Mato Grosso do Sul enfim chegou a uma taxa de transmissão abaixo de 1 e o dado poderia indicar a chance de queda na curva de transmissão do . A notícia poderia até ser boa, mas para especialistas, as aglomerações em cidades turísticas no feriadão podem estragar tudo. 

Transmissão de Covid-19 cai para 0,97, mas 'farra' do feriado pode estragar estabilidade em MS
Fonte: Covid-19 Analytics

Dados do portal Covid-19 Analytics mostram que a taxa de transmissão em MS é de 0,97. A taxa de transmissão ou número efetivo de reprodução da infecção, conhecido como Rt, é uma das ferramentas que podem ser utilizadas pelas autoridades para planejar medidas de isolamento ou de flexibilização.

Quando a taxa de transmissão é igual a 1, cada doente infecta apenas uma outra pessoa. Para que a epidemia seja considerada controlada, a taxa de transmissão precisa estar abaixo de 1 por mais de duas semanas seguidas. Muitos países esperaram esse índice para enfim afrouxar as medidas de isolamento. 

O secretário da SES (Secretaria de Estado de Saúde), Geraldo Resende, afirma que a taxa abaixo de 1 é um bom sinal para Mato Grosso do Sul e mostra que o Estado estava em uma tendência de queda de casos. Porém, ainda não há motivos para comemorar, já que o comportamento da população no feriado da Independência pode gerar um novo aumento no número de casos. As consequências do desrespeito ao isolamento social devem refletir nos dados do coronavírus em MS daqui duas semanas.

“A pandemia não está controlada. Inclusive, no fim de semana a população demonstrou um completo desrespeito com os profissionais da saúde que se dedicam nessa pandemia. Vimos uma aglomeração gigantesca em cidades turísticas, isso é um desrespeito com os quase mil mortos da doença”, ressalta Resende.

O infectologista e pesquisador da (Fundação Oswaldo Cruz), Julio Croda também acredita que ainda não há motivos para celebrar. Por causa do feriado, ele afirma que é preciso aguardar a evolução dos dados ao longo da semana e que a taxa de transmissão em 0,97 não é um dado real.

Croda também chama a atenção para as aglomerações durante o feriado em MS. Como o estado estava com a curva de transmissão estabilizada, seria crucial manter as restrições e o isolamento social, para que enfim o número de casos e mortes começasse a cair. Porém, não foi o que aconteceu. 

“[Foram] diversas aglomerações em diferentes atividades de . Estamos em um momento de estabilização, mas o importante seria manter as restrições”. Para o pesquisador, o feriado mostrou a importância dada à pandemia. “A população e os gestores já fizeram sua opção”.

O secretário Geraldo Resende frisa que apesar dos apelos para o controle da pandemia, os gestores municipais têm ignorado os perigos do coronavírus. “Este fim de semana foi bastante emblemático, ver que a população, nem por empatia, não ajuda no controle da pandemia”.

Resende frisa que Mato Grosso do Sul está longe do controle da pandemia e que quem pode ajudar são os prefeitos. “Se for [contar] com a participação da população, não teremos controle da situação”.

Farra do feriado

A cidade de Bonito, a 300 km de , é o principal destino de ecoturismo de Mato Grosso do Sul e um dos principais do Brasil. Conhecida mundialmente pelas águas cristalinas, a cidade enfrentou uma fila de turistas no sábado (5). Com o feriadão, o município tem uma taxa de isolamento social de 37,06%, bem abaixo do recomendado. Autoridades de saúde orientam que a taxa de isolamento ideal seria entre 60% e 70%.

, a 239 km de Campo Grande, é vizinha de Bonito e também recebe turistas durante o feriado. No município, a taxa de isolamento chegou a 28,26%, de acordo com dados divulgados pela SES (Secretaria de Estado de Saúde).

A cidade de , a 194 km de Campo Grande, está entre os principais destinos turísticos de Mato Grosso do Sul. Com balneários com rios e cachoeiras, a cidade atraiu muitos turistas durante o feriado e tem uma taxa de isolamento de 31,40%. Na noite de domingo (6), imagens enviadas por um leitor ao Jornal Midiamax mostram a cidade lotada e aglomeração de pessoas na praça das Américas.

“Aqui não estão nem aí para a saúde, só querem lucrar [com o turismo]. E as famílias que perderam seus entes queridos para Covid-19? Isso é uma vergonha”, disse um morador.