A população mais vulnerável às formas graves do novo coronavírus, causador do Covid-19, idosos tem desafiados as recomendações de autoquarentena e seguem nas ruas da cidade. Na manhã desta quinta-feira (19), o Jornal Midiamax constatou presença significativa de idosos nas ruas, no transporte coletivo e nas paradas de ônibus de .

Tereza Lima Amorim concedeu entrevista ao Jornal Midiamax nesta manhã enquanto caminhava no Parque Belmar Fidalgo, na região Central. Com 57 anos, ela ainda não está oficialmente na faixa etária de idosos, mas reproduz o comportamento de muitos deles. Segundo ela, porém, os cuidados de limpar as mãos estão sendo tomados, mas foi ao parque para caminhar, porque também precisa se exercitar. “Estou tomando os cuidados de ficar longe e evitando contato”, declarou.

A situação é preocupante e revela que manter pessoas com mais de 60 anos em casa é um desafio sem precedentes, dado o ineditismo da pandemia: assim, como nas periferias, onde as informações sobre os riscos do Covid-19 são minimizados, há idosos que parecem não perceber a gravidade da atual situação.

As quatro mortes confirmadas por Covid-19 no Brasil até o momento – todas em São Paulo – são de idosos. Um quinto óbito seria também de um idoso, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Na Itália, que se tornou o novo epicentro do coronavírus, a idade média dos pacientes que morreram por conta da doença é de 79,5 anos: em um universo de 2.003 mortes – dentre as mais de 2,5 mil registradas no país europeu – 707 estavam na faixa etária de 70 a 79 anos, 852 na faixa de 80 a 89 anos e 198 com mais de 90 anos, segundo o ISS (Instituto Superior de Saúde da Itália).

Em Mato Grosso do Sul, aproximadamente 10% da população tem mais de 60 anos. Na Capital, o número estimado de pessoas entre 60 e 69 anos (Censo IBGE 2010) é de 19,5 mil, enquanto com 70 anos ou mais passa dos 15 mil.

Diante dos riscos, a médica geriatra Claudia Burlá, do Rio de Janeiro, em declaração ao programa Bem Estar, também deixou recado. “Esta é uma situação de guerra e não podemos, em hipótese alguma, tirar o idoso de dentro de casa. Se sair, a chance de ele se infectar é enorme. E o cuidado para que não seja infectado por pessoas que o visitem tem que ser redobrado”, diz.

Passe livre

Mais vulneráveis ao coronavírus, idosos teimam em sair às ruas em Campo Grande
Idosos desafiam recomendações e ainda frequentam ruas | Foto: Éser Cáceres | Midiamax

A Prefeitura de Campo Grande já avalia suspender temporariamente a gratuidade do passe de ônibus para idosos durante a pandemia de coronavírus. Segundo o prefeito (PSD), até sexta-feira (20), o fará um levantamento para verificar se houve redução no número de usuários idosos no transporte coletivo.

“Se não cair o número de idosos que estão usando, eu vou bloquear o passe deles”. O público é o principal no grupo de risco, caso contraia a doença. Muitos idosos também estariam relutando em se manterem em isolamento, por isso a preocupação. “O governo federal está decretando calamidade”.

Negação

O médico psiquiatra Jairo Bouer já explorou a questão em seu site e relatou até uma situação particular, com a avó de 95 anos, que reagiu mal à necessidade de autoquarentena. Porém, o médico aponta que é normal que os idosos, assim como as demais pessoas, reajam desde a completa negação da situação até ao pânico total e acrescenta que nenhum dos dois extremos é benéfico.

“É importante que a família garanta a autonomia dos mais velhos, mas que reforce a preocupação com a vida deles”, pontua.

Segundo Bouer, há algumas atitudes capazes de deixar o isolamento menos duro, como fazer as compras necessárias, presenteá-los com livros e demais itens que aumentem a opção de e entretenimento dentro de casa, além de facilitar o acesso às tecnologias, como a internet.

“Ouvir mais e falar menos pode ser uma excelente estratéfia para se relacionar com alguém que está com suas possibilidades de deslocamento limitadas”, conclui.