Com aumento de 672% nos casos de Covid-19 em junho, São Gabriel endurece medidas e uso de máscara será obrigatório
São Gabriel do Oeste viu casos aumentarem quase 7 vezes apenas no mês de junho e volta a adotar restrições para conter Covid-19
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No dia 8 de maio, o município de São Gabriel do Oeste, a cerca de 130 km de Campo Grande, estreou no boletim epidemiológico da SES (Secretaria de Estado de Saúde) com o primeiro registro oficial de Covid-19, já por transmissão comunitária: um homem de 69 anos que não soube apontar como ocorreu sua contaminação. Passados 41 dias, a cidade já soma com ao menos 54 confirmações, de acordo com a Prefeitura.
Somente em junho, o aumento foi expressivo: eram 7 casos confirmados no dia 1º, contra os 54 atuais, um aumento de aproximadamente 672%. Com tantos casos em pouco tempo, olhares se voltam para a cidade com estimados 31 mil habitantes, que tem maior número de casos em números absolutos e a taxa de incidência já superior a 189 casos para cada 100 mil habitantes, a 11ª entre os 79 municípios de MS.
A curva de casos positivos em São Grabriel já é exponencial, apesar de algumas oscilações: somente no boletim epidemiológico apresentado na terça-feira (17), a cidade apresentou 10 novos casos. Nesta quarta-feira (18), foram 8. O boletim do município ainda aponta mais 20 casos suspeitos em investigação, dois quais dois já foram convertidos para positivo, conforme o boletim do município.
Logo no início da pandemia, houve determinação de lockdown, com apenas estabelecimentos essenciais abertos (mercados e farmácias) e toque de recolher. Houve, também, a criação do Comitê Municipal de Contingência para Prevenção e Enfrentamento ao Coronavírus, em 20 de março, que passou a discutir as ações municipais.
“Mas, com base nos números epidemiológicos, o comitê entendeu que precisava flexibilizar essa restrição, também pela questão da sobrevivência das pessoas. Posteriormente, flexibilizamos o toque de recolher. Contávamos com a conscientização das pessoas. Uma parte da população, infelizmente, seguiu vivendo na normalidade”, destacou o prefeito da cidade, Jeferson Tomazoni (PSDB), ao Jornal Midiamax.
De fato, a taxa de isolamento da localidade foi medida em 37,8% na última terça-feira, valor que se manteve semelhante nos dias anteriores e equivalentes a antes da pandemia. “No fim de semana tivemos muitas denúncias de pessoas violando os decretos em vigor, foi uma loucura. Muitos jovens, principalmente. Por isso, endurecer as medidas”, destacou Tomazoni.
Endurecimento em São Gabriel
O prefeito se refere a decreto que deve ser publicado na manhã desta quinta-feira (18), que volta a determinar 20h como horário-limite de circulação de pessoas pela cidade. Somente comércios com serviço de entrega podem funcionar – e até às 22h. O uso de máscaras de proteção segue obrigatório em prédios públicos, mas, agora, também determinará o uso em vias públicas, com retirada gratuita no prédio da Prefeitura e no CRAS (Centro de Referência em Assistência Social). Além disso, o município intensificou as barreiras sanitárias e restringiu o acesso à cidade por apenas três entradas.
“Estamos fazendo isso porque, infelizmente, as pessoas não tomaram consciência. Recebemos pelo menos denúncias de três pessoas que estão com a doença saindo de casa, indo ao mercado, na rua. Mandaram foto para mim. Uma encarregada da vigilância entrou em contato com um deles e foi bloqueada no celular, o que obrigou que fôssemos até a residência. Por conta disso, cada paciente que tiver diagnóstico positivo ou que estiver em isolamento por suspeita precisará assinar um termo de compromisso para ficar isolado. Se isso for violado, ele vai ser enquadrado no 268 do Código Penal”, pontuou Tomazoni.
O artigo em questão determina pena de detenção, de um mês a um ano, além de multa, para quem “infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”. A pena é aumentada em um terço “se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro”. Este é o dispositivo legal a que as prefeitura Brasil a fora têm recorrido para dar mais rigor ao desrespeito das normas municipais, a propósito.
Bares e lanchonetes só poderão ter atendimento a clientes na área interna, com lotação máxima de 30%. “Estamos fazendo desta forma para desencorajar a permanência, porque notamos que havia muita aglomeração nas áreas externas. Cliente também só entram com máscara e os estabelecimentos precisam fornecer luvas e garantir distanciamento das mesas”, descreveu.
O decreto também vai determinar o fechamento das instituições de ensino particular que estavam em funcionamento. “Somente academias e templos religiosos não serão afetados, porque foram considerados como essenciais pelo Governo Federal. Mas fizemos uma série de recomendações, para terem no máximo dez pessoas. A grande maioria desses estabelecimentos devem colaborar”.
A duração das medidas mais severas devem se manter por 15 dias, mas há possibilidade de prorrogação, com base nos indicadores municipais deliberados pelo comitê de enfrentamento ao coronavírus”.
Transmissão comunitária
A chegada do coronavírus ao município permanece um mistério, já que o primeiro caso oficial ja ocorreu por transmissão comunitária. Ao Jornal Midiamax, Tomazoni também afirmou que não é possível atribuir se o grande fluxo de caminhões na BR-163, tenha relação com o crescimento dos números.
“É muito difícil apontar isso. Particularmente, não acredito. Vejo que o desrespeito às medidas preventivas e ao isolamento sociais são mais fortes, temos muitos jovens inconsequentes. Os números também são altos porque houve muita infecção entre familiares, temos uma família com 7 pessoas isoladas, três confirmados e outros com grande chance de positivarem. Acredito que a circulação do vírus tem mais a ver com essa inconsequência”, descreveu.
Tomazoni também descarta que as duas plantas frigoríficas na cidade, que têm indústria de abate de carne suína, tenham ocasionado algum surto, aos moldes do que ocorreu em Dourados e em Guia Lopes da Laguna. “Em duas grandes indústrias de São Gabriel do Oeste, que empregam cerca de 2 mil funcionários, não tínhamos casos até poucos dias atrás. Agora já temos, mas, ainda assim, elas montaram um fronte de guerra com medidas de biossegurança, até porque paralisar essas plantas por 14 dias traria um prejuízo enorme a elas. A indústria está tomando todos os cuidados. O problema, infelizmente é a população, sobretudo a jovem, que anda sem máscara e não faz isolamento”, considerou.
Internações e testagens
Dos 52 pacientes confirmados até a tarde da quarta-feira, 9 já estavam curados. Entre os casos ativos, a maioria segue em isolamento domiciliar e apenas três estão em leitos clínicos do Hospital Municipal. Um paciente jovem, porém, com comorbidades, está em um leito clínico de Campo Grande. Os últimos casos são de pessoas que tiveram contato com casos confirmados.
O município está na macrorregião de Campo Grande e não dispõe de UTI (Unidades de Terapia Intensiva), assim como nenhum dos municípios da região, como Bandeirantes, Rio Verde, Pedro Gomes, Sonora e até Coxim, onde há um Hospital Regional do Estado. As regulações são para as UTI de Campo Grande. Assim, uma das primeiras medidas do município foi criar uma ala em um prédio anexo ao Hospital Municipal, no qual 19 leitos foram criados especificamente para pacientes com Covid-19.
“Todos os casos de doenças respiratórias são encaminhadas para lá, e os profissionais daquele setor não atuam no Hospital. Também temos um setor de internação que é separado. Quer dizer, são dois setores distintos”, pontuou.
Tomazoni também reforçou a atuação das barreiras sanitárias. “É um serviço mais de conscientização, na verdade, mas que também serve para regular os acessos à cidade pela BR. A Prefeitura também está fazendo a desinfecção de áreas de grande circulação, como bancos, repartições públicas, o próprio hospital”, detalhou.
A testagem também aumentou em São Gabriel do Oeste. Segundo Tomazoni, há uma média de 60 consultas por período. O exame RT-PCR, porém, é feito em pacientes que apresentam pelo menos dois sintomas, conforme preconiza a SES. Além disso, um laboratório particular também está disponibilizando o teste rápido. “Vários desses positivos vieram de notificações desse laboratório. Como eles entram na estatística, os números aumentaram”, pontua.
“O que nós temos pedido é conscientização. A população precisa entender que precisamos ficar em casa. Os serviços que estamos deixando de usufruir vão continuar, por isso temos que preservar a vida. A única maneira é tomarmos cuidados necessário e ficar em casa, usar a máscara e seguir com as demais prevenções. Jovens precisam entender que até podem ser mais saudáveis, mas seus pais, não”, concluiu.
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