#CG121: Do entregador ao policial, pandemia reforça respeito a profissionais da ‘linha de frente’
A pandemia do coronavírus (Covid-19) reforçou a importância do trabalho de médicos, enfermeiros, pesquisadores e profissionais da área da saúde em geral, mas também trouxe mais reconhecimento a outros setores do mercado de trabalho, que tiveram neste contexto de isolamento a oportunidade para mostrar porque são essenciais. Em Campo Grande, de motoentregadores a policiais, a […]
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A pandemia do coronavírus (Covid-19) reforçou a importância do trabalho de médicos, enfermeiros, pesquisadores e profissionais da área da saúde em geral, mas também trouxe mais reconhecimento a outros setores do mercado de trabalho, que tiveram neste contexto de isolamento a oportunidade para mostrar porque são essenciais. Em Campo Grande, de motoentregadores a policiais, a linha de frente fora dos hospitais é formada por trabalhadores que se arriscam pelo próximo.
Aos 28 anos, Luiz Vinicius Duarte é tenente da Polícia Militar e está no lotado na Força Tática da 10ª Companhia Independente. Há seis anos na corporação, ele conta que a pandemia transformou sua rotina, deixando o trabalho ainda mais perigoso. “A gente se prepara para lidar com o perigo, mas hoje, o coronavírus é um perigo mais latente do que um confronto armado, porque em um conflito, você sabe com quem está lidando. Já o vírus é um inimigo que não podemos ver”, disse.
Os protocolos de biossegurança exigem série de medidas para evitar contaminação, como higienização adequada, uso constante de luvas, máscaras e álcool em gel durante abordagem, bem como desinfecção regular das viaturas. Mas toda a exposição diária nas ruas também traz impactos para a vida pessoal. “A farda não pode mais entrar em casa”, comenta. “Quando chegou, tenho que tirar o fardamento antes de entrar, pois tenho pais de idade e não posso arriscar. Na rua, a gente tem contato com todo o tipo de pessoa”.
Por situação parecida passa Ana Paula Barreto, de 32 anos, gestora operacional da região do Anhanduizinho pela GCM (Guarda Civil Metropolitana). Casada e mãe de duas crianças, ela disse que também evita expor familiares em contato com a farda. “Tenho dois bebês, um de três e outro de cinco anos, então tenho que tirar [o uniforme] antes”. Ela uma das profissionais que lida diretamente com as operações “Toque de Recolher”, que vêm sendo realizadas desde o início da pandemia.
O objetivo do trabalho, realizado em parceria com outras forças de segurança e órgãos municipais de fiscalização, é garantir que os decretos de prevenção sejam cumpridos. Segundo ela, neste sentido a missão dos guardas fica ainda mais difícil. “Nosso trabalho mais do que dobrou, porque agora temos também essa parte de orientação, o que é muito mais complicado do que abordagens a suspeitos. Estamos lidando com gente de bem, que quer trabalhar, que precisa se manter e se arriscar, mas temos que convencê-los da necessidade de respeitar decretos”, pontua.
Oportunidade
O motoentregador Diego de Souza Fernandes, de 29 anos, acredita que a pandemia trouxe mais respeito à categoria. Ele conta que iniciou no ramo há oito meses. No início do ano, passou a fazer as entregas de moto, mas logo em seguida conseguiu trabalho em uma conveniência. No entanto, a empresa passou por dificuldades, ele foi dispensado e voltou a trabalhar com aplicativos, sendo recentemente contratado por uma lanchonete. “Essa profissão tem sido essencial para ajudar a manter o mercado”, conta.
Para ele, a motoentrega garantiu que comércios pequenos sobrevivessem e abriu as portas para pessoas que foram demitidas durante a pandemia. “É um trabalho simples, que não precisa de muita experiência nem indicação, tendo uma moto, já consegue trabalhar”, pontua. Tal cenário fez com que os entregadores fossem vistos de outra forma. “Agora temos mais respeito”.
Em outro elo da corrente atua o motorista Cláudio Lino, de 41 anos, que trabalha na coleta de lixo residencial. Ele reclamou da falta de consideração com os trabalhadores da classe, e disse que a pandemia mostrou que muita coisa ainda precisa mudar. “Não respeitam a gente, principalmente no trânsito”, comenta. O maior problema, afirma, é que os motoristas se irritam com o caminhão da coleta.
“A gente não quer atrapalhar, queremos apenas seguir o fluxo”. Por este motivo, além de todos os protocolos de segurança e higienização, ele e os colegas ainda precisam ser fortes e não se deixar abalar pelas “cornetadas” constantes nas ruas. “Não podemos falar nada, porque piora. Então temos que ficar quietos e tentar ignorar, mas isso deixa a gente muito chateado”, lamentou.
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