Prematuras e ligadas pelo tórax, as gêmeas siamesas Maria Julia e Luna passam por diversos exames diariamente desde a na última sexta-feira (3), data do nascimento delas. Segundo médicos da Santa Casa de , que acompanham o caso, ainda não é possível afirmar se haverá a cirurgia de separação das bebês.

Juntas elas pesam 3,8 kg e segundo informações dos especialistas que as acompanham, elas podem ter corações individuais. Sobre a possibilidade de pulmões separados, não é possível dar nenhuma suposição.

O cirurgião torácico Diogo Gomes afirma que mesmo com exames, não há como ter precisão de quais órgãos estão juntos. “O que achamos pela série de exames já feitos, é que as crianças tem corações separados, mas não é 100% confirmado. O que importa no momento é nos preocupar com as vidas delas” informa.

Segundo o neonatologista Walter Perez, cada caso apresenta uma situação diferente. “Fizemos uma série de exames, mas não dá para dizer com certeza quais são os órgãos que elas tem ligados, nosso objetivo no momento é mante-las estáveis”, disse o médico que ainda discute com a equipe médica se haverá possibilidade de realizar a separação.

Sobre a previsão da cirurgia que pode separar as gêmeas, Diogo afirma que não tem como definir o melhor tempo para a separação. “O que estamos buscando hoje é a estabilidade para que elas ganhem a melhor condição possível, isso podem levar quatro meses ou mais, nosso objetivo no momento não é a separação, mas sim mante-las vivas”.

Estabilizar é a prioridade

O neonatologista Walter Perez explica que em primeiro momento eles deverão estabilizar o quadro das gêmeas, que estão sendo nutridas e ventiladas enquanto recebem a investigação. “Cirurgia de urgência normalmente não se faz, temos que esperar e estabilizar elas da melhor forma possível”.

Sem previsão de cirurgia, médicos tentam estabilizar gêmeas siamesas de Campo Grande
Médicos da Santa Casa esclarecem situação das gêmeas siamesas de Campo Grande.
Foto: Marcos Ermínio

Para o cirurgião torácico Diogo Gomes, ainda é preciso repetir os diversos exames. “Os exames já estão sendo realizados, temos muitas informações de evidências, mas nada concreto. Por mais que tenhamos exames, não dá para ter 100% de precisão, por isso precisamos estar preparados para caso façamos a cirurgia”, explica.

As gêmeas siamesas ainda estão na UTI Neonatal da Santa Casa de Campo Grande. Elas são mantidas entubadas com sistema de ventilação e recebem nutrição pela veia, assim como antibióticos. Todos os dias Maria Julia e Luna Vitória são submetidas a procedimentos investigatórios, realizados por múltiplas especialidades médicas acompanhando o caso. Os pais das meninas podem visitar a UTI sempre, pois o acesso livre e a mãe está recebendo acompanhamento psicológico.

Um caso entre 200 mil

Em Campo Grande, apenas três casos de gêmeos siameses aconteceram nos últimos seis anos. A estatística é que a cada 200 mil nascimentos, ocorra um caso de siameses.

A mãe das gêmeas, Alice Aparecida Silva Gill, lembra que descobriu da situação das filhas no primeiro ultrassom. “No dia oito de agosto do ano passado fiz meu primeiro ultrassom e já fui informada da situação das meninas que estavam interligadas”, conta.

Assim que souberam do caso, os médicos que acompanhavam a gestação tentaram contato com serviços nacionais, para dar suporte para a família. Eles conseguiram contato com um centro especializado em São Paulo, que aceitou cuidar do caso.

Entretanto, a mulher entrou em trabalho de parto nos dias seguintes e teve que dar à luz aos bebês em Campo Grande. “Conseguimos contato em São Paulo, no entanto a paciente entrou em trabalho de parto antes de levarmos ela para lá. Mesmo que esses bebês estivessem no centro de referência mundial neste tipo de caso, é preciso entender que a gravidade do caso independe de onde os bebês estão”, explica William Leite, obstetra responsável do caso.

Sobre o atendimento no hospital campo-grandense, ele informa que os procedimentos são o mesmo. “O que é preciso entender é que o padrão de atendimento da UTI Neonatal de Campo Grande é o mesmo de São Paulo. A diferença é apenas a experiência do serviço, pois lá já houveram 20 casos. Mas ainda é possível que busquemos colegas com mais experiencia, se for do entendimento da equipe”, declara.

Evitar falhas

O obstetra William Leite admite que a maior questão do momento é saber se eles poderão separar as crianças. “A literatura fala que nesses casos de nascimento, há apenas 18% de chances de sobrevivência desses bebês”.

“É muito importante dar tempo para analisarmos, fazer exames repetidos, para evitar falhas. Pelo fato delas serem prematuras, isso pode prejudicar um pouco no resultado do exame”, reconhece o obstetra. Ele explica que exames de imagens são sujeitos a interferências e interpretações e qualquer milímetro pode causa uma interferência.