Com rotina de trabalho normal, alternativa de mães é deixar as crianças com avós
Ter uma criança em idade escolar durante o período da quarentena está sendo um desafio. Muitas escolas adotaram a suspensão das aulas presenciais como medida de enfrentamento ao coronavírus (covid-19) e os pequenos precisaram ficar em casa. Mas ninguém estava realmente preparado para esta situação, principalmente pais e mães que precisam manter a rotina de […]
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Ter uma criança em idade escolar durante o período da quarentena está sendo um desafio. Muitas escolas adotaram a suspensão das aulas presenciais como medida de enfrentamento ao coronavírus (covid-19) e os pequenos precisaram ficar em casa. Mas ninguém estava realmente preparado para esta situação, principalmente pais e mães que precisam manter a rotina de trabalho fora.
Alguns pais e mães conseguiram ficar em casa nos primeiros dias dos decretos de fechamento do comércio e suspensão das aulas presenciais, mas a reabertura gradual dos setores e a volta a rotina normal dos adultos e nem todo mundo tem rede de apoio.
Levar o filho para o trabalho não é uma opção, algumas acabam deixando os filhos com babás, que também eleva o risco, já que tanto a criança como a profissional acabam sendo expostas. Para a maioria, a única opção possível é contar com a ajuda dos avós, que geralmente são idosos e pode ser perigoso, afinal quase sempre eles fazem parte do grupo de risco para contágio da doença.
Inclusive, foi a alternativa usada por mim. Talvez por morar com a minha mãe e trabalhar meio período a situação seja um pouco amenizada. Meu filho Pedro, de 6 anos, passa as manhãs sob os cuidados da avó, que não é idosa, mas tem o bisavô junto com 80 anos, diabético e hipertenso, e a tarde estamos juntos para as rotinas da escola.
O período não está sendo fácil, tanto pelas adaptações na rotina quanto pelo risco de contágio por estar saindo de casa e ser usuária do transporte coletivo, realidade que muitas mães enfrentam e talvez estejam em uma situação ainda pior por não ter opção e nem com quem deixar o filho.
Para Viviane Matzenbacher, assistente administrativo, a opção foi deixar a filha adolescente com a tia que mora na mesma casa e está em teletrabalho. “Ela tem aula online no período da manhã e minha irmã está trabalhando de casa, mas não é fácil ficar distante nesse período para auxiliá-la. Ela ainda não tem muita intimidade com a tecnologia e passa o dia me mandando áudio para ajudá-la de longe”, diz.
A situação acaba sendo exaustiva e o medo de contaminar a filha é grande. “Me sinto exausta mentalmente, porque preciso estar no trabalho e não quero levar a doença para casa. Somos pelo menos 18 pessoas, com rotinas e trajetos diferentes, trabalhando, fora as pessoas que atendemos. É um período complicado”, relata.
‘Decisão difícil’
Mas nem sempre os avós estão perto, alguns moram em outras cidades e ficar longe das crias é realmente uma situação difícil para as mães. Mas em alguns casos a distância é uma medida necessária, porque a rotina de trabalho precisa ser mantida, principalmente se for a única fonte de renda da família.
Para Eliza Souza, 23 anos, a decisão de mandar os dois filhos – um menino de 5 e uma menina de 3 anos – para a casa dos avós no interior não foi fácil.
“Confesso que não foi fácil mandar eles para o interior. Ficar sozinha em casa é ruim, a gente sofre horrores, mas por outro lado entendo que foi o melhor. Toda a decisão foi conversada com todo mundo envolvido”, explica.
Ela é agente de atendimento em uma empresa de suporte técnico, e contou que no dia 21 de março, a família tomou o último café da manhã junto e então os pequenos foram levados para Aquidauana, a 143 quilômetros de Campo Grande, ficar com os avós paternos.
“Além dos avós paternos tem os bisavôs também, eles passam muito tempo junto. Apostam corridas. As atividades da escola para 15 dias foram feitas em 4. Nos vimos na Páscoa, mas estamos matando a saudade através de vídeo chamada, mas eles sentem falta de casa”, completa.
“Eles estão tristes também, mas entro de férias agora em maio e trago eles de volta. Não sou casada com o pai deles, mas ele também concordou com a opção de mandarmos as crianças para Aquidauana, por ser mais seguro para todos nesse momento”, relata
“A gente guarda tanto pra proteger eles. Eu sei que tá difícil agora, mas tudo vai valer a pena mais pra frente só pelo fato deles estarem vivos. Eu trabalho com mães que não tem essa oportunidade de proteger os filhos, e estão se arriscando bastante porque não tem outra opção. Rezo para que tudo isso acabe logo”, conclui.
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