despesa de R$ 14 mil.

A reportagem do Jornal Midiamax procurou o MPMS via assessoria de comunicação para obter informações acerca de possibilidade de reabertura de investigação em razão dos novos aparecimentos de pacientes contraídos com a superbactéria e aguarda resposta.

Essencial para internados em UTI

O medicamento é extremamente importante em casos de internações em UTI, de acordo afirmou o MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) em reportagem anterior do Midiamax. De acordo com o médico presidente do Sinmed MS, Marcelo Silveira, o uso é feito quando outros medicamentos já foram utilizados no paciente. “Polimixina é um tipo de antibiótico usado para combater bactérias mais resistentes. Para pacientes internados a longo prazo ele é sim essencial”. 

De acordo com pesquisa de pós-graduação em Medicina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), as polimixinas são medicamentos descobertos em 1947 e com a mutação e resistência das bactérias, começaram a ser receitadas para combater Pseudomonas aeruginosa. “Com isso, a Polimixina é um dos principais antibióticos para fazer o combate a essas bactérias resistentes”. 

O uso do antibiótico não é exclusivo para pacientes Covid-19 e costuma acontecer em internações de UTI. “No entanto, com a pandemia, esses pacientes [Covid-19] permanecem muito tempo internados e possuem outras infecções além da Covid, esses antibióticos passaram a fazer uma demanda de uso muito grande”, explicou o presidente do Sinmed.