#CG121: Dos ensinamentos da pandemia, aprendemos a dar valor aos alimentos naturais e orgânicos

Seja pela ausência de agrotóxicos ou para evitar filas enormes nos supermercados, 2020 tem sido um ano em que os campo-grandenses optaram por alimentos orgânicos e de pequenos produtores. A demanda é crescente, mesmo com a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus. Para quem vende, a saída foi se organizar com deliverys e […]

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Seja pela ausência de agrotóxicos ou para evitar filas enormes nos supermercados, 2020 tem sido um ano em que os campo-grandenses optaram por alimentos orgânicos e de pequenos produtores. A demanda é crescente, mesmo com a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus. Para quem vende, a saída foi se organizar com deliverys e contar com a fidelidade de clientes antigos. Para quem compra, a opção pelos “naturais” é uma segurança adicional que aumenta a imunidade e ajuda a repensar velhos hábitos de consumo.

O produtor de orgânicos Jair Azambuja trabalhava em duas feiras antes da pandemia, na Praça dos Imigrantes e na Praça do Rádio. Com a proibição das feiras livres, em março, Jair teve de se reinventar, já que o contato com o público fazia parte da cultura de feiras livres. “Criei um grupo no WhatsApp para fazer deliverys, mas o maior problema do início foi a mudança na forma de comprar, porque como as pessoas estavam em casa, o consumo não era mais por semana, e sim diário ou a cada dois dias, e eu tinha que entregar”, explica.

Jair decidiu, então, disponibilizar uma lista com as verduras, frutas e legumes – que têm produção sazonal – para que o cliente montasse sua própria cesta. “Hoje em dia a gente já tem ideia do que e de quanto precisa produzir por semana. Algumas pessoas não comiam legumes mais ‘complexos’, que precisam de mais tempo para cozinhar ou refogar, como os tubérculos, por exemplo. Agora que está todo mundo em casa, saíram do patamar de ‘saladinha rápida’”.

O ritmo de produção acompanha o das vendas. Devido a maioria do público ser conhecido pelos feirantes, por serem clientes há anos, Jair afirma que a diversidade na compra ajuda a não estocar os produtos, entregar alimentos frescos e já ter 80% da produção vendida antes do plantio. “Na Praça dos Imigrantes participamos da Feira Vegana, que é um público específico, mas também temos clientes de diversas culturas alimentares, como japoneses, árabes e alemães”, explica.

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Jair vende produtos orgânicos na Praça do Rádio, todas as quartas-feiras. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a volta das feiras ao ar livre, as rotinas não retomaram completamente. “Todos são clientes conhecidos, viram nossos amigos, e na Praça do Rádio agora ninguém mais fica ‘fazendo hora’ na feira. As pessoas compram e vão embora”. A Feira Vegana optou por não retomar as atividades ainda. “É uma questão de respeito ao ativismo deles, e preferimos assim”, justifica Jair.

Também comerciante de produtos orgânicos, Jéssica Vianna, da quitanda Orgânicos da Jéh, observou um aumento significante no consumo de alimentos que são popularmente conhecidos como capazes de melhorar a imunidade. “Como nosso foco são hortifrutis in natura, alguns alimentos como couve, rúcula, cebola, cenoura, gengibre, açafrão e até os que não são de mercearia, mas orgânicos, como o própolis e mel, tiveram aumento na procura”.

A loja funciona no mesmo espaço onde Jéssica mora com a família, e por isso, há cinco meses atendem sem circulação de clientes no interior. A saída foi se organizar no formato delivery. “No início da pandemia houve uma procura absurda, mas creio que por conta do fechamento de muitos comércios. Durante os dois primeiros meses não demos conta de fazer todos os atendimentos, alguns tiveram de ser dispensados”, relata.

Feirante há 28 anos, Elaine Caramalac escolheu a Praça Eloide Lima, no Bairro Cidade Jardim, para continuar vendendo hortaliças e frutas. Antes, ela estava em vários pontos da cidade, mas com as novas regras impostas pelos decretos municipais, ela explica que os feirantes se distribuíram por Campo Grande e migraram cada um para uma praça ou local aberto próximo de suas casas. “Aqui teve bastante aceitação, mesmo com a pandemia, então decidimos ficar. Começamos cedo, às 7h, e nas segundas e sextas o funcionamento é o dia todo. As pessoas preferem comprar aqui porque é ao ar livre e não tem o movimento do supermercado, com filas e muitas pessoas próximas”.

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Elaine é feirante há 28 anos e há 5 meses escolheu novo ponto para montar sua barraquinha. (Foto: Henrique Arakaki)

Na feira de artesanato e produtos naturais do Pátio Central Shopping, Caroline Stephanie Adames, da Mel e Queijos MS, vende hortaliças orgânicas e mel há três anos. O mel é produzido pelo pai, Adriano Adames, que está no ramo da apicultura há mais de 30 anos. Na pandemia, ela percebeu a preocupação do público em desacelerar da correria do dia-a-dia, com reflexos nos hábitos alimentares. “A procura está sendo bem grande nessa pandemia, porque as pessoas estão tendo a visão de que não adianta utilizar o mel e outros produtos naturais só quando se está doente. As pessoas estão entendendo que os benefícios da utilização contínua são incalculáveis”, explica.

Apesar de não conseguir mensurar a porcentagem de aumento nas vendas, Caroline garante que surgiram novos perfis de clientes. “Alguns já consumiam, mas não tão regularmente. A disponibilidade de uma feirinha de produtos naturais no centro incentivou muito o consumo saudável das pessoas que circulam e trabalham na região”. A feira de agricultura familiar acontece todas as terças-feiras, seguindo o horário de funcionamento do shopping, que é das 9h às 18h. Durante a pandemia, estão atendendo com 30% da capacidade dos feirantes, em função de que a maioria deles são idosos.

Novos hábitos

A pandemia fez Marly Mendes, de 64 anos, mudar radicalmente os hábitos alimentares. Ela abriu mão de carboidratos e açúcares, como pães, doces, arroz e bolo. Por fazer parte do grupo de risco, ela diz ter ficado com medo de precisar ir ao médico. “Ano passado tive labirintite metabólica por causa do açúcar e estava pré-diabética. A hipertensão e gordura são fatores de risco, e antes da pandemia já estava com acompanhamento nutricional, mas sem levar muito a sério”.

No cardápio agora, apenas sucos, frutas, chás e carboidratos leves, como crepioca e torradas. Os horários de café da manhã, almoço, janta e lanches também são seguidos à risca. “Gostava de comer ‘gordices’ e vivo brigando com a balança, entretanto, até agora já emagreci oito quilos”, afirma.

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Nutróloga explica que, quem aproveitar esse momento, colherá frutos da mudança de comportamento no futuro. (Foto: Henrique Arakaki)

A nutricionista Neuza Durães dos Santos afirma que, com a pandemia, muitas pessoas foram influenciadas a adotar outros hábitos alimentares por estarem em casa, inclusive no preparo. “Muitas famílias não tinham costume de fazer, em casa, várias refeições ao dia. Ter hábitos mais saudáveis não foi de livre e espontânea vontade, é um alerta que essa pandemia veio trazer. Quem aproveitar esse momento, colherá frutos da mudança de comportamento”.

Para ela, a alimentação pode influenciar psicologicamente no enfrentamento de problemas causados pelo isolamento social, como estresse e ansiedade. “É no alimento que existem substância bioquímicas que interferem nas conexões sinápticas que auxiliam no comportamento psicológico mais tranquilo, além de causarem sensação de aconchego, como “a comida da avó”, por exemplo”.

Alimentos que contenham ferro, cálcio, vitaminas A, E e do complexo B, vêm sendo priorizados, segundo a nutróloga, para aumentarem a imunidade e ajudarem na prevenção de doenças transmitidas por vírus ou bactérias.

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