Aplicativos deixam clientes de Campo Grande ‘na mão’ e táxis tiram caldo do vacilo: ‘demanda aumentou’

Balinha e água são coisa do passado, usuário de Campo Grande hoje precisa ‘implorar’ para pedir carro por app

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Ponto de táxi que ficava no Aeroporto Internacional de Campo Grande
Ponto de táxi que ficava no Aeroporto Internacional de Campo Grande. (Foto: Midiamax)

Salvação na vida dos mais pobres aos mais ricos, os carros de aplicativo das marcas mais famosas têm sacaneado a quem um dia serviram com zelo. Balinhas, águas, bombons, ar-condicionado e escolha da música? Isso não nos pertence mais. De acordo com relatos de usuários do serviço em Campo Grande, a experiência de usar os aplicativos tem sido cada dia pior.

“Ontem entrei num carro que o banco estava vomitado, não sei o que era aquilo, tinha uma sujeira branca. Em plena pandemia, vidros todos fechados, e nem o ar ligado. Sem contar que para aceitar, passei pelo menos 10 minutos tentando”, relata a estudante de psicologia Eduarda Morais ao Jornal Midiamax.

Campo-grandenses estão cansados de implorar por um serviço pelo qual estão pagando (Foto: Reprodução)

A principal reclamação, no entanto, têm sido a respeito dos cancelamentos de corridas. Os motoristas ou não aceitam, ou cancelam a viagem solicitada após fazer o usuário esperar por um bom tempo, prejudicando quem precisa chegar no horário em compromissos gerais e, principalmente, no trabalho.

“Não tem um dia que você não precise esperar menos de 10 minutos para conseguir um carro. E o pior é o que o aplicativo mostra vários motoristas por perto e nenhum deles aceita. Só aceita quem está longe, e lá se vão mais quinze minutos de espera. O que eu não entendo é isso: um monte de carro nos arredores e simplesmente ninguém pega viagem”, desabafou o professor de língua portuguesa Gabriel Antônio à reportagem.

Apps vacilam e táxis saem ganhando

De acordo com o presidente da CooperTaxi e do Sindicato dos Taxistas de MS (Sintáxi), o táxi não perdeu o público fiel que já tinha, mas com os cancelamentos e a insatisfação dos campo-grandenses com os aplicativos, a demanda aumentou sim, porém, também acabou atrapalhando a população.

“Porque a população pede uma corrida curta, o Uber não vai. E agora, em alguns casos, o táxi também não vai porque, às vezes, como eu tenho pouco táxi, a chance de eu ter um carro perto desse cliente é menor. Eu tô com pouco carro, não tô com disponibilidade. Então, a sociedade acaba sofrendo porque ninguém acaba levando”, explicou Flávio Panissa ao Jornal Midiamax.

Demanda cresce para os táxis, já que usuários se sentem sacaneados pelos apps (Foto: Arquivo)

Flávio destaca o aumento da demanda principalmente em determinados horários. “Vamos pegar noturno. A pessoa, principalmente aquelas que vão para o aeroporto, preferem pegar um táxi. Aumentou bastante porque eles têm onde reclamar se der algum problema. Há confiabilidade e aqueles que prezam por isso ainda utilizam o táxi. E também os táxis de hoje não são os táxis de antigamente. O nível dos automóveis está bem acima do que era”, relata.

Há uma espécie de reorganização entre os taxistas para atender o novo volume de solicitações de corrida com a queda da reputação dos apps na Capital. “Vou pedir para o prefeito liberar mais táxis até o final do ano ou início do ano que vem, porque hoje o táxi não transfere mais de um para outro, então aquele [motorista] que não quer mais o táxi, devolve para a Prefeitura. Para eu trazer esse carro de volta pra rua, me atrapalha”, garante o presidente do Sintáxi.

Motoristas da plataforma dizem que há “motivos” para os cancelamentos (Foto: Reprodução)

 

Justificativa?

Motoristas de Uber ouvidos pelo Jornal Midiamax afirmam que o cancelamento da corrida, por vezes, é estratégico, e a forma de pagamento pode ser fundamental para essa decisão.

De acordo com os motoristas parceiros da plataforma, quando um usuário solicita a corrida para pagar online, por meio de cartão de débito ou crédito, os motoristas, dependendo do saldo com o aplicativo, preferem cancelar e aceitar apenas a demanda de quem paga em dinheiro, porque, dessa forma, o ganho fica em posse dos mesmos.

“Quando o pagamento é no cartão, a Uber come o saldo e a gente nem vê a cor do dinheiro quando estamos em débito com a plataforma. A forma convencional de cobrança é um boleto mensal que a gente quita com a Uber, mas se o cliente faz pagamento por cartão, a empresa já suga esse valor para ir abatendo nos débitos. A gente acaba não saindo no lucro e, às vezes, trabalha na rua o dia inteiro para voltar pra casa sem nenhum dinheiro no bolso”, esclarecem os motoristas, que preferem não ser identificados.

No entanto, em nota, a assessoria da Uber explica como funciona a taxa. “No passado, a taxa de serviço cobrada pela Uber pela intermediação de viagens era fixa em 25%, mas desde 2018 ela se tornou variável para que a plataforma tivesse maior flexibilidade para usar esse valor em descontos aos usuários ou promoções aos parceiros. Em qualquer viagem, o parceiro sempre fica com a maior parte do valor pago pelo usuário – há confusão sobre o valor da taxa porque em algumas viagens ele pode aumentar enquanto, em outras, pode diminuir. É por isso que todos os motoristas parceiros ativos recebem semanalmente, por e-mail, um compilado sobre os seus ganhos. Nesse e-mail, é possível conferir quanto ele pagou de taxa Uber naquela semana”, relata a plataforma. 

(Matéria editada dia 10/08 para acréscimo de informações encaminhadas pela Uber) 

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